O Dia Mundial do Habitat, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1985, foi celebrado no Santuário Cristo Redentor, no alto do Corcovado, com missa presidida pelo arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, em meio à programação pelos 94 anos do monumento, no dia 6 de outubro. A ONU convida governos, instituições, comunidades e cidadãos a pensarem coletivamente sobre os desafios e soluções para tornar as cidades mais justas, resilientes e inclusivas.
A celebração reforçou a importância da moradia digna como direito fundamental e contribuiu com a reflexão global sobre o estado das cidades e o direito fundamental de todos a uma moradia digna, assegurado por tratados internacionais. Este ano, sob o tema “Resposta às Crises Urbanas” (Urban Crisis Response).
O evento reuniu autoridades, agentes pastorais, líderes religiosos e representantes de movimentos sociais também para celebrar os 48 anos de existência da Pastoral de Favelas. A liturgia contou com o Coral Canto da Rua, formado por pessoas com trajetória de rua, acompanhadas pela Pastoral do Povo da Rua, e que emocionou a todos com sua participação comovente e cheia de simbolismo.
Entre os concelebrantes estavam Dom José Maria Pereira, bispo auxiliar e referencial do Vicariato Episcopal para a Caridade Social, padre Omar Raposo, reitor do Santuário do Cristo Redentor, monsenhor Manuel Manangão, vigário episcopal para a Caridade Social, monsenhor Luiz Antônio Pereira Lopes, coordenador arquidiocesano da Pastoral da Moradia e Favela, e os padres Cristiano Holtz e João Damasceno.
O reitor do Santuário Cristo Redentor, padre Omar Raposo, saudou os participantes e destacou a alegria de acolher agentes das pastorais sociais no monumento, símbolo da fé e da solidariedade para o Brasil e para o mundo:
“Na pandemia, uma pessoa em situação de rua me contou que, nos momentos de maior sofrimento, olhava para o Cristo e encontrava consolo ao saber que Ele estava de braços abertos para lhe abraçar. O Santuário do Cristo Redentor abraça com generosidade a causa da Pastoral da Moradia e Favela e coloca esse símbolo de fé e esperança a serviço da promoção da moradia digna e da justiça social”, afirmou.
Durante a homilia, o Cardeal Tempesta destacou a responsabilidade cristã com o cuidado da “Casa Comum”, especialmente em relação aos mais vulneráveis diante de tantas situações de violência e injustiça.
“As nossas omissões e medos podem gerar grandes consequências para a sociedade e para o mundo em que vivemos. Enfrentamos tempos difíceis, tanto nas questões ecológicas quanto nas sociais. No Dia Mundial do Habitat, somos convidados a contemplar a vida e a cuidar do nosso planeta com mais responsabilidade. A parábola do bom samaritano nos inspira a fazer o bem sem distinções, acolhendo os mais necessitados e levando cada pessoa a se sentir amada e valorizada. Que possamos reconhecer, cada vez mais, a nossa missão, enquanto cristãos, enquanto Igreja, enquanto sociedade, e nos comprometer com a construção de um mundo mais justo, mais humano e mais fraterno.”
Um dos pontos altos do evento foi o anúncio arquidiocesano do tema da Campanha da Fraternidade de 2026: “Fraternidade e Moradia”, com o lema bíblico “Ele veio morar entre nós” (Jo 1,14). Inspirada na presença amorosa de Jesus entre os pobres e marginalizados, a campanha convida a Igreja e toda a sociedade a olharem com compaixão e responsabilidade para a realidade da moradia no Brasil, ainda profundamente marcada pela desigualdade, precariedade e negação de direitos básicos.
Diante da situação de milhares de brasileiros sem moradia digna, a Igreja do Brasil lançou, em 21 de setembro de 2023, a Pastoral da Moradia e Favela, que, desde 2022, vinha sendo construída com o propósito de articular e fortalecer, em nível nacional, a presença e a ação evangelizadora da Igreja junto às populações que vivem em favelas, ocupações e periferias urbanas. A data coincide com a festa litúrgica de Santa Efigênia, padroeira da moradia.
Essa nova configuração pastoral busca integrar experiências já consolidadas e criar novas equipes nas dioceses, promovendo uma atuação conjunta na defesa da vida, da justiça social e do direito à cidade. Em sintonia com essa iniciativa, a partir deste ano, a Pastoral de Favelas da Arquidiocese do Rio de Janeiro passa a adotar a nova nomenclatura: Pastoral da Moradia e Favela. A pastoral reafirma, assim, seu compromisso com a luta por justiça habitacional e sua integração à ação pastoral nacional.
Monsenhor Luiz Antônio destacou que os 48 anos da Pastoral de Favelas estão marcados pelo compromisso com o direito à moradia e à vida digna nas favelas e periferias urbanas, expressão do cuidado pastoral que nasce do chão das favelas e comunidades, onde a presença da Igreja se faz próxima, sensível e comprometida com a vida.
“A Pastoral da Moradia e Favela escuta os clamores das periferias e semeia dignidade onde antes havia abandono. Louvemos a Deus pelo nascimento desta Pastoral, sinal concreto da solicitude da Igreja diante do sofrimento de tantas famílias sem teto. É a fé que se encarna na realidade, oferecendo não apenas consolo, mas também voz, força e esperança àqueles que lutam diariamente por condições mínimas de dignidade”, afirmou.
Em seguida, expressou sua gratidão ao Cardeal Tempesta pela presença pastoral e incansável dedicação às causas sociais.
“A dedicação de Dom Orani tem sido fonte de inspiração e força para todos os que lutam por justiça e dignidade nas periferias urbanas. Seu testemunho de fé e compromisso com os mais pobres fortalece a missão da Igreja e ilumina os caminhos da fraternidade”, destacou monsenhor Luiz Antônio.
Encerrando o dia de celebrações, o Cristo Redentor foi iluminado com a logo da Pastoral da Moradia e Favela, um gesto simbólico que reafirma a união entre a espiritualidade cristã e as causas populares em defesa da dignidade de todos.
“A presença da logo no monumento, que é símbolo de acolhimento e esperança, renova o chamado para que sejamos luz no mundo, ao lado daqueles que mais sofrem com a exclusão, a pobreza e a negação de direitos básicos, construindo, com coragem e solidariedade, uma sociedade onde todos tenham lugar, voz e lar”, destacou padre Omar Raposo.
Esse gesto simbólico eleva aos céus o clamor das favelas, comunidades e periferias do país, tornando visível o que tantas vezes é invisibilizado. É a fé que se coloca a serviço da transformação social, reafirmando que cuidar da moradia é cuidar da dignidade humana.
Cláudio Santos
Pastoral da Moradia e Favela