O jubileu de 25 anos de ordenação do padre Nixon Bezerra de Brito foi marcado com uma celebração em ação de graças na Paróquia Senhor Bom Jesus do Monte, em Paquetá, presidida pelo arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, no dia 17 de dezembro. Foram concelebrantes o cônego Abílio Soares de Vasconcelos e os padres Ivanoff Pereira e Francisco Costa.
Após a celebração eucarística, no jardim da paróquia, o arcebispo deu bênção à nova fonte de água e à imagem de São Roque, padroeiro da Ilha de Paquetá. Foi um presente da comunidade ao pároco pelo seu jubileu. Na noite do sábado anterior, ele também foi homenageado com o Auto de Natal e a Folia de Reis apresentados pelo grupo Coletivo Cantareira.
Filho de José Aroldo de Brito e de Lucinete Bezerra de Brito, padre Nixon nasceu no dia 24 de junho de 1973, na cidade de Caicó, no Rio Grande do Norte. Recebeu na Diocese de Caicó a ordenação diaconal no dia 17 de dezembro de 1997 e a ordenação sacerdotal no dia 19 de dezembro de 1998 pelo então bispo diocesano, Dom Jaime Vieira Rocha. Foi incardinado na Arquidiocese do Rio de Janeiro no dia 25 de novembro de 2016.
Em entrevista concedida ao jornal “Testemunho de Fé”, padre Nixon aborda sobre sua vocação, a convivência com monsenhor Vital Francisco Brandão Cavalcanti, a experiência de ser pároco e o sentimento de celebrar o jubileu sacerdotal.
Testemunho de Fé (TF) – Como surgiu sua vocação?
Padre Nixon Bezerra de Brito – Desde criança senti o chamado ao sacerdócio, mas por ser de família militar não tinha coragem para expressar isso. Até que o reitor do Seminário Menor de Caicó, padre José Tadeu, que também foi meu pároco, na Paróquia Nossa Senhora do Patrocínio, na cidade de São Fernando (RN), situada no coração do Seridó potiguar. Ele, que foi o grande incentivador da minha vocação, me convidou a um fim de semana de discernimento no seminário, e a partir daí não havia mais dúvidas.
TF – Recebeu apoio de sua família quando decidiu entrar no seminário?
Padre Nixon – A grande dificuldade foi comunicar ao meu pai que não aceitava entregar o filho à Igreja, mas Deus tem os seus desígnios e a minha madrinha, Maria Edite, que cuidou do meu pai desde bebê, profundamente católica, assumiu essa missão. Ela era zeladora do Apostolado da Oração, ministra da Sagrada Comunhão e consagrada a Deus, nunca se casou. Por meio dela, meu pai permitiu meu ingresso no seminário aos 16 anos. Aos poucos, o coração do meu pai foi amolecendo, que sendo casado há 25 anos apenas no civil com a minha mãe, me pediu, logo após a ordenação, para receber o Sacramento do Matrimônio, no qual também se confessou e passou a professar a fé católica, vindo a falecer em 2004 nos meus braços e também da minha mãe, reconciliado com Deus e com a Igreja.
TF – Sua vocação teve como inspiração algum sacerdote?
Padre Nixon – Sim, o primeiro padre que me serviu de exemplo foi Deoclides de Brito, que era sobrinho-neto da minha avó, um grande sacerdote. Um historiador, primo do meu pai, escreveu um livro que me identificou como o décimo padre da família, e eu nem sabia disso.
O outro sacerdote foi monsenhor Vital Francisco Brandão Cavalcanti, já no Rio de Janeiro, que para mim foi um verdadeiro exemplo, um verdadeiro pai e que me incentivou muito com o seu jeito simples e autêntico de ser e disponível sempre à Igreja e ao povo de Deus.
Com ele, desde seminarista, pude entender de fato a missão de sacerdote, que serve onde for preciso: na Igreja, na rádio, nos movimentos e em toda situação que a Igreja precisar.
Monsenhor Vital foi o grande testemunho de sacerdote íntegro e sempre antenado ao tempo presente. Ele me ensinou desde cedo como ser um sacerdote íntegro e, ao mesmo tempo, servidor da Igreja e do povo de Deus.
TF – Por que veio estudar no Rio de Janeiro?
Padre Nixon – O bispo de Caicó, Dom Heitor de Araujo Sales, quando reabriu o seminário menor, pediu ajuda para seu irmão, Dom Eugenio de Araujo Sales, então arcebispo do Rio de Janeiro. Na época, a Diocese de Caicó não tinha condições de manter um seminário maior. Dom Eugenio abriu as portas do Seminário Arquidiocesano de São José, no Rio de Janeiro, para os vocacionados, independente se Caicó tem condições de ajudar ou não. Foi feito um projeto de dioceses irmãs, e quando os seminaristas concluíam o propedêutico em Caicó, vinham para o Rio cursar filosofia e teologia.
TF – Chegou a estudar Direito Canônico no Rio de Janeiro?
Padre Nixon – Sim. Aproveitei o último ano de teologia, e havia poucas matérias. Na época, o Instituto de Direito Canônico começou a funcionar em uma das salas do prédio do seminário, próximo à Casa do Padre. Fui recebido pelo diretor, padre Luís Madeiro Lopes, que abriu uma exceção, porque para fazer o Direito Canônico deveria terminar a teologia. Foi possível, pois já tinha feito dois anos de filosofia e mais dois anos para seu reconhecimento.
TF – Como foi sua experiência de pároco na Paróquia Nossa Senhora de Nazaré e os Santos Mártires Ugandenses, em Acari?
Padre Nixon – Acari foi um grande desafio, minha primeira paróquia. Até então, era vigário paroquial na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, na Glória. Embora não tivesse a responsabilidade de pároco, monsenhor Vital tinha confiança em mim, e partilhava muitas coisas comigo. Fui aprendendo com ele, e quando me convidaram para assumir Acari, fui, de fato, o primeiro pároco. A paróquia tinha mais de 20 anos, e nunca teve pároco residente, estava sob a responsabilidade das Irmãs Salesianas. As missas, nos finais de semana eram celebradas por um vigário dominical que elas convidavam ou designados pela arquidiocese.
Dom Assis Lopes, na época, moderador da Cúria, sugeriu, se eu quisesse, de continuar morando na Glória e ir para Acari nos finais da semana. As religiosas ainda estavam lá e não havia casa paroquial. Conversei com monsenhor Vital sobre o assunto e ele disse que não haveria problema, mas se quisesse ser pároco, de fato, seria necessário morar na paróquia. Voltei a conversar com Dom Assis e manifestei meu desejo de morar na paróquia.
Porém, não havia dinheiro para alugar uma casa. Monsenhor Abílio Ferreira da Nova, pároco da Paróquia Nossa Senhora de Copacabana e Santa Cecília, em Copacabana, escutou a conversa e se ofereceu para ajudar. Ele tinha ajudado a criar a paróquia de Acari, desmembrada de sua paróquia na época, a São Jerônimo, e tinha muito carinho pela comunidade. Sem pedir nada, ele disse para alugar a melhor casa próxima à paróquia e não se preocupar com o plano de saúde e o salário que a Paróquia de Copacabana iria pagar. Recomendou, quando tivesse condições, avisá-lo que certamente outros iriam precisar. Agradeci muito e assim fiz, e todos os meses cumpriu o que prometeu. Seis meses depois, fui procurá-lo, pois já tínhamos condições de assumir as despesas. Disse que eu tinha sido o primeiro que veio antes de um ano. “É um povo muito bom, são pessoas maravilhosas”, disse, e me deu nomes de algumas pessoas que tinha certeza que iriam ajudar, e aconteceu.
Em resumo, a paróquia de Acari me ensinou a ser pároco, ser padre de verdade, uma comunidade que eu dirigia e, ao mesmo tempo, era dirigido pelo povo, sedento de ter um padre residente. Uma comunidade que desejava o sacerdote presente todos os dias, vivendo a vida do povo. É uma dádiva e eles sabiam disso, tinham consciência. O povo tinha sido bem formado pelas religiosas na catequese e nos aspectos espiritual e teológico. Elas fizeram um bom trabalho e colhi muito do que elas plantaram.
Fui muito bem acolhido e querido em Acari, embora tenha cometido equívocos não pela vontade, mas por ansiedade em acertar. O povo, com todo o carinho e delicadeza, vinha falar comigo: “olha, padre, acho que não é assim”. Muitas vezes buscava auxílio com monsenhor Gilson José Macedo da Silveira, vigário episcopal, que na sua sabedoria e experiência, me dizia: “escute o povo, escute. Não vê o ditado de que a voz do povo é a voz de Deus. Escute o povo, que está dizendo com o coração, são seus amigos, não estão contra você. Se fossem contra seria por trás, mas se diz na frente, é porque quer ajudar”. Sempre dizia para não perder o sono por causa de alguma situação, mas que estava à disposição, a qualquer hora, quando precisasse.
Uma vez liguei para monsenhor Gilson pedindo orientações sobre um conflito entre lideranças de dois grupos em uma das capelas. O que fazer? Ele respondeu: “Não faça nada, espere a poeira baixar. Não fique do lado de ninguém, mas de todos”. Ele me ajudou muito. Sempre vinha me visitar, e se colocava à disposição para a partilha e a orientação. Ele também foi um pai que me acompanhou e me ensinou muito.
TF – Como tem sido sua experiência na Ilha de Paquetá?
Padre Nixon – Após 11 anos em Acari, o moderador da Cúria, Dom Luiz Henrique da Silva Brito, me ligou e ofereceu a Paróquia Senhor Bom Jesus do Monte, em Paquetá. Disse que o pároco iria sair e que tinham pensado em mim, já que Acari é uma região de conflitos e Paquetá oferecia um pouco de descanso.
Quando seminarista na teologia, o pároco de Paquetá era o padre José Roberto da Silva, que também era nosso professor de teologia. Ele tinha costume, no final de cada período, de levar os seminaristas para um passeio. Eu tive a oportunidade de conhecer Paquetá em 1996 e fiquei encantado. Não só pela viagem, mas por ter a sensação de ter sido transportado no tempo, no passado.
Na ocasião, brinquei com o padre José Roberto e com os colegas dizendo que um dia seria pároco em Paquetá. Não era nada sério. No domingo seguinte, partilhei a viagem com monsenhor Vital e fiz o mesmo comentário. Uma outra vez, fui com monsenhor Vital para Paquetá na posse do padre Jonas, e cheguei a comentar com ele que um dia iria morar em Paquetá, por ser um lugar maravilhoso.
Quando recebi o convite de Dom Luiz Henrique, não lembrava mais o que tinha dito no passado. Conversando com monsenhor Vital, ele perguntou se eu tinha pedido a paróquia para Dom Orani. Respondi que não, mas ele gravou o que eu havia dito ainda como seminarista, que um dia seria pároco em Paquetá. Pude entender que Deus ouve as coisas que falamos sem perceber. Assim aconteceu, mas a mudança foi brusca. A tranquilidade de Paquetá me fez sentir viver no paraíso, porque eu gosto da simplicidade e da natureza. Tive a impressão de voltar para casa por ser um lugar ideal para morar e trabalhar.
A ilha de Paquetá, que fica a 40 minutos de distância do centro do Rio de Janeiro, é um lugar diferente, paradisíaco, sem a agitação e a violência da grande metrópole. Foi a realização dos meus sonhos mais primitivos, que não lembrava, mas que Deus foi me conduzindo até aquele lugar especial.
TF – Quem foi monsenhor Vital?
Padre Nixon – Durante meus estudos no Rio de Janeiro, fui vigário paroquial da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, na Glória, onde havia feito estágio pastoral como seminarista e diácono, sendo pároco, monsenhor Vital Brandão Cavalcanti. Fiquei nesta paróquia com ele até 2004, quando assumi a paróquia de Acari.
Monsenhor Vital é aquela pessoa que Deus coloca em nossa vida e que marca profundamente. No meu jubileu de 25 anos se fez presente de uma maneira bem especial. Quando veio presidir a Santa Missa, Dom Orani me entregou uma cruz de lapela que ele usava.
Dom Orani, com sua paternidade, é um outro diferencial em nossa vida, na arquidiocese. Ao chegar em Paquetá, fui recebê-lo na barca. Ele disse: “uma pessoa que não pôde vir, mas fez questão de estar presente, mandou para você um presente’. Tirou do bolso uma caixinha e disse:
“abra para ver se você conhece”. Abri e era a cruz de lapela. Em cima tinha um papelzinho colado escrito de monsenhor Vital para padre Nixon. Era a Cruz do monsenhor Vital. Claro que eu reconheci, ele sempre usava na lapela essa cruz. Foi um choque, porque não esperava. Naquele momento senti que monsenhor Vital sempre está presente em todos os momentos e que a paternidade dele continua através de Dom Orani, que é o nosso pastor e pai aqui da nossa arquidiocese.
Eu nunca vi Dom Orani receber mal qualquer padre, criticar, falar alto ou chamar a atenção. Há situações em que é necessário tomar posições, próprio de sua função, mas vejo que é ele que sente a dor. Não é dele deixar de acolher algum de seus filhos, causar mal em alguém. Essa paternidade se estende em Dom Orani, essa coisa especial que faz a diferença na nossa vida. Vejo a continuidade da paternidade de monsenhor Vital através de Dom Orani. Ele, num domingo, debaixo de forte calor, veio de barca para Paquetá par celebrar meu jubileu. É um gesto de muito carinho. Agradeço profundamente e vejo nisso sinais claros de Deus.
TF – Fale um pouco de sua vocação de comunicador à frente do programa “Expresso da Saudade”, que vai ao ar aos domingos à noite pela Rádio Catedral?
Padre Nixon – A convite do monsenhor Vital e do cônego Abílio, comecei a participar do programa no ano 2000. O “Expresso da Saudade” é a continuação, de certa forma, da missão de monsenhor Vital. Ele tinha um profundo amor pelo programa que iniciou com o cônego Abílio Soares de Vasconcelos. Quando não pôde mais gravar por questões na fala e na locomoção, recomendou: “não deixe acabar, continue”. Ele escutava o programa e dizia: “foi muito bom, continue”, e dava sugestões: “fala uma coisa séria e faz uma brincadeira, conta uma piada para provocar risos, mas na certeza que as pessoas ficaram atentas”.
Para um final de uma noite de domingo, o programa procura ser leve, ajudar as pessoas a descontraírem-se e dormir com mais tranquilidade. Desde o início nunca teve pauta, sempre é uma conversa espontânea e os assuntos vão surgindo. Procuramos abordar assuntos da Igreja, partilhar atividades da arquidiocese e recordar os santos de devoção popular. Junto com temas religiosos, também de cultura, apresentando poemas, músicas, clássicos imortais, que marcam a história e a vida das pessoas. É um bate-papo de família. Despertar na pessoa bons sentimentos, fazer a pessoa se sentir família ouvindo a Rádio Catedral.
TF – Qual é o sentimento de celebrar 25 anos de sacerdócio?
Padre Nixon – Chegar aos 25 anos de sacerdócio é curioso. Na época de seminarista, quando um padre celebrava o jubileu de prata imaginava um padre experiente, maduro, mais velho. Parecia inalcançável. Agora quando cheguei aos 25 de sacerdócio, vejo que foi tão rápido, intenso e não senti que o tempo passou.
Quando olho no espelho, às vezes me assusto, os cabelos e a pele não são os mesmos, mas a cabeça, o sentimento, o desejo de fazer o melhor continuam. Foi um pedido que eu fiz na minha primeira missa. Estava emocionado, sensibilizado e tocado, e pedi a Jesus naquele momento da primeira missa, para que em cada missa a ser celebrada eu tivesse o mesmo sentimento e amor e que não me deixasse cair na rotina de fazer de qualquer jeito. Cada missa para mim é única e essa graça recebida há 25 anos. Em Acari, entre sábado à noite e domingo, chegava a celebrar seis missas, para não deixar nenhuma capela sem missa dominical. Mesmo cansado, na hora da Eucaristia sentia uma sensação de amor, de ser abraçado por Jesus, vivo na Sua Palavra e na Eucaristia. Nesse pedido fui privilegiado. Até hoje todas as minhas missas têm sido celebradas com o sentimento e a sensação da primeira missa.
Cheguei aos 25 anos com sensação de dever cumprido, de não ter desperdiçado o tempo. Me ordenei com 25 anos, muito jovem, e achava que sabia tudo, mas tive falhas, equívocos, por causa da ansiedade em querer fazer tudo. Mas sabemos que essa fase passa, tudo na vida passa, o que fica é a graça de Deus, a vocação, o ministério, o chamado. É contínuo.