Solenidade da Assunção de Nossa Senhora

“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. (Lc 1,42).

Celebramos neste domingo a Assunção de Nossa Senhora, solenidade transferida do dia 15 de agosto para o domingo, no lugar do Vigésimo Domingo do Tempo Comum. Normalmente não se celebra festa de santos aos domingos. O domingo sempre é o Dia do Senhor e tem precedência. Contudo, a Mãe de Jesus, pelo mistério de ser assunta aos céus de corpo e alma, merece um lugar especial na liturgia.

Nesse terceiro domingo do mês de agosto, dentro da perspectiva do Mês Vocacional (Igreja: uma sinfonia vocacional com o tema: “Pedi, pois, ao Senhor da Messe), recordamos a vocação à vida religiosa e consagrada. Os religiosos e religiosas testemunham com suas vidas o caminho da santidade da Igreja e, com isso, animam a vida pastoral da Igreja. Além do testemunho da vida, muitas vezes as religiosas atuam como catequistas, ministras extraordinárias da Sagrada Comunhão e realizam outros serviços pastorais, além das diversas congregações religiosas assumirem a administração de escolas e hospitais. E, ainda, temos muitas comunidades de vida consagrada que cuidam dos mais pobres, em especial os moradores em situação de rua e dependentes químicos.

A Solenidade da Assunção de Nossa Senhora é em 15 de agosto, mas a Igreja no Brasil transfere para o domingo seguinte a esta data, por questões pastorais e para que um maior de número de fiéis possa participar, sobretudo porque no terceiro domingo do mês celebramos a vocação à vida religiosa e consagrada, cuja padroeira e inspiradora das vocações é a Mãe de Jesus.

Existe uma diferença entre Assunção de Nossa Senhora e Ascensão de Jesus: na ascensão de Jesus Ele volta ao Pai por conta própria sem nenhuma força exterior diante dos discípulos. Na assunção de Nossa Senhora, Ela foi elevada ao céu com a ajuda dos anjos, após aquilo que chamamos de “dormição de Nossa Senhora”, ou seja, Ela entrou num sono profundo e foi assunta ao céu.

A Festa da Assunção de Nossa Senhora é um dogma, ou seja, uma verdade de fé, que após longo tempo de estudo e reflexão foi promulgado pela Igreja. A Igreja o faz demonstrando que isso foi fé da Igreja e está nas escrituras, mas é importante proclamar publicamente. O dogma é apresentado aos fiéis para que, por meio da fé, possam crer que de fato isso aconteceu com a Mãe de Jesus e acontecerá conosco. O dogma da Assunção de Nossa Senhora é o último dos quatro que foi proclamado, o Papa Pio XII promulgou esse dogma em 1950.

No Evangelho deste domingo, Nossa Senhora proclama as maravilhas que Deus fez em sua vida e na vida do povo de Israel. A partir da escolha dela em ser a Mãe de Jesus e do nascimento do Messias, a salvação foi para todo o povo de Israel. Através do “sim” de Maria, Deus pôde selar com a Humanidade uma nova e eterna aliança a partir da concepção, vida pública, paixão e morte de Jesus na Cruz.

A primeira leitura da missa deste domingo é do livro do Apocalipse de São João (Ap 11, 19a; 12, 1-3 -6a. 10ab), São João descreve a visão que teve. Uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas. Ele vê um outro sinal no céu, um dragão cor de fogo. Tinha sete cabeças e sobre as cabeças sete coroas. O dragão parou de frente para a mulher, pronto para devorar o filho que ela estava esperando. Ela deu à luz ao filho que governou todas as nações com cetro de ferro. O filho foi levado para junto de Deus e seu trono. A mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar. João ouve uma voz do céu que dizia: “Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus, e o poder de seu Cristo” (Ap 11,10).

Essa mulher que João vê é Nossa Senhora, que estava a ponto de dar à luz. A coroa de doze estrelas faz referência às doze tribos de Israel. O dragão é a figura do mal que queria impedir que ela desce à luz o seu Filho. Jesus nasce e governa todas as nações com cetro de ferro e, apesar da rejeição de muitos, morreu na cruz para redimir a Humanidade inteira. O Filho foi para junto de Deus e Nossa Senhora após a ressurreição de Jesus foi para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar, até a sua Assunção ao Céu. Essa imagem é também da Igreja na geração de novos homens para o Senhor.

O Salmo responsorial 44 (45) faz referência a uma rainha, que podemos comparar a Nossa Senhora, que se encontra à direita junto de Deus, intercedendo por cada um de nós. Nossa Senhora é a intermediadora, aquela que intercede por nós junto a Deus, do mesmo modo que Ela fez nas Bodas de Caná.

A segunda leitura é extraída da primeira carta de São Paulo aos Coríntios (1cor 15, 20 -27a): Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram, ou seja, Ele morreu para abrir caminho para nós, pois do mesmo jeito que Ele ressuscitou, nós também ressuscitaremos. Nós cremos nisso toda vez que há a consagração da Eucaristia na missa, pois nesse momento se atualiza a paixão, morte e ressurreição do Senhor. Conforme nossa resposta após o sacerdote dizer: eis o mistério da fé: “Anunciamos Senhor a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde Senhor Jesus! Como em Adão todos morrem, em Cristo todos reviverão.

O Evangelho é extraído de Lucas (1, 39-56), que narra a passagem em que Maria parte apressadamente para a casa de sua prima Isabel e fica três meses com ela. Assim que Maria saúda Isabel, o filho que Isabel esperava, João Batista, pula de alegria em seu ventre. E Isabel e o filho que ela esperava ficam cheios do Espírito Santo. Nossa Senhora transmite a Isabel e ao seu Filho a força do Espírito Santo e passa a eles a alegria que é servir ao Senhor.

Isabel profere lindas palavras a Nossa Senhora, que estão contidas na Oração da Ave Maria: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. (Lc 1,42). Em seguida, Nossa Senhora recita a oração que hoje conhecemos como “Magnificat”. Nesse cântico Nossa Senhora recorda as maravilhas que Deus operou em favor do seu povo e como a escolheu para ser a Mãe do Salvador. Em Jesus todo povo de Israel deveria confiar, pois Ele veio conduzir todo o povo a Deus.

Nesta Solenidade da Assunção de Nossa Senhora ao céu, peçamos que Ela nos conduza sempre ao seu Filho e possamos como ela, guardar e conservar tudo no nosso coração. Que o Espírito Santo sempre nos ilumine e nos ajude a cada dia a dizer “sim” a Deus. Lembremo-nos das maravilhas que Deus fez na vida de cada um de nós, assim como Ele fez com o povo de Israel.

Vamos rezar, de maneira especial, neste ano da oração (Pedi…) para que muitos jovens se sintam chamados para a vida religiosa e consagrada. A vida religiosa é um tesouro inestimável na vida da Igreja.

Peçamos que todos os religiosos e consagrados recordem as maravilhas que Deus operou em suas vidas e possam diariamente renovar o seu sim. Sejam consagrados para amar e servir, sobretudo aos mais pobres.

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

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