Significado da Quaresma

‘Convertei-vos e crede no Evangelho’ (Mc 1,15)

 

Iniciaremos a partir de hoje uma série de cinco catequeses sobre a Quaresma, para que possamos melhor viver a importância desse tempo litúrgico e, quando formos à missa durante esse período, possamos vivenciá-lo de maneira plena. Nesta primeira catequese quaresmal, falaremos do significado da Quaresma, que inicia na Quarta-Feira de Cinzas e vai até a Quinta-Feira Santa pela manhã. A partir da tarde da quinta-feira, inicia-se o Tríduo Pascal com a celebração da Ceia do Senhor e o rito do lava-pés.

A celebração da Quaresma não é colocada no calendário litúrgico de maneira aleatória pela Igreja, mas tem um significado profundo, convidando-nos a interiorizar alguns momentos marcantes da história da salvação. O número quarenta, que abrange o tempo quaresmal, recorda os quarenta anos que o povo de Deus peregrinou no deserto até chegar à Terra Prometida e os quarenta dias que Jesus sofreu as tentações no deserto. Somos convidados, durante esse tempo quaresmal, a fazer jejum e abstinência de carne, sobretudo na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira Santa. Durante o tempo em que ficou no deserto sofrendo as tentações, Jesus fez jejum e ficou sem se alimentar, e o povo de Deus passou fome e sede no deserto.

A Igreja nos convida, ao longo do tempo quaresmal, a fazermos um grande retiro espiritual de quarenta dias, a irmos para o deserto junto com Jesus e a vencermos as tentações. Ao longo desse período, somos impelidos pelo Senhor a mudar de vida, ou seja, iniciar esse tempo de um jeito e terminá-lo de outro. Durante a Quaresma, omite-se o Hino do Glória e o Aleluia, que retornam na grande Vigília Pascal no Sábado Santo. O tempo da Quaresma, ao contrário do que alguns pensam, não é um período triste ou de luto, mas de reflexão, com a certeza de que o Senhor está vivo, ou seja, não ficou morto na Cruz, mas ressuscitou e continua presente no meio de nós, através do Espírito Santo.

Durante a Quaresma, aqueles que ainda não receberam algum sacramento da iniciação podem concluir a iniciação à vida cristã e, no Tríduo Pascal, recebê-los. A liturgia do Sábado Santo é muito rica: todos os que já são batizados, nesse dia, renovam as promessas do Batismo.

Durante a Quaresma, além do jejum e da abstinência de carne, somos convidados a realizar duas outras práticas: a caridade e a oração. Essas duas práticas são desdobramentos do jejum. O tempo quaresmal é marcado pela penitência e oração. Devemos intensificar nossas orações pela conversão dos pecadores e por nossa própria conversão. Uma das formas de intensificar a oração é participar mais vezes da Santa Missa ao longo da semana e rezar o terço. A caridade deve ser praticada sempre, mas, sobretudo no tempo da Quaresma, pois ela contribui para nossa conversão. Aquilo que deixamos de comer durante a Quaresma e que nos gerou uma economia deve ser entregue na coleta da solidariedade, o Domingo de Ramos.

Ao longo do período quaresmal, somos convidados a realizar nossa confissão sacramental, ou seja, a confissão auricular – aquela em que nos ajoelhamos diante do padre no confessionário, acusamos nossos pecados, pedimos o perdão de Deus e da Igreja e recebemos a absolvição sacramental. A Igreja recomenda que façamos sempre que precisarmos a confissão sacramental, mas podemos aproveitar os mutirões de confissões, ao menos duas vezes ao ano: antes da Páscoa, durante a Quaresma, e antes do Natal, durante o Advento. No entanto, se sentirmos necessidade, podemos nos confessar ao longo do ano. Isso ocorre porque, durante esses dois tempos litúrgicos, Quaresma e Advento, o convite à conversão é mais forte, sobretudo na Quaresma. Isso nos ajuda a viver também o jubileu e recebermos da benevolência da igreja as indulgências.

Que possamos vivenciar bem este tempo quaresmal, buscando constantemente nossa conversão. O convite é feito na celebração da Quarta-Feira de Cinzas: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Peçamos ao Espírito Santo Consolador que nos ilumine e nos dê sabedoria para vencer as tentações ao longo desse tempo. Que Ele nos transforme e nos regenere nas águas do Batismo no Sábado Santo. Peçamos ao Espírito Santo sabedoria para realizarmos uma boa confissão.

A palavra ‘Quaresma’ significa ‘quadragésima’, termo oriundo do latim, e antecede a maior festa do cristianismo, que é a Páscoa. Toda festa requer uma boa preparação: é necessário limpar a casa, organizar os móveis e abrir as janelas para arejar. Assim, em preparação para a Páscoa, a Igreja convida todos os fiéis a um período de quarenta dias de purificação. Durante esse tempo, limpamos nosso coração por meio da confissão sacramental, abrimos a janela da alma para que a luz de Cristo entre e organizamos nossa vida.

O número quarenta remete à Sagrada Escritura e significa tempo de expectativa, preparo e prova. Desde o ano 200 d.C., a Quaresma é celebrada. Inicialmente, era composta por apenas três dias de oração, meditação e jejum. Por volta do ano 350 d.C., a Igreja aumentou esse tempo para quarenta dias, dando-lhe ainda mais significado.

Celebremos com alegria este tempo quaresmal, trazendo em nosso coração a certeza de que Cristo morreu por nós, mas ressuscitou glorioso no terceiro dia.

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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