No último sábado de agosto, dia 30, a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro viveu mais um momento de profunda fé e comunhão eclesial: a 125ª romaria oficial ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. A peregrinação reuniu mais de 60 mil fiéis, entre leigos, sacerdotes, diáconos, seminaristas, religiosos e religiosas, que se uniram ao arcebispo, Cardeal Orani João Tempesta, em um grande ato de devoção mariana, marcado por oração, ação de graças e renovação espiritual.
A programação teve início logo ao amanhecer, com a Oração do Terço Mariano, na Tribuna Papa Bento XVI, conduzida pelo arcebispo. O momento de oração preparou os corações para a celebração da Santa Missa, às 9h, no Altar Central da Basílica, presidida por Dom Orani e concelebrada pelos bispos auxiliares e dezenas de sacerdotes.
A Santa Missa foi animada pela Escola Cantorum, coral formado por seminaristas da arquidiocese, cuja presença musical deu um tom solene e esperançoso à celebração. Um detalhe simbólico emocionou os presentes: Dom Orani utilizou, na consagração, um cálice histórico, ofertado ao Santuário por Dom Joaquim Arcoverde, o então arcebispo do Rio de Janeiro e primeiro cardeal da América Latina, durante a primeira romaria carioca a Aparecida, em 1900. A peça permaneceu por décadas no Museu de Nossa Senhora Aparecida e foi resgatada para a celebração dos 125 anos desse vínculo entre o povo de Deus do Rio de Janeiro e a Padroeira do Brasil.
Na homilia, Dom Orani destacou o sentido jubilar da romaria, ocorrida durante o Ano da Esperança e dentro das celebrações pelos 450 anos da antiga Prelazia do Rio de Janeiro. “Há 125 anos, Dom Joaquim Arcoverde peregrinou até este santuário com 400 fiéis. Hoje, mais de 60 mil pessoas vieram rezar. É uma tradição antiga e sempre nova. Somos uma Igreja peregrina, agradecida e esperançosa”, afirmou.
Durante a pregação, o arcebispo ressaltou que a Arquidiocese do Rio de Janeiro possui uma ligação histórica e espiritual com a devoção a Nossa Senhora Aparecida. “Foi um bispo do Rio que autorizou a construção da primeira capela após o encontro da imagem no rio Paraíba. Também foi no Rio que Nossa Senhora foi coroada Rainha do Brasil”, recordou Dom Orani, destacando a responsabilidade que acompanha esse legado.
A celebração também foi marcada por um gesto simbólico: a entrega de uma rosa à Mãe Aparecida. “Queremos agora oferecer um sinal a este Santuário, que é uma rosa. Fazemos essa memória e pedimos ao Senhor, neste Ano de Jubileu, que possamos viver intensamente essa renovação e perfumar e florir a vida do nosso povo”, declarou.
Dom Orani explicou ainda que os peregrinos participaram de diversos momentos celebrativos: a oração do Terço Mariano, a Via-Sacra e a Santa Missa, os quais possibilitam o cumprimento das condições espirituais para lucrar a indulgência plenária própria deste Ano Santo, aplicável a si ou a um ente querido falecido.
A homilia seguiu com uma forte exortação pastoral. “A esperança não decepciona”, destacou Dom Orani, refletindo sobre a primeira leitura proclamada na liturgia e o Evangelho que fala do “ano da graça do Senhor”. O arcebispo convidou os fiéis a reavivarem a fé, renovarem o compromisso missionário e assumirem, com coragem, o chamado à fraternidade e à unidade, características centrais da identidade cristã. “Somos chamados a viver como irmãos e irmãs, especialmente em tempos de guerra, de violência e de divisão”, disse.
Outro ponto enfatizado por Dom Orani foi a fecundidade vocacional da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Ele agradeceu pelas vocações ao ministério ordenado, à vida religiosa, à vida familiar e ao apostolado leigo. “Quantas vocações brotaram em nosso solo! Quantos sacerdotes, diáconos, religiosas, famílias comprometidas, leigos engajados na sociedade e na Igreja. Essa é uma herança que devemos valorizar e multiplicar”, afirmou, recordando ainda o impacto de iniciativas como a fundação da Universidade Católica (PUC-Rio) e o protagonismo dos leigos desde os tempos do Cardeal Sebastião Leme.
Aos seminaristas e jovens presentes, dirigiu uma palavra de incentivo: “Vocês são chamados a viver a fé com ousadia, a evangelizar nas mídias digitais, a anunciar Jesus com criatividade e coragem.”
Na conclusão da homilia, Dom Orani convidou os fiéis a voltarem para suas casas renovados na fé, dispostos a viver a fraternidade, a unidade e a missão. “Queremos, nesta manhã, renovar e reavivar o dom de Deus em nossas vidas, para que possamos seguir como Igreja viva, discípula missionária, no Brasil e no mundo. Que Maria, Mãe Missionária, nos ajude a sermos sempre peregrinos de esperança”, concluiu.
Ao final da celebração, com emoção e reverência, o arcebispo carioca depositou aos pés da imagem de Nossa Senhora Aparecida uma rosa branca, símbolo de gratidão e renovação espiritual de toda a arquidiocese. “É um sinal da nossa presença, do nosso agradecimento e da esperança que queremos cultivar e espalhar”, afirmou.
Após a celebração eucarística, o clero e os fiéis deram continuidade à programação jubilar, todos seguiram em procissão pelas ruas da cidade de Aparecida, em um piedoso gesto de fé e comunhão. Rezando o Terço Mariano, os peregrinos caminharam em direção ao caminho da Via-Sacra, onde encontraram na oração e na contemplação um espaço de profunda intimidade com Deus.
A procissão seguiu até a primeira estação, onde Dom Orani conduziu as orações iniciais, recordando o início da Paixão de Jesus Cristo. Em seguida, o povo de Deus continuou a caminhada, rezando, cantando e meditando os mistérios da dor, entregando a vida, as lutas e as esperanças de todo o povo carioca à luz da cruz redentora.
Estação por estação, o clima era de silêncio, reverência e participação ativa. Muitos caminhavam com lágrimas nos olhos, outros em profundo silêncio, marcados pelo peso das intenções pessoais e pelas dores do mundo. No entanto, a Via-Sacra também era espaço de esperança: a cada estação, a certeza da presença de Deus sustentava os passos dos romeiros.
Ao chegarem à 15ª estação — símbolo da Ressurreição do Senhor — Dom Orani voltou a tomar a palavra, encerrando a romaria com uma prece confiante e vibrante. O arcebispo recordou que a Cruz não é o fim da história, mas o início de uma vida nova em Cristo. “Jesus ressuscitado nos acompanha e caminha conosco. Que esta peregrinação renove em nós a fé viva, a esperança perseverante e a missão ardente de sermos Igreja no mundo”, declarou.
Com esse gesto, concluiu-se a 125ª romaria da Arquidiocese do Rio de Janeiro ao Santuário Nacional, em um testemunho de unidade e fé que ecoará pelos corações de milhares de fiéis ao longo do ano jubilar. Como destacou o cardeal, “voltamos para casa reanimados, fortalecidos e com o coração florido pela esperança que brota do Evangelho”.
Carlos Moioli