Cadernos do Concílio – Volume 31 – Economia e finanças

Hoje nos debruçaremos no volume 31 da coleção Cadernos do Concílio Ecumênico Vaticano II – uma tradução e publicação das Edições CNBB – que tem como tema: “Economia e finanças”. Esse é um tema bem complexo e de grande preocupação para a Igreja, pois a mensagem evangélica deixada por Jesus é que não devemos acumular bens aqui na terra, e nosso maior tesouro deve ser o Reino dos Céus. Jesus ensina também que devemos partilhar aquilo que temos a mais com aqueles que pouco ou nada têm.

Jesus não condenava ninguém, nem mesmo aqueles que possuíam bens materiais e os conquistaram com o suor do seu rosto e muito trabalho. O que Jesus, de certa forma, condena é possuir os bens e não partilhar com aqueles que pouco ou nada têm. Não podemos juntar tesouros aqui na terra, dessa vida não levaremos nada, o nosso maior tesouro é o Reino dos Céus.

Um cristão católico não pode comungar da Eucaristia, participar do banquete do Senhor e não partilhar aquilo tem com os mais pobres. Seria uma incoerência partilhar o alimento espiritual e não partilhar o alimento material. O banquete eucarístico é para todos, o Senhor não exclui ninguém, por isso, não podemos fazer distinção de pessoas, e devemos ajudar a todos, sobretudo os mais pobres.

No mundo de hoje, vemos muitas desigualdades sociais: enquanto uns têm muito, outros têm pouco. Quantas pessoas vivem sem saneamento básico, sem uma educação de qualidade, sem saúde adequada e, ainda, muitas pessoas sequer têm o alimento necessário à mesa, e têm de ir em busca de comida. Essa situação se agravou mais após a pandemia de Covid-19, quando muitas pessoas ficaram desempregadas e, assim, não era possível comprar alimento nem pagar o aluguel de suas casas.

Nós, como Igreja, podemos ajudar, em primeiro lugar, oferecendo alimento, cobertores, roupas e abrigo para aqueles que vivem em situação de rua. Em segundo lugar, intercedendo por essas pessoas para que olhem sua situação, amenizando a dor dessas pessoas, oferecendo-lhes abrigo, emprego, saúde e saneamento.

Vivemos num mundo que progride muito rapidamente, por meio de tecnologia, carros modernos, celulares de última geração, casas modernas, enfim, muita coisa. Para acompanhar esse progresso é preciso olhar com carinho para todos os níveis da sociedade, preocupando-se com aqueles que vivem em situação de rua, oferecendo educação, saúde, emprego e moradia. Dessa forma estaremos no caminho para a construção de uma sociedade perfeita.

Deveria ser uma responsabilidade de todos os povos eliminar as desigualdades sociais. Viveríamos num mundo mais justo se ninguém passasse fome ou frio, se todos tivessem saúde adequada, emprego e moradia. Esse mundo é possível, começa com cada um de nós oferecendo ajuda a essas pessoas e buscando, junto às autoridades, resolver essa situação. Aos empresários e donos de empresas, fazemos um apelo para que possam abrir vagas de trabalho para quem está desempregado. Aos prefeitos e governadores, que eles ofereçam políticas públicas que facilitem moradias populares para essas pessoas. Além de saneamento básico, saúde e educação para todos.

A exemplo do que o Papa Francisco diz na Exortação Apostólica Fratelli Tutti (2020), somos todos irmãos. Conforme diz o mote da Campanha da Fraternidade deste ano, “Fraternidade e amizade social”, a partir do batismo nos tornamos filhos de Deus, irmãos de Cristo e irmãos uns dos outros. Pelo fato de sermos irmãos uns dos outros, temos que nos preocupar com todos, não deixando que ninguém fique sem alimento, sem roupa, sem casa, e sem o básico para viver. Dessa forma, construiremos uma sociedade mais justa e fraterna e acabaremos com as desigualdades.

Quando somos batizados, nos tornamos discípulos e missionários do Senhor, e somos chamados a ser sacerdotes, profetas e reis, e ainda ser sal na terra e luz no mundo. Diante disso, temos que combater as injustiças, anunciar o Reino de Deus e ser luz na vida das pessoas. É nossa missão, como católicos, edificar uma sociedade mais justa e fraterna e lutar para que todos tenham os mesmos direitos.

É muito importante o trabalho na vida de uma pessoa, mais ainda o trabalho feito com responsabilidade e com dignidade. O trabalho dignifica o homem. Por meio do trabalho é possível conseguir o sustento próprio e para a família, é possível pagar as contas e ainda sobrar um pouco para se divertir com a família. Só temos que tomar cuidado para não sermos explorados no emprego e obrigados a fazer algumas coisas que irão nos prejudicar mais adiante, e se possuímos algum cargo de gestão, não obrigar ninguém a fazer aquilo que não gostaríamos de fazer.

Outra questão a ser discutida e que coopera para que todos vivam como irmãos em nosso planeta é cuidar do meio ambiente, conforme o Papa Francisco diz na outra Exortação Apostólica Laudato Si’ (2015). Diante das transformações que vemos em nosso planeta, com o aumento do aquecimento global, aumento das queimadas, com a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, enfim, se quisermos dar sobrevida ao nosso planeta e garantir um futuro próspero para as próximas gerações, temos que preservar o planeta, cuidando do meio ambiente e evitando poluí-lo. O simples fato de não jogar lixo no chão já é um começo.

Convido a tomarem esse volume 31 da coleção Cadernos do Concílio Ecumênico Vaticano II – iniciativa das edições CNBB. Acessando o site www.edicoescnbb.com.br você poderá adquirir a coleção. Tendo-a em mãos poderá se aprofundar mais sobre o tema. Além disso, ler as Exortações Apostólicas Laudato Si’ (2015) e Fratelli Tutti (2020), exortações do Papa Francisco que nos ajudam a ter um maior cuidado com o meio ambiente, sempre pensando no próximo. O mundo está em nossas mãos, cuidemos dele para garantir um futuro melhor para as próximas gerações. Além disso, olhemos para as necessidades de nossos irmãos e irmãs e estendamos as mãos, conforme Jesus nos ensinou. Amém.

Cardeal Orani João Tempesta

Arcebispo do Rio de Janeiro

 

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