Cadernos do Concílio – Volume 30 – A cultura

Hoje nos debruçaremos no volume trinta da Coleção Cadernos do Concílio Ecumênico Vaticano II que tem como tema: “A cultura”. Esse é um tema um pouco amplo e complexo, porque cada povo, cada nação tem a sua cultura própria e precisa ser respeitada. Inclusive aqui no Brasil, um país tão amplo que tem uma cultura diversificada em seus diversos estados.

Desta forma, quando formos evangelizar em nome da Igreja temos que respeitar as diversas culturas e a maneira com a qual eles rezam e celebram os sacramentos e vivem a liturgia. A essência da missa não muda em qualquer parte do mundo, as leituras proclamadas aqui são as mesmas proclamadas no Japão, na China, nos Estados Unidos, enfim. O que muda são os demais ritos, por exemplo, músicas, crença popular, e a forma com que as pessoas se aproximam de Deus.

Por isso, é preciso respeitar a liberdade de crença de cada povo, não podemos chegar em um local diferente e impor à nossa cultura. Inclusive o Concílio Ecumênico Vaticano II através da reforma litúrgica deu essa abertura para que cada povo celebre a Eucaristia de acordo com a sua cultura. Com a reforma litúrgica foi permitida a celebração da missa na língua vernácula, ou seja, a língua fluente naquele país e não mais obrigatoriamente o latim. Isso permitiu uma maior aproximação com os fiéis, e uma abertura maior para a inculturação.

Outro desafio de comunicação nos dias de hoje, e não deixa de ser uma forma de inculturação, é a internet. Principalmente a partir da pandemia de Covid-19, a internet tomou uma proporção maior ainda, inclusive com transmissão de missas, adoração ao Santíssimo e outros momentos de oração. Mesmo com a transmissão pela internet é necessário celebrar a missa e os sacramentos presencialmente e de maneira que abrangem todas as culturas, e todos que assistirem a transmissão sintam-se alcançados por aquela celebração.

Evangelizar nos dias de hoje é um grande desafio, mas temos que aproveitar todos os meios que aparecem para nós. Sabemos que há pessoas que, desde a pandemia da Covid-19, ainda não retornaram para a Igreja, por isso algumas paróquias ainda continuam a transmissão da missa pelos meios digitais. Outra maneira de chegar até essas pessoas que deixaram de frequentar a Igreja (desigrejados) desde a pandemia é ir até a casa delas, visitá-las, conversar com a família e ver a possibilidade de ministrar a Eucaristia. Convidar a família para que frequente a Igreja e participe da celebração Eucarística.

Faz parte de algumas culturas, inclusive aqui no Brasil, a celebração das missas nas casas junto às comunidades que lá se congregam, do mesmo modo que acontecia nos primeiros séculos da Igreja. Aqui no Brasil essas celebrações acontecem sobretudo em algumas regiões em específico, em que o território paroquial é muito grande. Isso faz parte da cultura do povo brasileiro e é preciso manter, e respeitando a cultura de cada local onde estamos inseridos.

Há quase cinquenta anos atrás o Papa São Paulo VI publicou uma Exortação Apostólica chamada “Evangelii Nuntiandi”. Esse documento trata sobre a evangelização no mundo contemporâneo, que já era uma preocupação naquela época, que dirá nos dias de hoje com o avanço da tecnologia. A Igreja tem que estar inserida na cultura, pois ninguém deve estar de fora da evangelização, o evangelho tem que ser anunciado em todos os lugares e para todas as pessoas.

Como dizia o Papa São Paulo VI, o anúncio do evangelho deve transformar a sociedade, ou seja, onde há o ódio levar o perdão, onde há brigas levar a paz, e onde há desunião levar a união, tudo isso pode ser transformado a partir do anúncio do Evangelho. Infelizmente vivemos em uma sociedade que a todo custo quer ser laicista, ou seja, quer viver sem professar uma religião. Por isso, é urgente que cada paróquia faça um trabalho missionário e entre nas comunidades, escolas, casas e anunciem em primeiro lugar Jesus Cristo, e falem da importância de ter fé que todos busquem os sacramentos.

Após esse anúncio primeiro do Evangelho, é necessário entrar nas comunidades e começar a celebrar as missas nas casas das pessoas, é a partir desses momentos que surgem novas comunidades. Temos que levar Jesus Cristo para as pessoas, através da Eucaristia, partilhar o bem espiritual para que depois possa partilhar o bem material. É preciso ensinar as pessoas a conformarem a sua vida com a fé que professam.

Antes, porém, é necessário converter o coração das pessoas, dizer para aqueles que não professam fé alguma o quão importante é ter uma religião. Do mesmo modo que aconteceu com Paulo que perseguia os cristãos e o Senhor abriu os seus olhos e o chamou. Paulo se torna o apóstolo dos gentios e um grande evangelizador, temos que oferecer aos outros aquilo que temos de mais precioso: Jesus Cristo.

Diante de uma sociedade tão complexa com diversas raças e credos temos que continuar a nossa missão de discípulos e missionários de Jesus Cristo. Que possamos vencer o medo e anunciar Jesus Cristo na escola, no trabalho, em casa, e mostremos a sociedade a importância de ter fé.

Convido a todos a tomarem esse volume trinta da Coleção Cadernos do Concílio Ecumênico Vaticano II – uma publicação das edições CNBB – em vista do Jubileu da Esperança, em mãos e aprofundar mais sobre o tema, e convido também a lerem a Exortação Apostólica do Papa São Paulo VI “Evangelii Nuntiandi.

A nossa cultura brasileira sedimenta-se pelo conhecimento e pela vivência dos valores do Evangelho de Jesus Cristo Ressuscitado!

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

 

 

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