Brasão episcopal de Dom Joselito Ramalho Nogueira
Bispo titular de Tinoa e auxiliar de São Sebastião do Rio de Janeiro
“Vade ad vineam meam” – “Ide para a minha vinha” (Mt 20,4)
O brasão episcopal segue a tradição heráldica da Igreja Católica, apresentando um escudo com simbologia profundamente cristã, ornamentos exteriores que denotam a dignidade episcopal e um lema que sintetiza a missão do bispo.
Escudo
O escudo é partido e semitriado em ponta, combinando três cores principais: vermelho (goles), azul (blau) e prata, cada uma carregada de significados espirituais e teológicos.
Primeiro campo (à esquerda, de goles – vermelho):
Neste campo encontra-se uma pomba de prata com auréola de ouro, representando o Espírito Santo. A pomba é mostrada em voo, com as asas estendidas e voltada para baixo, um posicionamento tradicional que simboliza a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos no Pentecostes (Atos 2,1-4). O vermelho do campo reforça esta simbologia, pois é a cor do fogo divino e do martírio, evocando o ardor missionário da Igreja e a coragem necessária para o ministério episcopal.
Segundo campo (à direita, de blau –azul):
Neste campo figura o Sagrado Coração de Jesus em ouro, de onde partem raios, representação do amor misericordioso de Deus e envolto por uma coroa de espinhos, irradiando chamas ao topo. Simboliza o amor infinito de Cristo pela Humanidade e seu sacrifício redentor. O azul deste campo nos recorda o Pai que tanto nos amou, que enviou o seu Filho, assim como a espiritualidade mariana, indicando a confiança do bispo na proteção da Virgem Maria e seu papel de intercessora na vida da Igreja.
Terceiro campo (na ponta, de prata):
A parte inferior do escudo exibe um báculo episcopal estilizado, entrelaçado por uma videira com folhas verdes e cachos de uvas púrpuras. O báculo representa a autoridade pastoral do bispo, símbolo de sua missão de guiar e cuidar do rebanho de Cristo. A videira remete diretamente ao Evangelho de João 15,5: “Eu sou a videira, vós sois os ramos”, evocando a união do bispo com Cristo e sua responsabilidade de cultivar a fé do povo de Deus. A prata deste campo denota pureza, humildade e a vocação ao serviço desinteressado.
Ornamentos exteriores
Chapéu prelatício e cordões: Sobre o escudo, repousa um chapéu prelatício verde (galero), do qual pendem, de cada lado, seis borlas do mesmo esmalte, dispostas em três ordens (1,2,3). Este elemento é característico dos brasões episcopais e simboliza a autoridade e a posição do bispo dentro da hierarquia eclesiástica. O verde é tradicionalmente associado ao episcopado, evocando esperança e renovação espiritual.
Cruz processional: Atrás do escudo, em posição vertical, atravessando-o em pala, está uma cruz processional de ouro, com braços retos e proporcionais. A cruz é símbolo do chamado ao discipulado e à configuração do bispo com Cristo, o Bom Pastor.
Listel e lema: Abaixo do escudo, um listel de prata com forro vermelho ostenta o lema episcopal em caracteres de sable (preto): “ITE IN VINEAM”, que significa “Ide para minha vinha”. Esta expressão é uma referência à parábola dos trabalhadores da vinha (Mateus 20,1-16), destacando a vocação e a missão do bispo de convocar e enviar fiéis para o serviço do Reino de Deus, além de reforçar a ideia do trabalho contínuo na messe do Senhor.
Simbologia geral
O brasão como um todo expressa a identidade espiritual e pastoral do bispo. Está dividido em quatro partes. Cada elemento reflete aspectos essenciais de seu ministério:
- O Espírito Santo (primeiro campo) representa a ação divina na vida do bispo, iluminando e guiando seu pastoreio. Uma referência à sua origem vocacional. A presença do Espírito que revela Jesus Cristo e sua Igreja, enchendo de amor e ardor o coração por ambos. A pomba, com traços que remetem ao vitral da Basílica de São Pedro, recorda que o Espírito age e se move na Igreja. Nela fala, ensina, convoca, revela. Este Espírito de Pentecostes que vem guiando a Igreja, ontem e hoje, gerando comunhão ao redor dos pastores, indicando o caminho a seguir. Essa imagem aponta para o grande dom dos Ensinamentos Conciliares e do Magistério Petrino por onde a voz do Espírito ecoa. Mas é sempre Espírito divino, capaz de nos surpreender e nos desafiar a crer em suas inspirações. Ele quem suscita os diversos carismas e ministérios.
- O Sagrado Coração de Jesus (segundo campo) enfatiza a centralidade do amor de Cristo e o compromisso do bispo com a misericórdia e a redenção. Este faz memória da Ordenação Sacerdotal. Sacerdote: do Coração de Deus no coração do povo. O azul evoca a paternidade de Deus, que nos amou tanto ao ponto de enviar seu Filho. Este na cruz, em seu coração humano-divino, nos derrama a misericórdia de Deus, infinita, sem limites, maravilhosa, por meio dos sacramentos. Este coração comprometido com a Humanidade, como demonstra a coroa de espinhos que o circunda se doa sem limites. Este coração faz referência também à caridade pastoral que o os pastores devem exercer, num crescente ardor e zelo, como manifesta as chamas que nele está. Chama viva de nossa esperança. A coroa de espinhos recorda aos pastores que as pontas aguçadas da coroa feriram a cabeça e nós que somos corpo, parte de seu corpo, não devemos reclamar, somente pedir dá-nos mais Graça. A cor azul aponta também para a presença de Maria na vida e no seu caminhar, mãe das graças, mãe das dores, Mãe Imaculada.
- A videira e o báculo (terceiro campo) remetem à missão pastoral e à Eucaristia, fonte e centro da vida cristã. Aqui, nós temos um ramo de videira com seus frutos que serpenteiam um báculo, fazendo referência à missão do bispo e à vida da vinha. Esta se desenvolverá e se apoiará ao redor do ministério do Pastor, em docilidade sinodal. Em comunhão com ele, as comunidades eclesiais, que nascem pela pregação da Palavra e se alimentam da Eucaristia, são chamadas a frutificar. Os três cachos de uva representam o discipulado maduro com seus frutos de fé, esperança e caridade, ou ainda o testemunho profético, a comunhão e o serviço. A vinha se desenvolve em Cristo, que armou a sua tenda entre nós e n’Ele nos movemos e somos. Ao mesmo tempo, essa parte central, que além de uma tenda, também nos lembra uma Mitra, recorda ao bispo, que assim como Moisés, em seu rosto, em sua vida, deve resplandecer a Glória de Deus.
- Na parte inferior em verde, temos o chão aonde a vinha se desenvolve. Recorda que no chão da história e na diversidade das culturas a semente é lançada e que, mesmo frágil, ela se desenvolve e frutifica. Diálogo e sensibilidade de acolhida devem acompanhar o Pastor. Essa parte inferior aponta para a eleição e a predileção de Deus pelo seu povo, vaso precioso, que é sempre frágil, mas sempre amado.
O lema “ITE IN VINEAM” Mt 20,4 (“Ide para minha vinha”)
O Ministério episcopal assumido como um chamado, uma convocação para participar da obra de Cristo Supremo Pastor e de seus Apóstolos de quem os bispos sucedem diretamente na missão, manifesta um convite para uma união amorosa ainda maior com o Senhor, para que configurados em Cristo vivam uma paternidade espiritual frutuosa e madura. O cuidado, a proteção, a dedicação ao crescimento do povo de Deus é missão assumida com coragem e fé. Ensinar, santificar e pastorear são os cuidados próprios da missão episcopal. A Palavra semeada com ardor e fé, o pastoreio exercido com mansidão e misericórdia e a santificação do povo de Deus realizada na esperança. Esse é um chamado que é ao mesmo tempo um envio. O Senhor da Vinha envia para cuidar, proteger, alimentar e acompanhar a sua vinha para que ela cresça e se desenvolva de tal forma a produzir muitos frutos. A autoridade apostólica deriva justamente do envio de Cristo que faz dos apóstolos seus embaixadores. Neste envio está presente a realidade da pertença da vinha ao Senhor. O zelo, o cuidado remete ao senso de responsabilidade para com o Senhor que chama. Com dedicação, empenho, delicadeza e firmeza, o Apóstolo cuidará da vinha, consciente que ela é amada, querida, preciosa aos olhos de seu dono. Estar revestido constantemente da caridade pastoral são condições permanentes de quem nela trabalha como “amoris officio”, como resposta amorosa ao Senhor.
Este brasão combina tradição eclesiástica e simbolismo evangélico, refletindo o zelo do bispo por sua missão e sua entrega total ao serviço do povo de Deus.