Tempo da Criação: cuidar da obra de Deus

Do dia 1º de setembro ao dia 4 de outubro, a Igreja Católica celebrará o Tempo da Criação, criado pelo Papa Francisco para que possamos rezar, refletir e meditar sobre esta obra admirável do Criador, na qual toda a Criação é um reflexo do grande amor de Deus.

Na diversidade da Criação, manifesta-se a revelação divina, dando sentido a todas as coisas, e propiciando os processos evolutivos da vida. O amor de Deus se manifesta na singularidade de cada ser vivo, e também na maneira própria de cada elemento abiótico, como águas, rochas, solos e ventos.

Através da Criação, Deus se revela nas múltiplas formas de inteligências existentes, seja na diversidade de nossos biomas e ecossistemas, como nos traços particulares e únicos que cada ser vivo carrega consigo, através das marcas identitárias que fazem com que cada espécie seja distinta das demais.

Como uma grande orquestra, toda a Criação funciona de maneira harmônica e articulada, na qual cada ser criado tem a sua partitura, formas, cores e sons distintos, permitindo que a sinfonia criacional ecoe sobre a batuta do maestro Criador.

Ao delegar ao ser humano a administração e o cuidado com toda a Criação, Deus Criador espera que sejamos fieis à Aliança que foi estabelecida com todas as criaturas que habitam a Casa Comum planetária, conforme o relato bíblico (Gn.9,9-15).

O Papa Francisco, neste Tempo da Criação, nos recorda a importância de três atitudes fundamentais: A primeira de escutarmos a voz da Criação, pois mesmo ferida com as rupturas e extinções, ela continua nos revelando a bondade amorosa do Criador. A segunda, que paremos de abusar e destruir este patrimônio criacional que não somos donos, mas apenas zeladores e guardiões. A terceira, que possamos assumir o compromisso concreto de cuidar da Casa Comum, conforme nos exorta a Encíclica Laudato Si’.

Neste Tempo da Criação, somos conscientes do paradoxo em que vivemos, pois se de um lado a Humanidade tornou-se mais sensível com as questões relacionadas ao meio ambiente, indignando-se diante dos atos de atrocidade e desrespeito para com a natureza, de outro, continuamos agindo e destruindo os nossos biomas e ecossistemas. Insistimos em apostar na falácia de que os recursos da Criação são inesgotáveis, através de uma cultura consumista, mercantilista e descartável.

Os gritos de uma Criação, que geme e sofre pelas inúmeras perdas e rupturas, continuam ecoando aos nossos ouvidos, sobretudo com as mudanças dos ciclos biológicos e climáticos, colocando em risco o futuro da Casa Comum e das gerações que nos sucederão.

Que possamos aproveitar este Tempo da Criação tanto para meditar e rezar com toda a obra do Criador, como também para fazermos gestos concretos que estão ao nosso alcance, em favor de todos os seres viventes que há milhões de anos povoam o planeta Terra, manifestando a beleza de Deus na singularidade de suas vidas.

É um tempo de cuidar melhor das pessoas, das plantas e dos animais que fazem parte de nossas vidas, sabendo que todos os seres vivos foram criados pelo mesmo Pai, sendo, portanto, nossos irmãos e irmãs, conforme nos ensinou São Francisco de Assis, patrono da ecologia.

 

Padre Josafá Carlos de Siqueira SJ – Vigário episcopal para o Meio Ambiente e Sustentabilidade 

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