De Claraval à Arquidiocese do Rio: Dom Orani, 50 anos de cuidado com as vocações

Quando São Bernardo chegou àquele vale inóspito no qual ergueu a célebre Abadia de Claraval, viu ali um efervescer vocacional. Numerosos jovens e adultos sentiram-se impulsionados a corresponder generosamente ao seu chamado, graças ao testemunho de vida dado por aquele jovem monge e primeiro abade de Claraval.

Numa cidade muito distante daquele vale francês, quase nove séculos depois, foi elevado à condição de abadia o Mosteiro Nossa Senhora de São Bernardo, em São José do Rio Pardo (SP). Uma vez abadia, era necessário que houvesse um primeiro abade. E o escolhido foi justamente Dom Orani Tempesta, então prior.

Este breve percurso histórico pelo qual desejei passar tem apenas o intuito de destacar o quanto o cardeal arcebispo que conhecemos haure sua inspiração numa herança histórica e numa espiritualidade veneráveis. Assim como o primeiro abade de Claraval manifestou um interesse genuíno no cultivo de novas vocações, também em Dom Orani podemos enxergar facilmente esta atenção prioritária.

Os frutos de seu cuidado para com as vocações são abundantes, seja no número de sacerdotes ordenados, seja no número de admissões ao seminário ou também na presença frequente nos institutos de vida religiosa. Disto temos testemunho não somente enquanto arcebispo do Rio de Janeiro, mas em toda a sua trajetória. Entretanto, este cuidado ficou ainda mais explícito quando convocou, para 2019, um Ano Vocacional Sacerdotal. Este foi o meu primeiro ano de seminário e, desde aquela época, sabia que jamais o esqueceria. Minha turma e eu estávamos animados pelo hino vocacional escolhido para esse ano: “Homem do Altar”. A letra simples e cheia de significado trazia consigo um compromisso de fidelidade com aqu’Ele que nos vocacionou. Esta correspondência, certamente árdua, torna-se mais suave e fácil quando podemos ver à nossa frente um pastor generosamente comprometido no cuidado de suas ovelhas.

Na realidade, esta experiência eu a tenho desde criança. Agora, estou para iniciar o terceiro ano de Teologia, mas já fui um coroinha de 9 anos de idade ansioso por receber a visita do arcebispo na Capela de São Sebastião, da Paróquia Sagrada Família, na Taquara, durante a Trezena de São Sebastião. Nessas ocasiões, que perpassaram minha adolescência até o meu ingresso no seminário, pude contemplar não somente o amor de Dom Orani para com o povo, o qual era evidente. Mas, especialmente, a admiração de meu pároco, cônego Roberto Barbosa de Mello, de saudosa memória, para com o seu bispo. Era perceptível que ele sentia-se realmente apascentado e acolhido como um filho a seu pai. O que, naturalmente, é de se encantar, em se tratando de um sacerdote que à época tinha mais de 20 anos de ministério.

Pois é justamente esta a experiência que tenho tido no decorrer dos meus 6 anos de seminário: Dom Orani está sempre pronto para acolher minha vocação, como um verdadeiro pai. Enquanto cerimoniário do cardeal, entre o ano passado e o início deste, pude experimentar a proximidade não somente de ser chamado pelo nome – são cerca de 150 seminaristas, decorar nomes tem sua dificuldade até para nós! —, mas até de ser levado em casa e na paróquia pelo arcebispo.

Não tenho como esquecer-me da proximidade e da atenção prestadas por Dom Orani à minha paróquia de origem e a mim quando do falecimento de nosso pároco. Desde a ligação telefônica, quando soube da situação, até a bela homilia da missa exequial e, especialmente, o ouvir atento os testemunhos dos paroquianos durante o velório.

Um recorte de meu testemunho pessoal fica muito aquém do que é a realidade do incentivo vocacional de Dom Orani para com as vocações sacerdotais e religiosas. O fato de dedicar a celebração desse Jubileu de Ouro Sacerdotal às vocações sacerdotais é realmente muito simbólico para aquele que pode ser facilmente chamado de ‘Cardeal das vocações’. Dando continuidade ao belo trabalho de seus antecessores, Dom Orani esforça-se arduamente por nossa formação, fazendo-se presente em nosso Seminário Arquidiocesano de São José frequentemente e buscando conhecer a realidade de vida e pastoral de cada seminarista.

Assim, pode-se notar uma intrínseca ligação daquele monge de Claraval com este do Rio de Janeiro. Sim, do Rio de Janeiro, porque reconhecemos em Sua Eminência um coração que se assumiu realmente carioca ao tomar posse desta arquidiocese. Era através do seu testemunho de vida e de sua fidelidade ao carisma que São Bernardo mantinha Claraval repleta de vocações. Não é outro o método de nosso cardeal. Eu, como fruto desse empenho, outra coisa não poderia dizer senão: Muito obrigado!

 

Rennan Nazar, 3º ano da Configuração, no Seminário Arquidiocesano de São José

 

 

Categorias
Categorias