Celebramos no dia 22 de outubro a memória litúrgica do saudoso Papa São João Paulo II, muito querido por todos nós, e que devido a sua história de vida e por exalar o odor de santidade por onde passava logo foi canonizado pela Igreja. O pontificado de João Paulo II foi um dos mais longos da história da Igreja, e com certeza foi um pontificado que estreitou laços, endireitou caminhos tortuosos, e ensinou muito sobre o amor a Deus e ao próximo.
O Papa João Paulo II foi um exemplo de força e perseverança, pois continuou firme no pontificado mesmo após o atentado que sofreu e mesmo debilitado com a idade e doença permaneceu no pontificado até a morte. O pontificado de João Paulo II iniciou em 1978 e foi até 2005, ele foi eleito Papa logo após o pontificado brevíssimo de João Paulo I, que devido a um infarto teve a duração apenas de trinta e três dias.
O Papa João Paulo II seguiu a linha de pontificado iniciada por Paulo VI, ensinando a Humanidade o caminho do amor, ou seja, João Paulo II nos ensinou que é mais fácil construir pontes de amor do que ódio. O atual Pontífice, o Papa Francisco, também tem ensinado a Humanidade o caminho do amor e pedido que todos deixem o ódio e a guerra de lado e promovam a paz, optem pelo diálogo e não pelas armas.
João Paulo II assumiu o pontificado num tempo de transformação da Igreja, após o Concílio Ecumênico Vaticano II, ele atuou bastante na luta contra o comunismo, na defesa da família, possibilitou a abertura ao diálogo inter-religioso, e promoveu a paz entre as religiões. O Papa Wojtyla iniciou o seu pontificado dizendo: “Não tenham medo de abrir vossos corações ao Redentor!” Ele foi o Papa que mais viajou e realizou visitas pastorais, ao todo foram 129 países, em cada país que viajava beijava o chão do lugar como sinal de benção para aquele lugar. Tivemos a graça de receber o Sumo Pontífice aqui no Brasil por três vezes, em 1980, 1991 e 1997.
O funeral de João Paulo II aconteceu em 2005, marcado por muita comoção de todos os fiéis, pois conforme dissemos foi um pontificado que foi um marco entre o fim do século XX e início do século XXI, o novo milênio. Por isso, em seu funeral os fiéis o proclamavam santo, dizendo: “Santo Súbito”, ou seja, Santo imediatamente. Até mesmo quem não professava a fé católica sentiu a sua morte.
O Papa João Paulo II era polonês, cresceu em uma pequena vila, simples. O seu nome de batismo era Karol Józef Wojtyla, nasceu em 18 de maio de 1.920, em Wadowice. Era o mais novo de três irmãos, perdeu uma irmã, antes mesmo de seu nascimento. Karol Wojtyla era filho de oficial do exército polonês, seu pai também se chamava Karol e sua mãe Emilia Kaczorowska. A gestação de João Paulo II foi de risco, os médicos até sugeriram a sua mãe que interrompesse a gravidez, mas ela em um gesto profético seguiu adiante com a gestação e, depois de anos, ele se tornou um dos maiores nomes da Igreja.
Com a saúde debilitada, a mãe de Karol Wojtyla morreu quando ele tinha apenas nove anos. Três anos depois, seu irmão mais velho Edmund morreu também. Ele era médico e acabou contraindo a doença, estava em meio à pandemia da escarlatina. Karol sempre se lembrava com carinho do seu irmão, o chamando de mártir do dever.
Aos vinte e um anos de idade, Karol ficaria como único membro da família, seu pai faleceu. Foi com seu pai que ele aprendeu a amar a Virgem Maria, a bravura, o amor à pátria e a honestidade. Três grandes valores que devem nortear a vida do ser humano. A dor de João Paulo II transformou-se em oração, pois seu Pai deixou um grande exemplo de fé e confiança em Deus.
Mesmo com todas as perdas e se encontrando sozinho aos 21 anos de idade, um amor muito grande a Deus envolvia o coração de Karol, devido tudo aquilo que sua família lhe ensinou. Estava passando por dificuldades em seu país, devido à ocupação nazista na Polônia. Ele queria ser ator, mas para evitar ser deportado para a Alemanha, chegou a trabalhar numa pedreira e numa indústria química. Mesmo sem ser deportado, viu de perto os horrores que a guerra causava e as profundas marcas deixadas em sua amada terra natal Polônia. Conheceu várias histórias de sofrimento, a mais marcante foi de uma jovem de 13 anos, ele a salvou da fome após ela sair do campo de concentração. A dor de sua nação fez Karol enxergar que somente a paz pode ser um caminho para construir uma sociedade mais justa e fraterna.
Foi durante a ocupação nazista que o jovem Karol começou a trilhar o caminho do sacerdócio. De maneira clandestina, ingressou no seminário em 1942, tendo aulas secretas na residência do arcebispo de Cracóvia. Quatro anos mais tarde, em 1946, foi ordenado sacerdote pelo então Cardeal Adam Sapieha. Por doze anos intercalou a sua vida presbiteral com os estudos, licenciatura de ética filosófica, além daquilo que era próprio do ministério. Doze anos após a sua ordenação, Karol se tornou bispo de Ombi e bispo auxiliar de Cracóvia. Em 1964, se tornou arcebispo de Cracóvia e, em 1967, recebeu o título de cardeal por indicação de Paulo VI.
Karol Wojtyla foi eleito Papa em 1978, no conclave que sucedeu a João Paulo I. Foi o primeiro depois de 450 anos não sendo italiano. Escolheu como nome João Paulo II, e implantou em seu ministério valores que aprendeu durante toda a sua vida. Com um discurso conciliador, construiu “pontes” de amor, justiça e paz e abriu as portas da igreja para o diálogo Inter-religioso. Pregava que somente o amor poderia mudar o mundo e que as pessoas deveriam colocar em prática aquilo que tanto Jesus ensinou.
Foi com o Papa João Paulo II que iniciou a Jornada Mundial da Juventude que tem até hoje, instituiu o quarto conjunto de cinco mistérios no terço – conhecido como mistérios luminosos, esteve à frente do grande ano jubilar em 2000 e acompanhou de perto as transformações da Igreja e da sociedade.
O Papa João Paulo II foi defensor incansável da família e de seus valores e chamou a família de santuário da vida. Escreveu 14 encíclicas, organizou 15 assembleias do Sínodo dos Bispos, nomeou 231 cardeais, beatificou 1338 pessoas e canonizou 482 santos.
O Papa João Paulo II morreu em 2 de abril de 2005, após uma dura batalha contra o Mal de Parkinson. Mesmo com a gravidade da doença e algumas pessoas pedindo para deixar o ministério, persistiu até o fim. Seu funeral reuniu milhares de pessoas em Roma e mais de 200 representantes de governo.
Devo consignar minha gratidão a São João Paulo II que, sem mérito nenhum de minha parte, inscreveu-me no Colégio Episcopal como Bispo de São José do Rio Preto. Agradeço e bendigo a Deus pela benevolência de seu supremo pontificado para comigo e para com a Igreja!
Somos convidados ainda hoje a seguir o legado deixado pelo Papa João Paulo II, nos abrindo para o amor e para o perdão aos nossos irmãos. É só o amor que vai ser capaz de construir uma sociedade mais justa e fraterna. Sejamos anunciadores da paz e construtores do reino de Deus. Celebremos com alegria a sua memória litúrgica e que possamos lembrar de seus exemplos deixados para nós.
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ