“De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele.” (Jo 3,17)
Celebramos neste domingo a festa da Exaltação da Santa Cruz. Esta festa litúrgica é celebrada sempre no dia 14 de setembro, mesmo que coincida com o domingo. O domingo é o dia do Senhor e, em cada celebração, atualizamos o mistério pascal de Cristo. Dessa forma, celebramos esta solenidade no próprio domingo. Somente algumas solenidades ocupam o dia do Senhor: a de São Pedro e São Paulo, a da Santíssima Trindade, as solenidades da Virgem Maria e, também, esta da Exaltação da Santa Cruz.
O intuito desta festa não é festejar a morte, mas sim a vida, pois, por meio da entrega de Jesus no madeiro da cruz, veio a salvação para toda a humanidade. A cruz é santa, porque nela morreu o Filho de Deus. Mas Jesus não permaneceu na cruz: ressuscitou e mostrou a todos nós que a morte não tem a última palavra, mas sim a vida.
Nesta celebração, somos convidados a voltar o nosso olhar para a cruz do Senhor e pedir a salvação. Mais do que isso, podemos olhar para a cruz e agradecer a Deus por ter permitido que Seu Filho morresse nela para nos salvar. Contemplemos a cruz do Senhor e peçamos misericórdia pelo mundo inteiro, para que todos os povos se voltem para a cruz e percebam que não vale a pena tanta indiferença, luta pelo poder e guerras. O nosso fim último deve ser a vida eterna, e Jesus nos deu a maior prova de amor.
Por isso, entoamos aquele belo cântico: “Vitória, tu reinarás! Ó cruz, tu nos salvarás!” Ou seja, para nós, católicos, a cruz é a nossa vitória e a identidade do cristão. Em cada lar católico deveria haver um crucifixo, para que abençoe aquele lar e todos os seus habitantes. Ao olhar para o crucifixo, cada família pode pedir bênção e proteção.
A primeira leitura da missa desta solenidade é do livro dos Números (Nm 21,4b-9). Este trecho relata que o povo de Israel, a caminho do Mar Vermelho, começou a impacientar-se e a reclamar contra Deus e contra Moisés por estarem no deserto, às portas da morte. Diziam que faltava água, pão e que tinham nojo do alimento miserável que comiam.
Frequentemente, nos impacientamos e não esperamos a ação de Deus em nossa história. Ao celebrarmos esta solenidade, olhemos para a cruz de Jesus e peçamos a virtude da paciência, suplicando que o Senhor tenha misericórdia de nós.
O Senhor enviou serpentes venenosas contra o povo, e muitos morreram. O povo, então, reconheceu que havia pecado ao reclamar de Deus e de Moisés e, arrependido, pediu a Moisés que intercedesse por eles. O Senhor respondeu: “Faze uma serpente de bronze e coloca-a sobre uma haste; todo aquele que for mordido e olhar para ela viverá.” Moisés fez a serpente de bronze e a colocou sobre uma haste, e todos os que eram mordidos e olhavam para ela ficavam curados.
Assim também hoje: se olharmos com fé para a cruz do Senhor, seremos salvos, pois do madeiro da cruz pendeu a nossa salvação.
O salmo responsorial é o 77(78), cujo refrão diz: “Das obras do Senhor, ó meu povo, não te esqueças!” O Senhor nunca se esquece do Seu povo e, mesmo diante dos pecados, não o abandona, mas sempre oferece Sua misericórdia.
A segunda leitura, da Carta de São Paulo aos Filipenses (Fl 2,6-11), nos recorda que Jesus esvaziou-se de si mesmo, não se aproveitou de sua condição divina, mas fez-se servo, obediente até a morte — e morte de cruz. Assumindo a condição humana, Ele nos mostra que, antes de entrar na glória eterna, é preciso passar pelos sofrimentos da vida. Ao nome de Jesus, dobremos nossos joelhos e proclamemos: Ele é o Senhor, para a glória de Deus Pai.
O Evangelho desta festa é de João (Jo 3,13-17). O evangelista relata o diálogo de Jesus com Nicodemos, no qual Jesus diz que ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu: o Filho do Homem. E acrescenta: assim como Moisés levantou a serpente no deserto, é necessário que o Filho do Homem seja levantado. Jesus fazia aqui referência à sua morte no alto da cruz, no Calvário.
Pela morte de Jesus na cruz, todo aquele que nele crê terá a vida eterna. Nossa vida aqui na Terra é passageira, e devemos ter como meta final a vida eterna. Por isso, fixemos os nossos olhos na cruz do Senhor, peçamos perdão pelos nossos pecados e busquemos viver na santidade, para que recebamos, como recompensa, a vida eterna.
Jesus conclui dizendo que Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para salvá-lo. Que os homens de hoje fixem os olhos na cruz do Senhor e, em vez de se dedicarem apenas a guerras, destruições e violências, busquem a paz que vem da cruz.
A festa da Exaltação da Santa Cruz deve ser celebrada com alegria por todos nós. Proclamemos que a morte de Cristo na cruz foi uma vitória, e que, por meio dela, recebemos a salvação. Esta festa é como uma extensão da Sexta-Feira Santa, quando celebramos a entrega de Jesus por nós, através da morte de cruz — mas já confiantes na ressurreição.
Celebremos com o coração cheio de fé esta festa litúrgica, pedindo que a cruz seja a nossa luz e salvação. Aproveitemos este dia para rezar diante do crucifixo, pedindo forças para superar as “cruzes” do cotidiano. Acendamos uma vela e peçamos que Cristo seja sempre a nossa luz.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Enquanto o mundo gira, a cruz permanece em pé!
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ