Estamos celebrando o XXIV Domingo do Tempo Comum. A liturgia nos apresenta, por meio do Evangelho, Jesus a caminho de Jerusalém. E enquanto caminhava perguntou, em tom familiar, aos discípulos que o acompanhavam: “Quem dizem os homens que eu sou?” (Mc 8, 27-35). E eles, com simplicidade, contaram-lhe o que lhes chegava aos ouvidos: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros que és Elias”. Então Ele voltou a interrogá-los: “E vós, quem dizeis que eu sou?”.
Na primeira leitura – Is 50, 5-9a – temos o episódio do servo sofredor. O profeta Isaías descreveu, antecipadamente, o sofrimento da Paixão e Morte de Jesus. Os primeiros cristãos o identificaram como prefiguração de Jesus, o Messias crucificado por amor e fidelidade aos propósitos do Pai. O profeta Isaias parece um jornalista que descreve a Paixão de Jesus como quem assistiu o sacrifício redentor do próprio Deus! Irmãos e irmãs, nós fomos resgatados pelo Sangue do Filho de Deus! Deus não brincou de Salvador! Ele morreu de fato, suportando dores infinitas!
Na segunda leitura – Tg 2, 4-18 – o Apóstolo São Tiago orienta-nos a respeito da verdadeira fé, que precisa ser acompanhada de obras para ser verdadeira! Para consolar um faminto não é suficiente uma palavra de carinho… é necessário saciar sua fome de pão! Nossa prática religiosa deve ser de verdade e não de apenas palavras. Nossa fé em Jesus deve se manifestar mediante obras concretas, obras! Pois São Tiago afirma: “Se a fé não se traduz em obras, por si só está morta!”. A fé é o amor que devemos ter por Jesus, amor de verdade; Ele nos amou de verdade e nós, de igual maneira, devemos amar de verdade e de sangue, se necessário, dar nossa vida por Ele!
No Evangelho – Mc 8, 27-35 – não é suficiente confessar a divindade de Jesus; é necessário segui-lo no caminho da cruz. A confissão da divindade de Jesus exige nossa conversão, precisamos viver como Jesus, cumprindo a vontade do Pai para a redenção do mundo. Jesus explicava aos discípulos que a sua Missão messiânica passa pela cruz. Pedro reage e tenta afastar Jesus do Plano do Pai. Jesus lhe responde: “Vai para longe de mim, satanás! Porém, antes Pedro dissera: “Tu és o Messias”. Os Apóstolos, pela boca de Pedro, deram a Jesus a resposta certa depois de dois anos de convivência e trato. Nós, como eles, “temos de percorrer um caminho de escuta atenta, diligente. Temos de ir à escola dos primeiros discípulos, que são as suas testemunhas e os nossos mestres e, ao mesmo tempo, temos de receber a experiência e o testemunho de nada menos que 20 séculos de história, sulcados pela pergunta do Mestre e enriquecidos pelo imenso coro das respostas dos fiéis de todos os tempos e lugares” (São João Paulo II).
A primeira preocupação do cristão deve, pois, consistir em viver a vida de Cristo, em incorporar-se a Ele, como os ramos à videira. O ramo depende da união com a videira, que lhe envia a seiva vivificante; separado dela, seca e é lançado ao fogo. Diz Jesus: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”.
Quando Jesus disse “se alguém quer vir após mim”, tinha presente que o cumprimento da sua missão o levaria à morte de cruz; por isso fala claramente da sua Paixão. Mas também a vida cristã, vivida como se deve viver, com todas as suas exigências, é uma cruz que se deve levar em seguimento de Cristo.
A cruz é o sinal do cristão. Que o Senhor nos conceda a graça de também segui-lo na cruz; de perder a vida por causa de Cristo, para salvá-la. Deus criou o ser humano à sua imagem e semelhança, criou-o livre, mas ele sucumbiu à tentação da serpente, pecou e perdeu toda a graça divina com que estava ornado desde a criação! Mas Deus não se deixou vencer pela serpente: planejou seu resgate mediante a cruz! Nós fomos resgatados pela cruz sangrenta de Jesus! O sangue divino, derramado na cruz e na vida sofrida de Jesus. Este é o mistério incompreensível do amor divino: somos resgatados pelo sangue do Filho de Deus!
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ