O papel da comunicação para os padres em nossos tempos

Canção Nova, 21 de agosto 2024

 

Introdução

Vivemos em uma era onde a comunicação é fundamental para a evangelização e o pastoreio do rebanho. A presença dos padres nos meios de comunicação modernos é crucial para disseminar a mensagem do Evangelho e fortalecer a fé dos fiéis. Este tema não é apenas relevante, mas essencial para a missão da Igreja.

A Igreja existe para evangelizar. Essa é a tarefa que se nos apresenta como um imperativo para todos os tempos e lugares, Com o mandato é o mesmo, mas a realidade onde ele deve se concretizar é variável mutável e diversa, o conhecimento e a utilização de meios diversos para que a evangelização aconteça faz parte do próprio processo de evangelização. É dentro desse contexto que traremos algumas ideias da utilização dos meios de comunicação por meio dos padres em nossos dias. Temos que utilizar destes meios da melhor forma possível para, através da rádio, Televisão, Internet e outros meios fazer com que a Palavra de Deus chegue a todos aqueles que ainda não a conhecem, mas também àqueles que conhecem para nutrir-se cada vez mais da sua espiritualidade.

Sabemos quão importante são os meios de comunicação, sobretudo nestes últimos tempos, quando cada vez mais se propaga as tecnologias e o avanço do mundo digital. Com esse avanço técnico e científico, a Igreja também tem que saber utilizar destes bons e confiáveis métodos para continuar a sua missão, que é “Anunciar a Palavra de Deus a todos os povos”.

É importante frisar que a mídia não substitui a participação pessoal em nossas comunidades e nos sacramentos, assim como supõe uma vida coerente daquele que a utiliza, pois transmitimos os valores também através do tom de voz, dos gestos, dos olhos, da escolha de textos, da maneira como comunicamos. Embora existam muitas ferramentas tecnológicas que tendem a disfarçar muitas realidades, no entanto, o ser humano tem uma comunicação que vai além das palavras, mesmo eletrônicas, que chegam ao coração das pessoas. Por isso, trabalhar com os meios de comunicações supõe uma conversão pessoal ainda mais profunda e sincera.

 

O Padre, comunicador segundo o modelo de Cristo.

O padre deve ser um bom comunicador a exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo que comunicou o Pai. Assim, os padres têm como papel fundamental anunciar Cristo, Palavra de Deus encarnada, e “comunicar a multiforme graça divina portadora de salvação mediante os sacramentos. Convocada pela Palavra, a Igreja coloca-se como sinal e instrumento da comunhão que Deus realiza com o homem e que todo sacerdote é chamado a edificar n’Ele e com Ele”. (Mensagem do Papa Bento XVI para o 44º Dia Mundial das comunicações).

Para dar respostas adequadas às várias questões no âmbito das grandes mudanças culturais, particularmente sentida entre as novas gerações, tornam-se um instrumento útil as vias de comunicação abertas pelas conquistas tecnológicas. Colocando à nossa disposição meios que permitem uma capacidade de expressão praticamente ilimitada, o mundo digital abre perspectivas e concretizações notáveis ao incitamento paulino: “Ai de mim se não anunciar o Evangelho! ” (1Cor 9,16). Diante disso, o padre acaba por encontrar-se como que no limiar de uma “história nova”, porque quanto mais intensas forem as relações criadas pelas modernas tecnologias e mais ampliadas forem as fronteiras pelo mundo digital, tanto mais o sacerdote será chamado a ocupar-se disso pastoralmente, multiplicando o seu empenho em colocar a tecnologia a serviço da Palavra de Deus.

A coragem de estar presente nos “meios de comunicação” e em especial hoje com as novas ferramentas digitais, deve ser para o padre, mas também para todo cristão, um desafio constante. No “território livre” da internet encontramos as mais variadas, complexas e bizarras opiniões. Muitas vezes faltam as ideias e opiniões que realmente traduzam o pensamento de Cristo, do Evangelho, da Igreja. Existe muita desinformação sobre aspectos do trabalho eclesial, e com os “preconceitos” que hoje grassam pela mídia, também com relação à fé e à religião, e, se não estivermos presentes, estaremos nos omitindo em uma grande missão que nos compete.

 

Novos contextos da comunicação: as viralizações.

Quando falamos de comunicação, lembramos que ela não se resume “aos meios”, mas é um “processo” humano importante. E aprofundando todo esse caminho, a Igreja procura tanto formar o seu povo para um correto uso como também quer ajudar profeticamente a sociedade humana a refletir sobre o como está hoje utilizando as mídias. A maioria dos governos procura, seja por legislação impositiva, seja por pressão ditatorial, seja pela economia controlar os meios de comunicação. De outro lado, nem sempre o nosso povo é formado para uma “leitura crítica da comunicação” e acaba absorvendo tudo o que é inserido na mídia, como se fossem “verdades” incontestáveis.

Depois de passarmos por uma etapa onde a leitura de textos era muito valorizada e discutida, fomos para os resumos e com letras maiores para chegarmos à ilustração com fotografias ou com imagens como fundamentais para a comunicação. Hoje estamos na cultura das “viralizações”, cientificamente trabalhadas e escolhidas por especialistas para causar impacto, seja para as vendas ou audiências maiores, ou para impor ideias ou culturas. Muitas regiões do mundo tomam conhecimento de assuntos que ocorrem distantes de seu local de habitação apenas pelo filtro do viral “pinçado” de um texto ou de um vídeo maior que nem sempre retrata exatamente a ideia do proponente. Este é um dos temas que é importante discutir e comentar nestes tempos dominados pela mídia que, junto com um belo e importante trabalho, luta também para poder sustentar-se e ser realmente “livre”.

O padre, através dos meios de comunicação, poderá dar a conhecer a vida da Igreja e ajudar os homens de hoje a descobrirem o rosto de Cristo, conjugando o uso oportuno e competente de tais meios adquiridos já no período de sua formação no seminário e ainda a sua formação posterior, com uma sólida preparação espiritual, teológica e humana. Dessa maneira, a tarefa do consagrado é aplainar as estradas para os novos encontros, assegurando sempre a qualidade do contato humano e a atenção às pessoas e às suas verdadeiras necessidades espirituais para reconhecerem o Senhor; dando-lhes a oportunidade de se educarem para a expectativa e a esperança, abeirando-se da palavra de Deus que salva e favorece o desenvolvimento integral.

Portanto, as novas mídias oferecem aos padres e a todo povo fiel perspectivas sempre novas e, pastoralmente, ilimitadas, que solicitam a valorizar a dimensão universal da Igreja para a comunhão ampla e concreta; a ser no mundo de hoje testemunhas da vida sempre nova, gerada pela escuta do Evangelho de Jesus, o Filho eterno que veio ao nosso meio para nos salvar. O Papa termina a sua mensagem dizendo que: “é preciso não esquecer que a fecundidade do ministério sacerdotal deriva primariamente de Cristo encontrado na oração, anunciado com a pregação e o testemunho da vida, conhecido, amado e celebrado nos Sacramentos, sobretudo da Santíssima Eucaristia e Reconciliação”.

 

A Pastoral no Mundo Digital

O âmbito vasto e delicado da pastoral como é o da comunicação e do mundo digital, oferece ao sacerdote novas possibilidades para exercer o seu serviço à Palavra e da Palavra. Os meios de comunicação fazem parte, desde há muito tempo, dos instrumentos ordinários através dos quais as comunidades eclesiais se exprimem, entrando em contato com o seu próprio território e estabelecendo, muito frequentemente, formas de diálogo mais abrangentes, mas a sua recente e incisiva difusão e a sua notável influência tornam cada vez mais importante e útil o seu uso no ministério sacerdotal.

A tarefa primária do sacerdote é anunciar Cristo, Palavra de Deus encarnada, e comunicar a multiforme graça divina portadora de salvação mediante os sacramentos. Convocada pela Palavra, a Igreja coloca-se como sinal e instrumento da comunhão que Deus realiza com o homem e que todo o sacerdote é chamado a edificar n’Ele e com Ele.

Hoje, para dar respostas adequadas a estas questões no âmbito das grandes mudanças culturais, os meios de comunicação tornaram-se um instrumento útil as vias de comunicação abertas pelas conquistas tecnológicas.  Com a sua difusão, não só aumenta a responsabilidade do anúncio, mas esta torna-se também mais premente reclamando um compromisso mais motivado e eficaz.

A este respeito, o sacerdote acaba por encontrar-se como que no limiar de uma história nova, porque quanto mais intensas forem as relações criadas pelas modernas tecnologias e mais ampliadas forem as fronteiras pelo mundo digital, tanto mais será chamado o sacerdote a ocupar-se disso pastoralmente, multiplicando o seu empenho em colocar as novas tecnologias ao serviço da Palavra.

Contudo, a diversidade dos meios pode comportar o risco de uma utilização determinada principalmente pela mera exigência de marcar presença e de considerar erroneamente a internet apenas como um espaço a ser ocupado. Ora, aos presbíteros é pedida a capacidade de estarem presentes no mundo digital em constante fidelidade à mensagem evangélica, para desempenharem o próprio papel de animadores de comunidades, que hoje se exprimem cada vez mais frequentemente através das muitas vozes que surgem do mundo digital, e anunciar o Evangelho recorrendo não só aos media tradicionais, mas também ao contributo da nova geração de audiovisuais  que representam ocasiões inéditas de diálogo e meios úteis inclusive para a evangelização e a catequese.

Através dos meios modernos de comunicação, o sacerdote poderá dar a conhecer a vida da Igreja e ajudar os homens de hoje a descobrirem o rosto de Cristo, conjugando o uso oportuno e competente de tais meios – adquirido já no período de formação – com uma sólida preparação teológica e uma espiritualidade sacerdotal forte, alimentada pelo diálogo contínuo com o Senhor. No impacto com o mundo digital, mais do que a mão do operador dos media, o presbítero deve fazer transparecer o seu coração de consagrado, para dar uma alma não só ao seu serviço pastoral, mas também ao fluxo comunicativo ininterrupto da rede.

Quem melhor do que um homem de Deus poderá desenvolver e pôr em prática, mediante as próprias competências no âmbito dos novos meios digitais, uma pastoral que torne Deus vivo e atual na realidade de hoje e apresente a sabedoria religiosa do passado como riqueza para se viver dignamente o tempo presente e construir adequadamente o futuro?

A tarefa de quem opera, como consagrado, os meios de comunicação é aplainar a estrada para novos encontros, assegurando sempre a qualidade do contato humano e a atenção às pessoas e às suas verdadeiras necessidades espirituais; oferecendo, às pessoas que vivem nesta nossa era digital, os sinais necessários para reconhecerem o Senhor; dando-lhes a oportunidade de se educarem para a expectativa e a esperança, abeirando-se da Palavra de Deus que salva e favorece o desenvolvimento humano integral.

O sacerdote, ao fazer uso dos meios de comunicação para a evangelização, deve promover uma cultura que respeite a dignidade e o valor da pessoa humana. Este é um dos caminhos onde a Igreja é chamada a exercer um serviço à cultura no atual continente digital. Com o Evangelho nas mãos e no coração, é preciso reafirmar que é tempo também de continuar a preparar caminhos que conduzam à Palavra de Deus, não descurando uma atenção particular por quem se encontra em condição de busca, mas antes procurando mantê-la desperta como primeiro passo para a evangelização.

Efetivamente, uma pastoral no mundo digital é chamada a ter em conta também aqueles que não acreditam, caíram no desânimo e cultivam no coração desejos de absoluto e de verdades não caducas, dado que os novos meios permitem entrar em contato com crentes de todas as religiões, com não-crentes e pessoas de todas as culturas.

O desenvolvimento das novas tecnologias e, na sua dimensão global, todo o mundo digital representam um grande recurso, tanto para a humanidade no seu todo como para o homem na singularidade do seu ser, e um estímulo para o confronto e o diálogo. Mas aquelas apresentam-se igualmente como uma grande oportunidade para os crentes. De fato, nenhum caminho pode, nem deve ser vedado a quem, em nome de Cristo ressuscitado, se empenha em tornar-se cada vez mais solidário com o homem.

Por conseguinte, e antes de tudo, os novos media oferecem aos presbíteros perspectivas sempre novas e, pastoralmente, ilimitadas, que os solicitam a valorizar a dimensão universal da Igreja para uma comunhão ampla e concreta; a ser no mundo de hoje testemunhas da vida sempre nova, gerada pela escuta do Evangelho de Jesus, o Filho eterno que veio ao nosso meio para nos salvar. Mas, é preciso não esquecer que a fecundidade do ministério sacerdotal deriva primariamente de Cristo encontrado e escutado na oração, anunciado com a pregação e o testemunho da vida, conhecido, amado e celebrado nos sacramentos sobretudo da Santíssima Eucaristia e da Reconciliação.

 

Comunicação eclesial a partir do Papa Francisco

Não é novidade para ninguém que a pandemia impôs a todos um ritmo de vida muito diferente do que se estava acostumado. Dentre as mudanças significativas pelas quais a sociedade passou e tem passado, o ‘distanciamento’ e ‘isolamento’ social têm sido as mais atenuantes. E porque não dizer a mais difícil característica dos tempos contemporâneos. Somos a geração das pessoas que gostam de estar entre pessoas, a maioria delas ao menos.

Porém, há que se recordar que, recordando o contexto da pandemia antes das recomendações sanitárias do coronavírus, a sociedade já vinha vivenciando certo isolamento voluntário. Lembremo-nos que no ano de 2007 a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe já alertava para este isolamento promovido por aquilo que o Documento de Aparecida vai chamar de uma mudança de época, na qual a realidade para o ser humano se tornou cada vez mais sem brilho e complexa – esta realidade social, na visão do Documento de Aparecida, conduz o homem para a falta de um sentido unitário. Bem por isso destacará o texto da Conferência Latino-Americana que: Surge hoje, com grande força, uma supervalorização da subjetividade individual […] Deixa-se de lado a preocupação pelo bem comum para dar lugar à realização imediata dos desejos dos indivíduos (DOCUMENTO DE APARECIDA, 2007, p.32-33).

O que se pode entender aqui por isolamento voluntário é a atitude de cada indivíduo frente aos encantos do mundo globalizado como: tecnologias, novos modos de comunicação, a realidade virtual, dentre tantos outros avanços. Isolamento que encontra fundamentação no que o Papa Francisco chamou de “eremita social”:

A rede é uma oportunidade para promover o encontro com os outros, mas pode também agravar o nosso autoisolamento, como uma teia de aranha capaz de capturar. Os adolescentes é que estão mais expostos à ilusão de que a social web possa satisfazê-los completamente a nível relacional, até se chegar ao perigoso fenómeno dos jovens “eremitas sociais”, que correm o risco de se alhear totalmente da sociedade (PAPA FRANCISCO, 2019).

Ao que todos sabemos o cristianismo não é capaz de compactuar com este isolamento das pessoas. Mesmo porque encontra sua raiz na vivência comunitária. A cultura do encontro desenhada na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, com uma igreja em saída e aprofundada na manhã de 13 de setembro de 2016 clamando por uma cultura do encontro, nos convida a trabalhar pela cultura do encontro de modo simples, como fez Jesus: não só vendo mas olhando, não apenas ouvindo mas escutando, não só cruzando-se com as pessoas mas detendo-se com elas, deixando-se arrebatar pela compaixão; “e depois aproximar-se, tocar e dizer: ‘Não chores’ e dar pelo menos uma gota de vida” (PAPA FRANCISCO, 2016).

Talvez, poderíamos dizer aquilo que há muito já observamos no Papa Francisco: há uma dinamicidade que deve mover a Igreja e seus agentes. Esta dinamicidade se expressa numa Igreja mais próxima das pessoas porque, constantemente, encontra-se [ou deve se encontrar] nos caminhos da história. Esta marca está no desejo de uma Igreja em Saída, mas tem sido uma característica forte, como um apelo, nas últimas mensagens para o Dia Mundial das Comunicações Sociais.

Os enunciados das três primeiras mensagens para o Dia Mundial das Comunicações Sociais do Papa Francisco traziam expressamente a palavra “encontro”. No ano de 2014: Comunicação a serviço de uma autêntica cultura do encontro, na qual tornava compreensível a ideia de que diante de um mundo tão marcado pela exclusão e marginalização [sócio-política e cultural] os meios de comunicação poderiam colaborar para que as pessoas se sentissem mais próximas umas das outras.

No ano seguinte a mensagem: Comunicar a família: ambiente privilegiado do encontro na gratuidade do amor – diante de uma sociedade marcada pela avalanche de informações, respirando ainda os ares de um Sínodo extraordinário para pensar a família, o Papa entende a comunicação como um auxílio no fortalecimento de vínculo familiar. O encontro com o outro que fortalece e enriquece a todos.

Em 2016, encerrando esta tríade de enunciados marcados pelo “encontro” tem-se: Comunicação e Misericórdia: um encontro fecundo– imbuído pelo Ano Santo da Misericórdia o Pontífice traz o encontro com a misericórdia e amor a Deus que deve nos levar a sermos misericordiosos com os nossos irmãos e irmãs. Desta mensagem destaca-se a fala do Papa ao dizer que “o acesso às redes digitais implica uma responsabilidade pelo outro, que não vemos, mas é real, tem sua dignidade, que deve ser respeitada”. Entendendo a comunicação como uma ferramenta importante para uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.

Podemos observar que esta tríade de mensagens se apresenta como os pilares das que se seguiram até chegarmos ao ano de 2021. Em todas, nos anos antecedentes a este, temos uma preocupação acentuada em uma comunicação das boas notícias, como propusera a mensagem de 2017: ’Não tenhas medo, estou contigo’ (Is 43,5). Comunicar a esperança e confiança, no nosso tempo; a preocupação com a verdade na informação e na comunicação, temática central no ano de 2018: A verdade vos tornará livres’ (Jo 8, 32). Fake news e jornalismo de paz; lançando um olhar para a solidariedade, a colaboração das redes para isso, como lemos em 2019: Somos membros uns dos outros’ (Ef 4, 25): das comunidades de redes sociais à comunidade humana; chegando em 2020 resgatando o protagonismo de cada história, reconhecendo em cada realidade e pessoa uma história importante dentro da História da Salvação, com o tema: Para que possas contar e fixar na memória’ (Ex 10, 2). A vida faz-se história.

Há um movimento, se assim podemos dizer, por parte de Francisco que clama por uma ação comunicadora no interior da Igreja que seja promotora dos encontros entre as pessoas; que lhes dê voz, lhes proporcionem serem os protagonistas desta História da Salvação que ainda hoje acontece.

A mensagem para o 55º dia mundial das Comunicações Sociais, em 2021, como veremos adiante, é reflexo destas sucessivas reflexões. O fruto delas culmina em um método narrativo proposto pelo Papa Francisco. Expressando seu desejo de ver uma Igreja que se comunica com eficácia. Esta eficácia é medida pela capacidade de testemunhar a fé. Para tanto, faz-se necessário uma comunicação pautada no encontro.

 

  1. As mensagens recentes do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais (2021-2023) – um itinerário.

 

Vinde e vede (Jo 1, 38) -2021:

O convite “Vinde e vede”, que acompanha os primeiros e comovedores encontros de Jesus com os discípulos, é também o método de toda a comunicação humana autêntica. Para poder contar a verdade da vida que se faz história, é necessário sair da presunção cômoda do que já se sabe e mover-se, ir ver, estar com as pessoas, ouvi-las, recolher as sugestões da realidade, que nunca deixará de nos surpreender em algum dos seus aspetos.

Aos primeiros discípulos que querem conhecer Jesus, depois do seu Batismo no rio Jordão, Ele responde: Vinde e Vede (Jo 1, 39), convidando-os a permanecer em relação com Ele. Passado mais de meio século, quando João, já muito idoso, escreve o seu Evangelho, recorda alguns detalhes que revelam a sua presença no local e o impacto que teve na sua vida aquela experiência. A fé cristã começa assim; e comunica-se assim: com um conhecimento direto, nascido da experiência, e não por ouvir dizer. Já não é pelas tuas palavras que acreditamos; nós próprios ouvimos…: dizem as pessoas à Samaritana, depois de Jesus Se ter demorado na sua aldeia (cf. Jo 4, 39-42). O método vinde e vede é o mais simples para se conhecer uma realidade; é a verificação mais honesta de qualquer anúncio, porque, para conhecer, é preciso encontrar, permitir à pessoa que tenho à minha frente que me fale, deixar que o seu testemunho chegue até mim.

A rede, com as suas inumeráveis expressões no social, pode multiplicar a capacidade de relato e partilha: muitos mais olhos abertos sobre o mundo, um fluxo contínuo de imagens e testemunhos. A tecnologia digital dá-nos a possibilidade duma informação em primeira mão e rápida, por vezes muito útil; pensemos nas emergências em que as primeiras notícias e mesmo as primeiras informações de serviço às populações viajam precisamente na web. É um instrumento formidável, que nos responsabiliza a todos como usuários e desfrutadores. Potencialmente, todos podemos tornar-nos testemunhas de acontecimentos que de contrário seriam negligenciados pelos meios de comunicação tradicionais, oferecer a nossa contribuição civil, fazer ressaltar mais histórias, mesmo positivas. Graças à rede, temos a possibilidade de contar o que vemos, o que acontece diante dos nossos olhos, de partilhar testemunhos.

Entretanto foram-se tornando evidentes, para todos, os riscos duma comunicação social não verificável. Há tempo que nos demos conta de como as notícias e até as imagens sejam facilmente manipuláveis, por infinitos motivos, às vezes por um banal narcisismo. Uma tal consciência crítica impele-nos, não a demonizar o instrumento, mas a uma maior capacidade de discernimento e a um sentido de responsabilidade mais maduro, seja quando se difundem seja quando se recebem conteúdos. Todos somos responsáveis pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos, pelo controle que podemos conjuntamente exercer sobre as notícias falsas, desmascarando-as. Todos estamos chamados a ser testemunhas da verdade: a ir, ver e partilhar.

Na comunicação, nada pode jamais substituir o ver pessoalmente. Algumas coisas só se podem aprender, experimentando-as. Na verdade, não se comunica só com as palavras, mas também com os olhos, o tom da voz, os gestos. O intenso fascínio de Jesus sobre quem O encontrava dependia da verdade da sua pregação, mas a eficácia daquilo que dizia era inseparável do seu olhar, das suas atitudes e até dos seus silêncios. Os discípulos não só ouviam as suas palavras, mas viam-No falar. Com efeito, n’Ele – Logos encarnado – a Palavra ganhou Rosto, o Deus invisível deixou-Se ver, ouvir e tocar, como escreve o próprio João (cf. 1 Jo 1, 1-3). A palavra só é eficaz, se se , se te envolve numa experiência, num diálogo. Por esta razão, o vinde e vede era e continua a ser essencial.

A boa nova do Evangelho difundiu-se pelo mundo, graças a encontros pessoa a pessoa, coração a coração: homens e mulheres que aceitaram o mesmo convite – vinde e vede –, conquistados por um a mais de humanidade que transparecia brilhou no olhar, na palavra e nos gestos de pessoas que testemunhavam Jesus Cristo.

Todos os instrumentos são importantes, e aquele grande comunicador que se chamava Paulo de Tarso ter-se-ia certamente servido do WhatsApp, Instagram, e-mail e das mensagens eletrônicas; mas foram a sua fé, esperança e caridade que impressionaram os contemporâneos que o ouviram pregar e tiveram a sorte de passar algum tempo com ele, de o ver durante uma assembleia ou numa conversa pessoal. Ao vê-lo agir nos lugares onde se encontrava, verificavam como era verdadeiro e frutuoso para a vida aquele anúncio da salvação de que ele era portador por graça de Deus. E mesmo onde não se podia encontrar pessoalmente este colaborador de Deus, o seu modo de viver em Cristo era testemunhado pelos discípulos que enviava (cf. 1 Cor 4, 17).

 

Escutar com os ouvidos do coração (ano de 2022):

Com efeito, estamos a perdendo a capacidade de ouvir a pessoa que temos à nossa frente, tanto na rede normal das relações quotidianas como nos debates sobre os assuntos mais importantes da convivência civil. Ao mesmo tempo, a escuta está a experimentar um novo e importante desenvolvimento em campo comunicativo e informativo, através das várias ofertas de podcasts etc, confirmando que a escuta continua essencial para a comunicação humana.

A escuta corresponde ao estilo humilde de Deus. Ela permite a Deus revelar-Se como Aquele que, falando, cria o homem à sua imagem e, ouvindo-o, reconhece-o como seu interlocutor. Deus ama o homem: por isso lhe dirige a Palavra, por isso inclina o ouvido para o escutar.

O homem, ao contrário, tende a fugir da relação, a virar as costas e fechar os ouvidos para não ter de escutar. Esta recusa de ouvir acaba muitas vezes por se transformar em agressividade sobre o outro, como aconteceu com os ouvintes do diácono Estêvão que, tapando os ouvidos, atiraram-se todos juntos contra ele (cf. At 7, 57).

Assim temos, por um lado, Deus que sempre Se revela comunicando-Se livremente, e, por outro, o homem, a quem é pedido para sintonizar-se, colocar-se à escuta. O Senhor chama explicitamente o homem a uma aliança de amor, para que possa tornar-se plenamente aquilo que é: imagem e semelhança de Deus na sua capacidade de ouvir, acolher, dar espaço ao outro. No fundo, a escuta é uma dimensão do amor.

Por isso Jesus convida os seus discípulos a verificar a qualidade da sua escuta. Vede, pois, como ouvis (Lc 8, 18): faz-lhes esta exortação depois de ter contado a parábola do semeador, sugerindo assim que não basta ouvir, é preciso fazê-lo bem. Só quem acolhe a Palavra com o coração bom e virtuoso e A guarda fielmente é que produz frutos de vida e salvação (cf. Lc 8, 15). Só prestando atenção a quem ouvimos, àquilo que ouvimos e ao modo como ouvimos é que podemos crescer na arte de comunicar, cujo cerne não é uma teoria nem uma técnica, mas a capacidade do coração que torna possível a proximidade (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 171).

Por isso, a primeira escuta a reaver quando se procura uma comunicação verdadeira é a escuta de si mesmo, das próprias exigências mais autênticas, inscritas no íntimo de cada pessoa. E não se pode recomeçar senão escutando aquilo que nos torna únicos na criação: o desejo de estar em relação com os outros e com o Outro. Não fomos feitos para viver isolados, mas juntos, conectados, formando redes de apoio.

Portanto, a escuta é o primeiro e indispensável ingrediente do diálogo e da boa comunicação. Não se comunica se primeiro não se escutou, sem a capacidade de escutar. Para fornecer uma informação sólida, equilibrada e completa, é necessário ter escutado prolongadamente. Para narrar um acontecimento ou descrever uma realidade, é essencial ter sabido escutar, prontos mesmo a mudar de ideia, a modificar as próprias hipóteses iniciais.

Com efeito, só se sairmos do monólogo é que se pode chegar àquela concordância de vozes que é garantia duma verdadeira comunicação. Ouvir várias fontes, não parar na primeira locanda – como ensinam os especialistas do oficio – garante credibilidade e seriedade à informação que transmitimos. Escutar várias vozes, ouvir-se – inclusive na Igreja – entre irmãos e irmãs, permite-nos exercitar a arte do discernimento, que se apresenta sempre como a capacidade de se orientar numa sinfonia de vozes.

A capacidade de escutar a sociedade é ainda mais preciosa neste tempo ferido pela longa pandemia. A grande desconfiança que anteriormente se foi acumulando relativamente à informação oficial, causou também uma espécie de info-demia dentro da qual é cada vez mais difícil tornar credível e transparente o mundo da informação. É preciso inclinar o ouvido e escutar em profundidade, sobretudo o mal-estar social agravado pelo contexto das frequentes Fake News constantemente propagadas.

Na ação pastoral, a obra mais importante é o apostolado do ouvido. Devemos escutar, antes de falar, como exorta o apóstolo Tiago: cada um seja pronto para ouvir, lento para falar (1, 19). Oferecer gratuitamente um pouco do próprio tempo para escutar as pessoas é o primeiro gesto de caridade.

Recentemente deu-se início a um processo sinodal. Rezemos para que seja uma grande ocasião de escuta recíproca. Com efeito, a comunhão não é o resultado de estratégias e programas, mas edifica-se na escuta mútua entre irmãos e irmãs. Como num coro, a unidade requer, não a uniformidade, a monotonia, mas a pluralidade e variedade das vozes, a polifonia. Ao mesmo tempo, cada voz do coro canta escutando as outras vozes na sua relação com a harmonia do conjunto. Esta harmonia é concebida pelo compositor, mas a sua realização depende da sinfonia de todas e cada uma das vozes.

 

Dizer a verdade com o coração (ano de 2023)

Foi o coração que nos moveu para ir ver e escutar, e é o coração que nos move para uma comunicação aberta e acolhedora. Após o nosso treino na escuta, que requer saber esperar e paciência, podemos entrar na dinâmica do diálogo e da partilha que é, em concreto, comunicar cordialmente. E, se escutarmos o outro com coração puro, conseguiremos também falar testemunhando a verdade no amor (cf. Ef 4, 15).

Não devemos ter medo de proclamar a verdade, por vezes incômoda, mas de o fazer sem amor, sem coração. Com efeito o programa do cristão – como escreveu Bento XVI – é “um coração que vê” (Carta enc. Deus caritas est, 2005, 31). Trata-se de um coração que revela, com o seu palpitar, o nosso verdadeiro ser e, por essa razão, deve ser ouvido. Isto leva o ouvinte a sintonizar-se no mesmo comprimento de onda, chegando ao ponto de sentir no próprio coração também o pulsar do outro. Então pode ter lugar o milagre do encontro, que nos faz olhar uns para os outros com compaixão, acolhendo as fragilidades recíprocas com respeito, em vez de julgar a partir dos boatos semeando discórdia e divisões.

Comunicar com o coração quer dizer que a pessoa que nos lê ou escuta é levada a deduzir a nossa participação nas alegrias e receios, nas esperanças e sofrimentos das mulheres e homens do nosso tempo. Quem assim fala, ama o outro, pois preocupa-se com ele e salvaguarda a sua liberdade, sem a violar. Podemos ver este estilo no misterioso caminhante que dialoga com os discípulos a caminho de Emaús depois da tragédia que se consumou no Gólgota. A eles, Jesus ressuscitado fala com o coração, acompanhando com respeito o caminho da sua amargura, propondo-Se e não Se impondo, abrindo-lhes amorosamente a mente à compreensão do sentido mais profundo do sucedido. De facto, eles podem exclamar com alegria que o coração lhes ardia no peito enquanto Ele conversava pelo caminho e lhes explicava as Escrituras (cf. Lc 24, 32).

Num período da história marcado por polarizações e oposições – de que, infelizmente, nem a comunidade eclesial está imune – o empenho em prol duma comunicação com o coração e de verdade não diz respeito exclusivamente aos agentes da informação, mas é responsabilidade de cada um. Todos somos chamados a procurar a verdade e a dizê-la, fazendo-o com amor.

Por vezes, o falar amável abre uma brecha até nos corações mais endurecidos. Experimentamos isso na convivência social, onde a gentileza não é questão apenas de etiqueta, mas um verdadeiro antídoto contra a crueldade, que pode, infelizmente, envenenar os corações e intoxicar as relações. Precisamos daquele falar amável no âmbito dos meios de comunicação, para que a comunicação não fomente uma aversão que exaspere, gere ódio e conduza ao confronto, mas ajude as pessoas a refletir calmamente, a decifrar com espírito crítico e sempre respeitoso a realidade onde vivem.

Somos aquilo que comunicamos: uma lição contracorrente hoje, num tempo em que, como experimentamos particularmente nas redes sociais, a comunicação é muitas vezes instrumentalizada para que o mundo nos veja, não por aquilo que somos, mas como desejaríamos ser.

Hoje, com o caminho sinodal que estamos trilhando e rumo ao Jubileu de 2025, também na Igreja há grande necessidade de escutar e de nos escutarmos. “É o dom mais precioso e profícuo que podemos oferecer uns aos outros” (Papa Francisco, Mensagem para o dia Mundial das Comunicações Sociais, 2022). Duma escuta sem preconceitos, atenta e disponível, nasce um falar segundo o estilo de Deus, que se sustenta de proximidade, compaixão e ternura.

Na Igreja, temos urgente necessidade duma comunicação que inflame os corações, seja bálsamo nas feridas e ilumine o caminho dos irmãos e irmãs. Uma comunicação que coloque no centro a relação com Deus e com o próximo, especialmente o mais necessitado, e esteja mais preocupada em acender o fogo da fé do que em preservar as cinzas duma identidade autorreferencial. Uma comunicação, cujas bases sejam a humildade no escutar e o desassombro no falar e que nunca separe a verdade do amor.

Precisamos de comunicadores prontos a dialogar, ocupados na promoção da paz e empenhados em desmantelar o espírito combativo e polarizado que se aninha nos nossos corações. Comunicadores não postos à defesa, mas ousados e criativos, prontos a arriscar na procura dum terreno comum onde encontrar-se.

 

As IA’s e sabedoria do coração.

O tema escolhido pelo Papa Francisco para o 58º Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano de 2024 é “Inteligência artificial e sabedoria do coração: por uma comunicação plenamente humana”. A resposta sobre como os comunicadores, devemos agir já está clara, tanto pelo complemento do tema deste ano quanto pelos três últimos temas que foram tratados.

Não há comunicação que salve e acolha sem a presença humana. Conforme nos ensina a Teoria da Comunicação, sempre temos emissores e receptores nas extremidades dos canais que transmitirão as mensagens.

Mesmo que o “Emissor” seja um Chatgpt ou um Chatbot, sem a intervenção humana para criar e fundamentar a mensagem, não haverá comunicação humanizada. Porém, quando falamos em “comunicação humanizada”, não se trata apenas da presença humana, mas sim de uma comunicação elaborada para acolher a todos.

As chamadas IA’s existem para otimizar os processos e, infelizmente, às vezes são usadas para uma comunicação que exclui, é fria, falsa (fake news), fácil e carente da presença de um coração que pulsa em sintonia com a evangelização.

A inteligência artificial compreende todos os sistemas criados para otimizar e acelerar processos em diversas áreas. Na comunicação, a IA está presente em vários pontos do processo, desde a criação de imagens e textos até vídeos e áudios, incluindo o planejamento para redes sociais e o engajamento do conteúdo distribuído.

Quando falamos em engajamento, algumas metas já são definidas pelo algoritmo (o famoso “robô” das redes sociais), como curtidas, compartilhamentos, comentários e visualizações. Consequentemente, quanto mais interações o conteúdo receber, maior será sua entrega para mais pessoas, aumentando em quantidade todos os itens mencionados.

Porém, essa busca fervorosa por engajamento cria cenários nos quais nos tornamos escravos do algoritmo, preocupando-nos exclusivamente com o status de quantidade, muitas vezes negligenciando a “qualidade” e o impacto que a comunicação terá nas vidas dos receptores, especialmente os fiéis de nossas comunidades.

Na carta publicada pelo Papa Francisco, ele nos alerta que devemos: “orientar a inteligência artificial e os algoritmos, de modo que haja em todos nós uma consciência responsável no uso e no desenvolvimento dessas diferentes formas de comunicação, que acompanham as das redes sociais e da internet. A comunicação deve ser orientada para uma vida mais plena da pessoa humana”.

Nossa missão como comunicadores é reconhecer que o digital existe para “divulgar” o presencial de nossas igrejas, distribuindo as ações criadas pelas pastorais e servindo como o elo da evangelização no ambiente da internet.

As ferramentas de IA disponíveis devem ser conhecidas por todos nós e utilizadas como ferramentas para transmitir a mensagem de Cristo, gerada pelas ações de tantos corações distribuídos nas pastorais paroquiais, com a linguagem produzida por seres humanos, como também nos alerta o Papa: “a evolução dos sistemas de inteligência artificial torna cada vez mais natural a comunicação através e com as máquinas, de tal modo que se tornou cada vez mais difícil distinguir o cálculo do pensamento, a linguagem produzida por uma máquina daquela gerada pelos seres humanos”.

 

Os Algortimos e a Evangelização.

No entanto, a utilização dos meios sociais também apresenta desafios, principalmente quando se trata da influência dos algoritmos. Como afirma a carta Apostólica “O Rápido Desenvolvimento” (2005) de São João Paulo II, a Igreja reconhece a importância de compreender o funcionamento dos algoritmos e de utilizá-los de forma ética e responsável. Os algoritmos das redes sociais têm o poder de direcionar o conteúdo que é apresentado aos usuários, o que pode influenciar a forma como os fiéis são impactados.

Para que a Igreja possa aproveitar ao máximo os meios sociais e utilizar os algoritmos de maneira eficaz na evangelização, é fundamental que haja um engajamento ativo por parte dos agentes pastorais. Conforme destacado em “Communio et Progressio” (1971), a Igreja precisa estar atenta às mudanças sociais e culturais, e utilizar os meios de comunicação de forma a alcançar o maior número de pessoas possível.

Além disso, a Igreja também deve promover a formação dos fiéis no que diz respeito ao uso consciente e responsável das redes sociais. Segundo o “Inter Mirifica” (1963), a Igreja destaca a importância da formação dos fiéis. O objetivo é que eles possam discernir a qualidade e veracidade do conteúdo consumido nas redes sociais, além de como interagem com ele.

Neste sentido, é fundamental que os comunicadores estejam atentos às especificidades dos algoritmos e à forma como estes influenciam a propagação do conteúdo nas redes sociais. Através de uma formação contínua e de iniciativas de engajamento, a Igreja pode utilizar os meios sociais de maneira efetiva, promovendo uma evangelização autêntica e relevante para os fiéis católicos.

Os sacerdotes têm a oportunidade de compartilhar conteúdos significativos que abordem temas atuais, relacionados à fé, espiritualidade, valores humanos e questões sociais. Ao fazê-lo de forma autêntica e relevante para a realidade das pessoas, podem estabelecer uma conexão mais profunda e significativa com os fiéis.

Além disso, é crucial incentivar a interação com os fiéis por meio de perguntas, enquetes, desafios e esclarecimentos de dúvidas, fomentando um ambiente de diálogo e compartilhamento de experiências nas redes sociais. Essa interação promove um senso de comunidade e pertencimento.

Ao adotar uma linguagem clara, acolhedora e acessível nas publicações, os padres podem se comunicar de forma eficaz com diferentes públicos, especialmente os mais jovens, alcançando uma maior compreensão e engajamento.

A transmissão ao vivo de eventos, celebrações e momentos de oração através das mídias sociais permite que os fiéis acompanhem mesmo à distância, fortalecendo o senso de participação na vida da comunidade religiosa. A utilização de recursos visuais e multimídia, como fotos, vídeos, infográficos e memes, torna o conteúdo mais atrativo e compartilhável, possibilitando um maior alcance nas redes sociais.

Por fim, engajar os fiéis em causas sociais e projetos de solidariedade por meio das mídias sociais incentiva a participação ativa em ações concretas de caridade e justiça, fortalecendo a dimensão social da fé.

A Igreja Católica reconhece a importância dos meios sociais e dos algoritmos na evangelização dos fiéis. É fundamental que a Igreja esteja atenta às demandas e desafios impostos pelas novas tecnologias, e que utilize os meios sociais de forma ética e responsável. Através do engajamento ativo e da formação dos fiéis, a Igreja pode promover uma evangelização autêntica e relevante, alcançando um número cada vez maior de pessoas e transformando suas vidas através da mensagem do Evangelho.

 

Palavras finais.

Os desafios são muitos: a superficialidade da comunicação digital, o risco de mal-entendidos, a tentação do narcisismo e a rápida propagação de informações falsas. No entanto, as oportunidades são ainda maiores: a possibilidade de alcançar um público vasto, a interatividade, e a capacidade de responder rapidamente às necessidades pastorais dos fiéis.

Os padres, como líderes espirituais e pastores, têm a responsabilidade de serem comunicadores eficazes da Palavra de Deus. Seguindo o exemplo de Jesus Cristo e dos apóstolos, e utilizando os meios de comunicação modernos com sabedoria e prudência, eles podem continuar a missão evangelizadora da Igreja de maneira eficaz e relevante.

Que o Espírito Santo guie cada sacerdote em seu ministério comunicador, para que, através de suas palavras e ações, o Reino de Deus seja proclamado a todos os cantos da terra. “A Palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração” (Romanos 10:8). Que esta verdade inspire todos os padres a serem ardentes comunicadores do Evangelho.

 

Fontes:

– Artigo de D. Orani sobre os Padres e a Comunicação (CNBB, 17/05/2010): O Padre e a Comunicação.

– Bento XVI: Mensagem para o dia Mundial das Comunicações Sociais (Ano Sacerdotal 2010): O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da Palavra.

– Papa Francisco: Mensagem para o dia Mundial das Comunicações Sociais (2021, 2022 e 2023).

– 3 artigos Site Pascom Brasil: Comunicação Eclesial a partir do Papa Francisco, As IA’s e sabedoria do coração e  Algoritmo x Evangelização.

 

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