“Por uma igreja sinodal: Comunhão, participação e missão”
Foi publicado no sábado, dia 26 de outubro, o documento final do Sínodo dos Bispos em Roma. Segundo pronunciamento do Santo Padre, o documento não se tornará uma exortação apostólica pós-sinodal, mas o Santo Padre recomendou que fosse publicado imediatamente. O processo sinodal não terminou com a assembleia; ele é permanente, pois agora é o momento de vivenciar tudo aquilo que foi discutido.
A palavra ‘sínodo’ significa ‘caminhar juntos’, ou seja, todos somos membros da Igreja de Cristo. O Espírito Santo nos orienta no caminho certo, perscruta nosso coração, abre nossos ouvidos para as necessidades do próximo e atende aos apelos que o Senhor nos faz.
Ao longo do Sínodo, muitas decisões são tomadas; por isso, não pode ser um processo rápido. As decisões precisam ser bem pensadas, pois envolvem o futuro da Igreja e das dioceses. Este Sínodo teve início em outubro de 2021, com a abertura pelo Papa Francisco, em Roma. Em seguida, até meados de 2022, ocorreu a fase diocesana, na qual os bispos, após ouvirem os sacerdotes e o povo de Deus em todas as suas expressões, e até mesmo outros grupos não católicos, e colherem as contribuições, tiveram até maio deste ano para enviar à Conferência Episcopal o que foi coletado. A próxima fase foi a continental, que abrangeu o período de setembro de 2022 a outubro de 2023. Por fim, ocorreu a terceira fase, a universal, a partir de outubro de 2023.
Após essas três fases e muito estudo sobre tudo o que foi enviado, foi possível publicar o documento final sobre o Sínodo. Como dissemos, o Sínodo significa “caminhar junto”; por isso, o Papa quer ouvir a todos — bispos, padres e leigos — para depois publicar o documento final. E, de fato, o próprio Papa Francisco ordenou, na clausura do Sínodo, em seu discurso, que o documento sinodal fosse publicado em sua totalidade. De tudo o que foi colhido, o Papa, junto com o magistério, estuda o que será melhor para a Igreja, conforme o que Jesus nos ensinou.
O tema que norteou o trabalho do Sínodo foi: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”; ou seja, todos nós que formamos a Igreja, que tem Cristo como cabeça, somos chamados a viver em comunhão uns com os outros, a participar da vida em comunidade e a ser missionários, levando adiante a Palavra de Deus. O desejo do Santo Padre, o Papa Francisco, é que sejamos uma Igreja sinodal, ou seja, que caminhemos juntos uns com os outros, entre irmãos de comunidade e com a Igreja.
Dessa forma, o processo sinodal não se encerra aqui, com a assembleia; agora surge a fase de implementação, ou seja, colocar em prática tudo o que foi discutido no Sínodo e publicado no documento. Não podemos chegar impondo o que foi discutido no Sínodo, pois as mudanças dependem da realidade eclesial de cada lugar.
O documento pós-sinodal faz um apelo para que os bispos sejam mais transparentes em relação à prestação de contas. Conforme afirma o Cardeal Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, estão em andamento trabalhos para dar mais espaço e poder às mulheres. Na verdade, desde o Concílio Ecumênico Vaticano II houve uma maior abertura para a presença das mulheres na vida da Igreja, sobretudo no que diz respeito à liturgia e aos sacramentos; mais mulheres se tornaram catequistas e ministras extraordinárias da Sagrada Comunhão. Até então, apenas homens estavam à frente dessas pastorais.
No último sábado, 26 de outubro, o Papa Francisco disse que o documento final do Sínodo é fruto de um trabalho de pelo menos três anos. Ao longo desse período, foi possível escutar o povo de Deus e pensar em uma Igreja mais sinodal, ou seja, onde todos caminhem juntos em um mesmo objetivo. Em cada capítulo, há referências bíblicas que organizam a mensagem, ligando-a com as palavras de Jesus ressuscitado, que nos incita a ter o sentimento de discípulos e missionários do Senhor e testemunhas do Evangelho.
Cada um de nós precisa testemunhar o Senhor com a vida, mais do que com as palavras. Essas palavras do Santo Padre estão explícitas no documento; ou seja, nós, como cristãos, temos que viver de acordo com o que está na Palavra de Deus, amar o próximo como Deus nos ama, perdoar o outro do mesmo modo que pedimos perdão.
Outro assunto que o documento trata é sobre a missão da Igreja no ambiente digital em tempos de IA. Não devemos usar a internet apenas para consultar redes sociais ou ver outro tipo de conteúdo; podemos usá-la para evangelizar e falar de Deus às pessoas. A internet muitas vezes é usada para o mal, tanto para prejudicar os outros como para acessar conteúdos que nos fazem mal, mas ela pode ser boa quando a utilizamos para fazer o bem.
Nos últimos anos, o mundo digital evoluiu muito. A distância não é mais um problema para falar com quem está longe, e podemos conversar a qualquer hora do dia. Muitas vezes, a missão nas ruas, de porta em porta, tem limite de horário e tempo para ocorrer, mas na internet podemos evangelizar a qualquer hora. Hoje é possível criar grupos no WhatsApp e evangelizar por meio desses grupos, tanto os da família como os da Igreja. Também é possível evangelizar pelo YouTube, transmitindo momentos de oração e, como algumas paróquias ainda fazem desde a pandemia, as missas.
Por isso, conforme disse o Papa, é preciso que a Igreja entre nos meios digitais e evangelize nesses ambientes. O mundo está cheio de ódio e, até mesmo na internet, muitas vezes se propaga o ódio. Nós, como cristãos, precisamos propagar a Palavra de Deus e o amor.
Este documento sinodal é dividido em cinco partes: a primeira intitulada “O coração da sinodalidade”, chamado pelo Espírito Santo à conversão; a segunda, “Juntos na Barca de Pedro” (No barco, juntos), dedicada à conversão das relações que edificam a comunidade cristã e dão forma à missão na interseção de vocações, carismas e ministérios; a terceira parte, (Lançar a rede) sobre a Palavra, identifica três práticas intimamente interligadas: discernimento eclesial, processos decisórios, cultura da transparência, da prestação de contas e da avaliação; a quarta parte, “Uma pesca abundante” (Muita Pesca), delineia como cultivar, de maneira nova, o intercâmbio de dons e o entrelaçamento de vínculos que nos unem na Igreja, em um tempo em que a experiência de enraizamento em um lugar está mudando profundamente; a quinta parte, “Também eu vos envio” (formação de uma população de discípulos missionários), permite olhar para o primeiro passo a ser dado: promover a formação de todos para a sinodalidade missionária. Em particular, observa-se que o desenvolvimento do documento é guiado pelos relatos evangélicos da Ressurreição. Conclui com o tema: “Um banquete para todos os povos”.
Com certeza, o texto não poderia deixar de citar a Virgem Maria, a quem o Papa Francisco tem uma devoção especial e pede que todos nós também tenhamos. O Santo Padre entrega a Ela os resultados do Sínodo, com esta oração: “Ensina-nos a ser um povo de discípulos missionários que caminham juntos: uma Igreja sinodal”. Meus irmãos, que, com a intercessão da Virgem Maria, sejamos uma Igreja sinodal e testemunhas do Senhor nos dias de hoje.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ