“O FNS resgatou em nós a emancipação cidadã, fomentando e fortalecendo o nosso desenvolvimento comunitário, respondendo às reais necessidades do nosso grupo social, valorizando nossas práticas de Economia Solidária e respeitando a nossa cultura local”.
Foi com este relato que a reunião do Conselho Gestor do Fundo Nacional de Solidariedade (FNS) foi aberta, na última quinta-feira, 22 de agosto, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Este é um trecho de uma carta enviada pela Associação de Agricultores Familiares da Comunidade de Quilombo Passagem de Areia, em Caetité (BA), ao Departamento Social da entidade, em agradecimento ao apoio dado ao projeto apresentado por ocasião da Campanha da Fraternidade 2017
Após a reunião, que foi a segunda do Conselho Gestor neste ano, o bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ) e secretário-geral da entidade, dom Joel Portella Amado, manifestou-se orgulhoso pelo processo de partilha dos recursos arrecadados com a Campanha da Fraternidade.
Dom Joel ressaltou que a escolha das iniciativas que serão apoiadas com os recursos arrecadados na Coleta da Solidariedade, realizada no Domingo de Ramos, passa por “um processo bastante sério de partilha dos bens em prol dos mais necessitados”. Para ele, “o Fundo Nacional de Solidariedade é um orgulho para a CNBB. Dá uma alegria e dá esperança”, afirmou.
Nesta segunda reunião do Conselho Gestor do Fundo Nacional de Solidariedade, foram analisados 118 projetos e aprovados 56. As iniciativas selecionadas estão voltadas para a formação, garantia de direitos e geração de renda, três eixos articulados entre si.
“A equipe procura atender às três linhas, mas diante do estado muitas vezes grave, urgente, eu diria até humanitário, nós estamos dando atenção ao terceiro eixo, que é o eixo da geração de renda, que, em alguns casos, significa colocar comida na mesa”, revela dom Joel Portella.
O secretário-geral da CNBB se impressionou com a capacidade de as comunidades fazerem tanto com poucos recursos. “Quando você vai analisando o projeto, fica impressionado como que as comunidades, com essa quantia pequena, diante de projetos milionários ou bilionários que a gente vê por aí, e se pergunta ‘como é que esse pessoal pode fazer tanta coisa?’”.
O responsável pelo Departamento Social da CNBB, Franklin Ribeiro Queiroz, conta que, em média, são 200 projetos apoiados por ano, num valor em torno de 15 a 20 mil reais cada. “A transformação que eles nos reportam através desse pequeno recurso são coisas que nos surpreendem”, afirma.
Franklin também ressalta a origem do recurso, recordando a “oferta da viúva”, na passagem bíblica de Lucas 21: “Quando esse recurso chega aqui, ele já vem com esta carga de amor que é colocado na doação. É isso que multiplica esse dinheiro e faz esse efeito das entidades tão agradecidas por um recurso que faz uma diferença gigante na vida deles, pouco dinheiro que faz muito”.
“Eles agradecem. Receberam 15 mil reais num mundo que, na corrupção, torra milhões e bilhões. Esse pessoal, contando centavo por centavo, com pouco dinheiro comparado ao que a corrupção leva embora, faz milagres”, partilha dom Joel.
O secretário-geral da CNBB ainda destacou o processo de seleção dos projetos: a documentação exigida, a análise técnica pela equipe do Departamento Social e avaliação do próprio Conselho Gestor do FNS, “formado por representantes de geografias diferentes e de visões diferentes – muitas vezes aquilo que não está no papel, o conselheiro conhece a realidade. E ele pode ajudar com seu conhecimento pessoal”.
Dom Helder Câmara e dom Luciano Mendes de Almeida
Às vésperas de comemorar a memória da Páscoa de dom Helder Câmara e de dom Luciano Mendes de Almeida, que faleceram em 27 agosto, de anos diferentes, dom Joel ressalta a alegria e a esperança como sinais da relação do FNS na atuação da Igreja no Brasil com a vida dos dois Servos de Deus: “No momento em que estamos celebrando Luciano Mendes de Almeida, a páscoa dele e a de dom Helder, a gente diz assim: ‘posso ajudar?’”.
A expressão foi destacada por Franklin Ribeiro, que recordou que dom Luciano sempre dizia a quem chegava “Posso ajudar?”. “E o Fundo Nacional de Solidariedade é isso, quando você chega com uma necessidade a gente pergunta em que pode ajudar. E a gente vai ver as condições para fazer isso”, conta.
Dom Joel também lembrou de um fato, neste caso relacionado a dom Helder, quando por ocasião do Congresso Eucarístico Nacional no Rio de Janeiro, resolveu criar o Banco da Providência.
“Na época, lá no Rio de Janeiro, se colocava dinheiro no banco através de uma grande feira, que ainda existe, a Feira da Providência. No FNS, a providência coloca pela oferta da viúva. O que Deus dá para os pobres vem dos próprios pobres, porque a maior parte do dinheiro da Campanha da Fraternidade vem das comunidades, essa que é a beleza do projeto”.
Autor: a CNBB.