Nos dias 18 e 19 de setembro, a Comissão de Assistência Religiosa da Arquidiocese do Rio de Janeiro promoveu um festival de jovens no Centro de Socioeducação Professor Antonio Carlos Gomes da Costa, na Ilha do Governador, unidade feminina de internação provisória para adolescentes do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase).
O assistente eclesiástico adjunto da Pastoral do Menor e pároco da Paróquia Jesus Eucaristia, em Engenho de Dentro, padre Charles Fernando Gomes, destacou a importância da ação pastoral. “O festival de jovens na unidade feminina foi uma experiência bonita, na qual pudemos, através da espiritualidade, de amorização, dinâmicas, adoração ao Santíssimo, pregações, meditação e reflexão na Palavra, proporcionar às meninas privadas de liberdade uma experiência concreta com Cristo.”
Padre Charles definiu a atividade como um marco no trabalho de evangelização junto às jovens internas. “Certamente um momento ímpar, um divisor de águas, nossa busca de evangelização, de amorização e ressocialização das adolescentes que ali estão privadas da liberdade”, afirmou.
Segundo padre Charles, a presença constante da Pastoral do Menor e o apoio do arcebispo do Rio, Cardeal Orani João Tempesta, têm sido fundamentais. “Ressalto a alegria de podermos sempre contar com a presença dos membros da Assistência Religiosa, da Pastoral do Menor e do nosso arcebispo, Dom Orani João Tempesta, que sempre se faz presente e acompanha nossas atividades do Degase”, sublinhou.
Além das jovens, os profissionais da unidade também se envolveram no evento. “Foi uma experiência bonita ver o diretor da unidade, os agentes socioeducativos e demais funcionários do Degase participando, de certa forma, nos intervalos, nos momentos, e também perguntando um pouco sobre a Igreja Católica, sobre Jesus e a Bíblia. Avalio como uma experiência muito boa, muito positiva”, comentou o padre Charles.
O festival foi organizado com o apoio da Comissão de Assistência Religiosa formada pelo padre Roberto José dos Santos, pela coordenadora técnica dos programas sociais da Pastoral do Menor, Geovana Silva, pela coordenadora Magda, pela irmã Ana Júlia, da Comunidade Sementes do Verbo, pelo diácono Paulo, por Carlos Augusto; e por outros agentes que atuam nas unidades do Degase.
Festival de jovens
O Festival de Jovens acontece desde maio de 2022 dentro das unidades do Degase, levando espiritualidade, formação e acolhimento a meninas e meninos privados de liberdade.
Segundo a irmã Ana Júlia, integrante da Comunidade Sementes do Verbo, o festival vai além de um simples encontro religioso. “O festival de jovens é um encontro em que cantamos, louvamos a Deus juntos e levamos alegria e esperança através das pregações, artes e acompanhamento espiritual. Podemos escutá-los e, quando possível, dar palavras e orientações que os ajudem a ter perspectiva de vida, esperança para si e para a família, além da conscientização das consequências de seus atos e o incentivo para uma vida íntegra e honesta.”
A religiosa explicou que a maioria dos adolescentes atendidos é fortemente marcada pelo ambiente em que cresceu. “Ao nascerem em comunidades e conviverem em meio à violência e criminalidade, acabam influenciados a ter como ‘conceito de certo’ a criminalidade e o tráfico. Estes, mesmo que falsamente, oferecem segurança financeira e prestígio. Muitos não têm medo das consequências, estão dispostos a serem presos ou até a morrerem”, relatou.
Ela acrescenta que as dificuldades de romper com o ciclo da criminalidade estão ligadas também a ameaças externas e à falta de alternativas atraentes. “É comum escutarmos: ‘Por que eu trabalharia um mês para receber um salário mínimo, se consigo tirar isso em dois dias na boca?’”, exemplificou.
Outro ponto destacado por irmã Ana Júlia é o peso dos traumas familiares. “São inúmeros os casos de violência, abusos, iniciação sexual, uso de drogas, separação dos pais. Muitos filhos assumem o sustento de casa ainda cedo. As maiores dores, em geral, estão relacionadas à ausência ou ao abandono paterno.”
Nesse contexto, a missão da Assistência Religiosa da Arquidiocese do Rio é focar na cura interior e na valorização pessoal dos jovens. “Nosso trabalho é com as feridas da alma, o perdão dado aos entes queridos, a possibilidade de sonhar e ter perspectiva de vida. Levamos Jesus e, a partir dele, podemos nos reconciliar com o passado, nos amar no presente e querer ter um futuro”, afirmou.
Também faz parte do trabalho acompanhar os adolescentes após o período de internação. “A assistência religiosa se propõe a ajudá-los ao término do tempo dentro da unidade, para que possam estudar e trabalhar”, explicou.
Até agora, já foram realizadas nove edições do festival, alcançando mais de 200 jovens. “Esse trabalho consegue trazer uma certa pacificação nas unidades, além de levar alegria não só para os adolescentes, mas também para os agentes. Já tivemos casos de jovens que procuraram a assistência religiosa depois do festival”, destacou.
Para irmã Ana Júlia, a missão é plantar sementes de fé e esperança. “É uma alegria ir a cada festival e levar uma semente de esperança dentro das unidades. Lançamos as sementes, mas quem faz crescer é Deus. Confiamos a Ele cada vida que encontramos e continuamos a interceder para que possam viver uma vida plena, como Deus quis.”
Carlos Moioli