(Histórico da Paróquia Nossa Senhora de Aparecida, situada no Largo do Boiadeiro, na comunidade da Rocinha, apresentado pelo paroquiano Milton Leôncio, durante a missa de criação e instalação da nova paróquia, no dia 15 de fevereiro de 2025).
A história da Capela Nossa Senhora de Aparecida se mistura com a própria história da comunidade da Rocinha. Uma rica história que remonta à década de 60, quando a comunidade estava em crescimento, com muitos moradores migrando de outras regiões do Brasil, em busca de melhores oportunidades. Foi neste contexto que os jesuítas chegaram à Rocinha, com a missão de evangelizar e atender às necessidades espirituais da comunidade.
A missão evangelizadora na Rocinha foi instaurada e se fortalecendo desde que a pedra fundamental da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem foi posta, em 1937. Os primeiros sacerdotes que aqui chegaram tinham em mente o grande desafio a ser feito na Rocinha, uma vez que o território era muito extenso, e a comunidade começa o seu crescimento urbano, como o vemos hoje em dia. Padre Gustavo, padre Manuel Manangão e tantos outros que passaram pela paróquia, pensando em evangelizar cada viela, cada beco e cada travessa na Rocinha, instalaram, ao seu tempo, capelas ao redor da comunidade, tendo a matriz ao centro do morro, levando assim o Evangelho a todos os lugares e cantos: Vila Verde, Boiadeiro, Laboriaux, Rua 2, Rua 1 e Cachopa.
A Capela Nossa Senhora de Aparecida, no Largo do Boiadeiro, já existia então, não com a aparência como a vemos hoje, mas feita conforme a grande maioria das residências da época – de madeira na cor marrom –, e se tornou ponto de encontro para os moradores, um centro de atividades comunitárias, promovendo assim a justiça social e os direitos humanos da comunidade, com a presença dos jesuítas, com o então Cristiano, padre na época e sempre trazendo junto com ele, o padre Tierry Linard de Guertechin, que aqui permaneceu por quase 22 anos na capela, e a primeira grande obra de reconstrução da capela em alvenaria, que foi erguida graças ao esforço conjunto da comunidade e do padre Tierry. A capela então ficou intimamente ligada à vida dos moradores, que ansiavam por melhorias da comunidade: conversas sobre a falta de água, trazer a luz elétrica a todas as moradias de então, trazer o saneamento urbano para o local. A capela é um testemunho vivo da força e da resiliência da Rocinha. A história da capela e das melhorias que ela inspirou é um exemplo inspirador de como a mobilização comunitária e a luta por direitos podem transformar vidas e comunidades.
A missão evangelizadora da capela tem sido fundamental para a comunidade, oferecendo esperança e apoio espiritual aos moradores, sendo um símbolo da presença de Deus, que caminha conosco todos os dias, sempre tendo em mente o que Jesus nos fala constantemente – “Não tenhais medo”.
E até então, temos a presença dos queridos frades franciscanos, que com seus hábitos marrons, foram se fazendo perceber na comunidade, subindo e descendo tantos morros, ruelas, chegando sempre ao topo da Rocinha, continuando a missão evangelizadora, nos trazendo pensamentos profundos às necessidades sociais à luz do Evangelho.
Tantas pessoas em suas pastorais: Catequese, Círculos Bíblicos, Infância Missionária, Terço Mariano, Grupo de Oração Caminhando Com Jesus, Grupo de Jovens Semeadores da Paz, se entregando para levar o que há de melhor em todos nós – a Vida em Cristo, à luz e a força do Evangelho. Tantas catequistas são grandes exemplos de doação: dona Francisquinha, com seu olhar doce e mãos que afagam cada criança da catequese, a dona Maria Vieira, já quase no final da vida, ainda dava seus encontros na catequese, depois de 20 anos trabalhando como catequista, e já no final da vida, doando sua voz para encantar nas celebrações dominicais. Desde a instauração da Capela do Boiadeiro, já foram mais de 2 mil crianças catequizadas por tantos e tantos catequistas: Maria Coelho, Rose, Romana, Luci, entre tantos outros catequistas. Não podemos deixar de mencionar o número de Círculos Bíblicos que foram crescendo nas residências das pessoas, fortalecendo e sendo iluminados pela ação do Espírito Santo, em tantos becos, vielas e travessas. Os incansáveis evangelizadores: Seu Vivaldo, dona Maria Ferreira, dona Maria José e tantos outros, que evangelizaram com 10 Círculos Bíblicos, reunindo quase 300 pessoas.
E assim, a Capela Nossa Senhora de Aparecida foi se fortalecendo aos desafios em que os anos foram trazendo. Quando houve um período de crescimento urbano, a capela continuou sua missão evangelizadora, no que podemos dizer “Baixo Rocinha”, até que de 1998 a 2000, já com o pastoreio do padre Sérgio, também da ordem dos jesuitas, fez a segunda grande obra de modernização e estrutural, na qual vemos hoje. Com a aquisição definitiva do prédio, a capela pôde aumentar seus trabalhos pastorais, na catequese, no catecumenato, na juventude, na música, na ação social, com o trabalho com a Pastoral do Menor, com a também incansável irmã Anacleta, que com seu trabalho com as mulheres em situação de vulnerabilidade social, salvou tantas vidas.
Fica muito difícil contar toda a história da Capela Nossa Senhora de Aparecida, pois são tantos momentos, tantas pessoas, tantos sacerdotes que por aqui passaram. Como falado antes, a história da capela se mistura com a própria história da Rocinha.
E hoje, estamos dando um passo a mais, escrevendo a história de crescimento desta capela menor, e se tornando paróquia, um dom que Deus está nos dando, por tantos desafios conquistados, por tantas vitórias presentes no dia a dia, pedra por pedra, continuando sua missão de estar presente na comunidade Rocinha.