O mês de setembro chega trazendo a primavera em nosso hemisfério e, junto com a beleza do tempo, o tema da Sagrada Escritura. O fato de celebrarmos, no dia 30 de setembro, o dia do patrono dos estudos bíblicos, São Jerônimo, fez com que pudéssemos aprofundar este tema durante este mês. Setembro é o mês da Bíblia, sendo que no último domingo comemora-se o Dia Nacional da Bíblia.
A cada ano, a Igreja do Brasil trabalha um tema. As comunidades são convidadas a refletirem sobre o Livro de Ezequiel, iluminadas pelo lema: “Porei em vós meu espírito e vivereis” (cf. Ez 37,14). Aqui em nossa arquidiocese, o fato de a catequese apresentar nas paróquias e nos vicariatos a “feira bíblica” é uma maneira renovada de as crianças aprofundarem os estudos e partilharem com os visitantes.
Outro belo momento que vivemos neste mês é a Assembleia dos Círculos Bíblicos, realizada no dia 7 de setembro. Um dia de feriado para marcar nossa vida arquidiocesana: partilharmos as experiências dos círculos bíblicos, e há o aprofundamento do tema anual por vicariatos. Os círculos bíblicos são sementes das comunidades que formam as paróquias como rede de comunidades.
A Assembleia dos Círculos Bíblicos acontece às vésperas da Festa da Natividade da Bem-Aventurada Virgem Maria, que, neste ano, pelo fato de cair no domingo, não será celebrada. Uma tradição antiga na vida monástica faz de cada véspera de uma festa mariana um tempo de oração, penitência e jejum.
Sem dúvida que para tudo isso a leitura orante da Bíblia ou a Lectio Divina aos poucos vai entrando na realidade de nosso povo, que passa a colocar a Palavra de Deus como início da reflexão que vai iluminar a realidade das pessoas. São passos que pouco a pouco os grupos e comunidades começam a dar, sempre em torno da Sagrada Escritura. Ela nos traz a revelação de Deus para a nossa salvação.
Na sua misericórdia e sabedoria, Deus revela a Si mesmo na pessoa de Cristo e pela unção do Espírito Santo, para que tivéssemos acesso a Ele e participássemos de sua glória.
Deus Se revela ao homem e o convida a partir para uma terra desconhecida que lhe seria mostrada. E nessa caminhada, Deus vai Se mostrando, vai Se revelando aos que creem e, quando é chegado o tempo, a revelação se completa em Cristo, a Palavra de Deus: “No princípio, era a Palavra e a Palavra estava em Deus, e a Palavra era Deus… E esta Palavra se fez carne e veio morar entre nós” (Jo, 1).
Por Cristo, somos glorificados! E todos que recebemos a Palavra e nela acreditamos nos tornamos filhos de Deus. Este caminho Deus faz conosco. Respeita o nosso crescimento intelectual e volitivo, seja na nossa capacidade pessoal, seja na evolução cultural do grupamento humano, de tal forma que podemos sentir em nós mesmos a caminhada do povo de Deus.
À medida que nos abrimos à fé, partimos com Ele nos momentos de contemplação, de glória e, também, como as Escrituras nos mostram, nas traições, quando renunciamos a seu amor e vamos atrás dos “baals” de todos os tempos. Ouvindo a voz penitencial dos profetas, retornamos da “Babilônia” do pecado, que existe em todos os tempos e, também, no íntimo de nós.
Na bondade de Deus, como um resto, voltamos a “Sião”, sempre aguardando a plena revelação de Deus no seu Filho, que nos salva por sua morte e nos dá o seu Espírito para que anunciemos em nós e em toda terra a sua ressurreição e nossa participação no mistério trinitário de Deus.
A Bíblia Sagrada, com toda a Tradição da Igreja em seguimento à Palavra de Cristo, revela ao nosso coração este plano divino para a Humanidade – restaurar tudo em Cristo – e nos envia: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda a criatura. Aquele que crê e for batizado será salvo; o que não crê será condenado (Mc 16,15).
A Bíblia é o relato da manifestação do amor de Deus que, gradativamente, nos leva por Cristo, em Cristo e com Cristo à intimidade da vida divina e, como consequência, a uma nova vida, fermento de um mundo novo.
Somos o povo que se encontra com a Palavra Viva, o Verbo Eterno, Jesus Cristo! Ele é a nossa vida e o caminho que nos conduz ao Pai. Eis um tempo favorável para aprofundarmos a importância de ser discípulos missionários à luz do Evangelho de Lucas, procurando em nossos grupos de reflexão deixar a Palavra falar ao nosso coração e nos fazer renovados em Cristo.
A primavera está associada à Pascoa: a certeza da vida que vence a morte! Que o Mês da Bíblia, recém-iniciado, seja uma nova primavera: a certeza da vida que renasce e se abre, vencendo a morte e o pecado.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ