No dia 24 de novembro, durante a missa de envio dos missionários e missionárias de toda a América que participaram do 6º Congresso Missionário Americano (CAM6), foi realizada a leitura da Mensagem final, com algumas reflexões sobre a vivência do encontro realizado em Porto Rico, na Diocese de Ponce, entre 19 e 24 de novembro.
Boa tarde, Igreja da América! O Senhor Jesus nos reúne hoje mais uma vez em assembleia, como família missionária no Caribe, na ilha do Encantamento: Porto Rico; e seu fogo ardente nos fez sentir o calor humano da acolhida e da fraternidade de nossos irmãos e irmãs porto-riquenhos. É nessa região geográfica do continente que o Espírito de amor trinitário nos permitiu viver o Sexto Congresso Missionário Americano, mais conhecido por sua sigla: CAM6. Somos profundamente gratos ao nosso Deus no Espírito Santo pelo derramamento de Seus dons nesses dias que foram repletos de graças e múltiplas bênçãos.
Agradecemos também ao Senhor pela presença de centenas de irmãos e irmãs de nosso continente americano que se reuniram aqui e de dezenas de irmãos e irmãs internacionais que nos acompanham nesta celebração de animação, formação, cooperação e espiritualidade missionária. Além disso, nossa gratidão vai para a presença de todo o Povo de Deus, na grande representação de seus pastores, os bispos, sacerdotes, religiosos, consagrados e a abundante presença leiga que confirma mais uma vez que queremos evangelizar em chave sinodal até os confins da terra.
Somos testemunhas de Cristo nesta experiência intercontinental que reuniu mais de 1.300 participantes de 42 países e um pouco mais de 900 voluntários, para nos deixarmos impulsionar com novo ardor à missão ad gentes da Igreja, caminhando juntos à escuta do Espírito, para sermos testemunhas da fé em Jesus Cristo na realidade de nossos povos até os confins da terra. Aqui em Ponce, a imponente cidade dessa bela ilha do Caribe, sentimo-nos acompanhados por Deus neste mês de novembro de 2024. Celebramos a riqueza do intercâmbio cultural e eclesial dos participantes do Canadá, no norte, à Argentina, no sul, reunidos nas Antilhas e acompanhados pela África, Europa e Ásia; representados por irmãos e irmãs da Itália, Espanha, Vietnã, Filipinas e outros.
Este CAM6 tem sido um processo de reflexão missiológica sinodal construído sobre três eixos temáticos principais que vêm do objetivo do Congresso: Impulsionados pelo Espírito, Testemunhas de Cristo e Até os confins da terra. Esses eixos serviram para trabalhar os dias do Congresso em dois grandes blocos: 1. Iluminação missiológica, pela manhã; e 2. Reflexão metodológica e discernimento, à tarde. Cada dia começava com uma apresentação, acompanhada pela vida de um testemunho missionário compartilhado. Foi uma provocação reflexivo-teológica e doutrinária sobre a missão ad gentes, concretizada pela experiência vivida pelos missionários em territórios específicos de evangelização.
As tardes se tornaram o eco ou a ressonância do que o Espírito suscitou por meio de três estratégias metodológicas: Conversação no Espírito do Instrumentus Laboris, Projetos e Experiências e Testemunhos. Experiências de intercâmbio fraterno que nos permitiram compartilhar profundamente em grupos os desafios que nossa realidade missionária tem em todo o continente e buscar juntos propostas para ser uma resposta testemunhal em nossas Igrejas locais e além de nossas fronteiras. Essa metodologia utilizou como ponto de partida os pilares das Pontifícias Obras Missionárias: Cooperação, Animação, Formação e Espiritualidade. Tudo isso foi acompanhado por uma efervescente animação missionária que se intercalou entre os diferentes momentos e anunciou o fruto da alegria no Espírito. A presença animada dos jovens, as apresentações folclóricas locais, a acolhida nas diferentes casas e centros, as experiências missionárias nas periferias urbanas e rurais das dioceses e os encontros culturais complementaram esse momento tão profundo de acontecimento eclesial.
Esses dias no Congresso nos permitiram retomar as reflexões dos Simpósios Internacionais de Missiologia. Foi confirmado no que foi compartilhado em tantos grupos que a percepção da demora da América em responder ad gentes é consequência de uma causa maior: a resistência. Enviamos missionários para além de nossas igrejas locais e isso foi confirmado pela riqueza dos testemunhos compartilhados nas discussões da manhã e da tarde. Mas esse envio não foi feito na proporção em que nossa resposta americana talvez fosse esperada. E essa consciência nos convida a pedir perdão aos nossos irmãos e irmãs mais pobres que ainda estão esperando que a mensagem libertadora do Evangelho seja proclamada nos confins da terra.
Estamos sentindo como um grande desafio dessa reflexão missionária que a causa dessa resistência se baseia em vários aspectos:
a) em uma introversão eclesial que nos faz olhar especialmente para as realidades internas dos respectivos grupos, movimentos, paróquias e dioceses;
b) na falta de gratuidade para com os missionários ad gentes existentes, que às vezes parecem invisíveis para suas igrejas locais e paroquiais;
c) a falta de formação missiológica em nossas igrejas locais; e
d) a falta de infraestrutura financeira e de recursos humanos para apoiar a dimensão missionária.
Diante disso, há também propostas que emergem do que é compartilhado, tais como:
a) para promover o alcance constante, conforme o apelo do Papa Francisco, para além de nossa própria pobreza;
b) conhecer nossos agentes pastorais e missionários, mantendo uma comunicação próxima com eles, promovendo seu trabalho e apoiando-os de longe;
c) Tornar conhecidos os centros de treinamento missiológico, promovê-los e convidar constantemente ao patrocínio, criando redes internacionais de cooperação entre eles, a fim de abrir o mais amplo acesso a eles para o povo de Deus. Em cada Igreja local, deve-se enfatizar o fornecimento de formação missionária atualizada e contínua para todo o corpo da Igreja.
d) A cooperação missionária não pode ser reduzida a um único dia anual; ela deve ser alimentada por várias iniciativas para um maior apoio concreto. Deve-se promover uma participação mais ativa dos leigos e das famílias na organização missionária e, sobretudo, reconhecer o lugar vital dos jovens nessa realidade.
No CAM6, até o momento, vislumbramos uma proposta missionária global que promove uma animação concretamente alimentada por uma cooperação que estabelece redes entre as Igrejas locais e as realidades missionárias existentes. O que vivenciamos no Sexto Congresso Missionário Americano nos desafiou!
Vivemos em um mundo fragmentado e ferido, onde até mesmo a maior parte do mundo não é cristã. Mas, acima de tudo, estamos unidos na esperança porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações com o Espírito Santo que nos foi dado e nos impulsiona como testemunhas.
O encontro com Jesus, que é o Reino, é e continua sendo o caminho para a transformação, pessoal e social, em uma tensão escatológica contínua.
– Cristo é o caminho proposto pelo Pai para a plenitude de toda experiência religiosa e espiritual. Sua proclamação não é “invasão” ou colonialismo, mas luz e vida para as preocupações mais profundas de todo ser vivo. Ele é a Vida que atrai os vivos.
Lembramos que a missão nos faz, nos molda:
– somos chamados a uma conversão missionária integral;
– A Igreja existe porque a missão existe. A missão é a manifestação da Trindade. A Igreja de Cristo é missionária; e
– A missão não é uma opção entre outras, mas a primeira e principal opção. Todos os recursos devem ser direcionados para a realização da missão.
O espaço missionário se expandiu. Seu espaço essencial são os relacionamentos. Somos chamados a tocar Cristo na carne de nossos irmãos e irmãs, especialmente nos mais pobres, marginalizados e excluídos. Respondemos a essa realidade com a cooperação missionária, que hoje nos convida a construir redes com seus respectivos “nós” e interações.
A sinodalidade ministerial é necessária: cada vocação, nascida do batismo, está em função da missão e é chamada a se integrar com todas as outras para manifestar toda a riqueza do vasto mistério da Encarnação.
Percebe-se a ressonância dos desafios que a missão enfrenta hoje:
a) medo e indiferença em relação à missão ou à realidade vivida pelos irmãos e irmãs mais pobres; e
b) sair de sua zona de conforto pessoal e pastoral.
Em face desses desafios, as seguintes propostas estão previstas:
a) um método que é chamado a integrar as diferenças e as experiências dos fiéis. Um método que é, antes de tudo, uma arte que consegue moldar a beleza criativa em um mosaico de diferenças que buscam um objetivo compartilhado: a plenitude da vida na vida, expressa em um relacionamento mais íntimo por meio da oração;
b) A missão amplia as particularidades na busca de convergências e, a partir daí, durante o congresso, evidenciamos um processo latente: ad gentes, inter gentes, cum gentibus, omnes gentes / omnes creaturas;
c) a insistência é sempre em “ir”, porque a Igreja está sempre “saindo”; mas saindo para encontrar, para estar “com”, para integrar e aprender com os “outros mundos”, em uma chave relacional dinâmica; saindo para todos e para tudo, sabendo que tudo está interconectado e, portanto, em um compromisso maior com a ecologia integral; e
d) um modelo missionário por atração, baseado na presença, no acompanhamento, na proximidade, no diálogo, no reconhecimento e na valorização do outro. A metodologia missiológica é por meio do relacionamento.
O Congresso nos permitiu reunir, entre os diferentes momentos metodológicos, cerca de 400 contribuições ou ressonâncias, divididas em desafios e propostas e setorizadas nos pilares das Pontifícias Obras Missionárias (Cooperação, Animação, Formação e Espiritualidade). Isso exigirá agora um caminho de discernimento e análise, a fim de aceitar o que o Espírito Santo quis comunicar para a missão ad gentes no continente e também aberta ao mundo. O fruto desse processo de reflexão é o próximo estágio a ser realizado, que se materializará no Pós-Cam. Isso será compartilhado em março de 2025 na Costa Rica e será oferecido em “orientações” ou propostas a toda a Igreja na América.
Concluímos enfatizando que nosso CAM6 ocorreu no contexto do Sínodo da Sinodalidade, com suas diretrizes temáticas de comunhão, participação e missão, que vivemos plenamente nestes dias. Às portas do próximo Jubileu da Esperança, estamos orientados para um novo amanhecer missionário em nosso continente americano, para sermos, com nosso testemunho, um presente de Deus para o mundo, impulsionados pelo Espírito Santo!
Os Países Unidos, no poder do Espírito, são testemunhas de Cristo!
Fonte: POM