Imaculada Conceição: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1,28)

Celebramos nesta segunda-feira, dia 8 de dezembro, a Solenidade litúrgica da Imaculada Conceição. Essa solenidade ocorre dentro do tempo do Advento, em preparação ao Natal do Senhor. Nossa Senhora é aquela que foi concebida sem pecado, a cheia de graça, conforme o Anjo lhe saudou, ou seja, cheia da graça do Espírito Santo. Por isso, ela foi escolhida dentre tantas moças de seu tempo para gerar o Filho de Deus.

A Solenidade da Imaculada Conceição ocorre num tempo muito bonito, pois, ao mesmo tempo que ao longo desse mês recordamos o nascimento do Filho, celebramos a Imaculada Conceição da Virgem Maria, recordando que ela foi concebida sem pecado original. No mesmo mês celebramos a Mãe e o Filho e recordamos a concepção da Virgem Maria. Deus escolheu Nossa Senhora; mesmo com um pouco de medo, ela aceita e abraça o projeto de Deus para a sua vida.

A Solenidade da Imaculada Conceição é um dogma, ou seja, uma verdade de fé. A Igreja, após muito estudo, chega à conclusão e decreta o dogma baseado nas Escrituras e na tradição da Igreja. Cada um de nós nasce com a mancha do pecado original, e Nossa Senhora foi preservada. Através do nosso batismo somos purificados dessa mancha do pecado original, mas o ser humano tem a tendência de pecar novamente, por isso a necessidade da confissão sacramental. Nossa Senhora, ao contrário, além de ser preservada da mancha do pecado original, não pecou ao longo de sua vida; é a cheia de graça.

A Solenidade da Imaculada Conceição é sempre celebrada no dia 8 de dezembro, independente do dia da semana em que ocorra, ou seja, ano passado ocorreu num domingo e a celebração do Segundo Domingo do Advento deu lugar à celebração da Solenidade da Imaculada. Em algumas cidades do Brasil é feriado, por conta de Nossa Senhora Imaculada Conceição ser padroeira da cidade; antigamente, inclusive, no Brasil era feriado nacional, mas, ao passar dos anos, foi suprimido. Em alguns lugares do mundo é feriado municipal e o dia da Imaculada Conceição é preceito.

Dessa forma, mesmo não sendo feriado nacional ou no município onde moramos, no dia da Solenidade da Imaculada Conceição seria importante que todos os católicos pudessem participar da Santa Missa, pois é um dia de festa e de agradecer a proteção materna de Maria sobre todos nós. Conforme dissemos acima, essa festa já nos introduz no clima do Natal e do tempo do Advento que celebramos. Estamos em meio à Novena de Natal e compreendemos, através dessa solenidade, por que Deus escolheu Maria para ser a Mãe de Jesus.

O Anjo, quando saúda Nossa Senhora, diz: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1,28). Maria ficou perturbada, na verdade um pouco assustada com a saudação do Anjo, pois não esperava que o Anjo do Senhor fosse lhe aparecer. Nossa Senhora era cheia de graça diante de Deus, por isso foi escolhida para gerar o Salvador.

O dogma da Imaculada Conceição foi proclamado em 1854, e Nossa Senhora tem seu lugar na história da salvação e nos aponta o caminho até Jesus. Maria nos ensina a fazer sempre a vontade de Deus e a dizer o “sim”, do mesmo modo que ela disse.

Procuremos, a exemplo de Nossa Senhora, renunciar tudo aquilo que nos afasta de Deus e procuremos trilhar uma vida reta, longe do pecado, ouvindo sempre a voz do Espírito Santo. Sejamos mensageiros da paz e anunciemos uns aos outros o Evangelho de Cristo. Do mesmo modo que Nossa Senhora foi rapidamente visitar Isabel e ao seu filho, coloquemo-nos sempre a serviço uns dos outros. Ao se aproximar o Natal do Senhor, nos preparemos para acolher o Senhor que veio, vem e virá. Estejamos em oração e vigilância ao longo desse tempo do Advento e tenhamos em nós a mesma abertura de Nossa Senhora ao dizer sim a Deus pelo Anjo.

No ano de 1304, o Papa Bento XI reuniu alguns teólogos na Universidade de Paris para terminar as questões da escola sobre a Imaculada Conceição da Virgem. Ou seja, o dogma só foi proclamado em 1854, século dezenove, e, desde muito antes, já no século quatorze, discutiam-se as questões teológicas que envolviam o dogma da Imaculada Conceição. Por isso, observamos que nada na Igreja é colocado de qualquer forma e nem obriga os fiéis a acreditarem em tal dogma, mas, para se proclamar um dogma, levam-se anos de estudo.

O franciscano João Duns Escoto foi quem solucionou a dificuldade e mostrou que era conveniente que Deus preservasse Nossa Senhora do pecado original, pois a Santíssima Virgem era destinada a ser Mãe do Filho de Deus. Isso é possível para a onipotência de Deus; portanto, o Senhor, de fato, a preservou, antecipando-lhe os frutos da redenção de Cristo.

São José de Anchieta propagou a fé na Imaculada Conceição aqui no Brasil; desde o início da colonização, dedicou igrejas a esse ministério. Logo em seguida do ocorrido em Paris, a festa da Imaculada Conceição entrou no calendário romano.

Em 1830, a Virgem Maria aparece a Santa Catarina Labouré, pedindo que se cunhasse uma medalha com a oração: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós.” Essa medalha se espalhou por todo o mundo e, do mesmo modo, propagou-se a devoção a Nossa Senhora Imaculada. Com isso, os bispos solicitaram ao Papa a definição do dogma que era vivenciado entre os fiéis.

Diante disso, em 8 de dezembro de 1854, através da bula Ineffabilis Deus, do Papa Pio IX, a Igreja oficialmente reconheceu e declarou solenemente como dogma: “Maria isenta do pecado original.” Em 1858, Nossa Senhora aparece em Lourdes e confirmou a definição dogmática e a fé do povo, dizendo para Santa Bernadete e, consequentemente, para todos nós: “Eu sou a Imaculada Conceição.”

Celebremos com alegria a Solenidade da Imaculada Conceição e peçamos a proteção de Nossa Senhora para todos nós, que possamos vencer as tentações do mal e colocar a vontade de Deus em prática na nossa vida. Amém.

Por isso, com fé filial na Mãe de Deus e nossa, rezemos a oração: “Mãe, fostes concebida sem a mancha do pecado, mas, para além desse dom sobrenatural, ao seguir o Cristo de modo perfeito, conceda a nós a força para vencer os pecados e nos tornarmos cada vez mais a imagem e semelhança de seu Filho Jesus. Amém.”

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

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