Capela do Menino Deus acolhe relíquias de São Vicente de Paulo e reforça a missão de esperança e serviço aos pobres

A Capela do Menino Deus, no Centro do Rio de Janeiro, sede do Conselho Nacional da Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP), recebeu no dia 24 de setembro as relíquias de São Vicente de Paulo para uma missa solene presidida pelo arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta.

A peregrinação das relíquias na arquidiocese, que começou no dia 22 e se encerrará em 28 de setembro, integra as comemorações dos 400 anos da Congregação da Missão, que se estenderão até março de 2028, visando divulgar a espiritualidade vicentina por todas as dioceses do Brasil.

A presença das relíquias, que incluem um osso da costela (primeiro grau), um pedaço de sua túnica litúrgica (segundo grau), uma carta escrita pelo santo à Santa Luísa de Marillac, além da réplica do seu corpo em cera, reuniu fiéis devotos, confrades e consócias da SSVP.

A celebração contou com a concelebração de diversos padres, entre eles o responsável pela peregrinação, padre Edson Friedrichsen, o provincial da Província Brasileira da Congregação da Missão, padre Vandeir Barbosa de Oliveira, o pároco da Paróquia Santo Antônio dos Pobres, no Centro, padre João Geraldo Machado Bellocchio, e o vigário paroquial da Catedral de São Sebastião, no Centro, padre Manoel Pacheco de Freitas Neto.

Em sua homilia, Dom Orani destacou os três pilares da vida e do legado de São Vicente de Paulo: a missionariedade, a preocupação com os pobres e a formação do clero.

 

Missionariedade vicentina

Dom Orani iniciou sua reflexão ligando a Palavra de Deus à fundação da Congregação da Missão, como obra missionária que nasceu na Igreja pela Providência de Deus. “A missão está fundamentada no envio divino: Deus que envia os seus discípulos para irem às cidades proclamar a Boa Nova, proclamar o Evangelho do Reino de Deus a todas as pessoas.”

Segundo o arcebispo, essa proclamação deve ser feita “com a liberdade de falar a quem quiser escutar e, quando não quiser escutar, sair para outra cidade, sacudir a poeira das sandálias ou dos pés e levar adiante a Boa Notícia.”

O arcebispo reconheceu os desafios da evangelização na sociedade moderna: “Sabemos que nem todo mundo vem à Igreja e que nem sempre nossos meios de comunicação atingem a todos.” Contudo, enfatizou a importância de alcançar o povo: “Hoje temos os meios digitais para chegar mais longe.” A missionariedade é, portanto, uma característica central do santo, que “apaixonado por Cristo Jesus que anunciou Jesus Cristo por meio de palavras e ações.”

 

Pobreza, vulnerabilidade e o pecado da omissão

Em um segundo momento, Dom Orani abordou na homilia a urgência em relação aos pobres, ligando a leitura do Livro de Esdras à realidade social. O texto bíblico fala de “uma oração de arrependimento” e “as consequências de terem perdido o templo”. O arcebispo aplicou essa reflexão à realidade atual, notando que vivemos “tempos difíceis também em relação à questão das necessidades, da pobreza, da vulnerabilidade.”

A raiz desses problemas está no egoísmo humano: “Nisso está o pecado das pessoas com seus egoísmos, que tornam cada vez mais difícil a vida fraterna e a dignidade das pessoas.” A preocupação com os necessitados é outra característica de São Vicente de Paulo. A Sociedade de São Vicente de Paulo, fundada posteriormente por Antônio Frederico Ozanam, nasceu justamente para realizar “um trabalho organizado para servir aos necessitados.”

Dom Orani exortou os fiéis a pedirem conversão, reconhecendo que estamos “muito longe” de uma sociedade justa e fraterna. “Pelo contrário, parece que cada vez mais estamos mais longe de uma vida com dignidade para todos.” A realidade da cidade, marcada pela violência e insegurança, também se manifesta na falta de dignidade, pois muitas pessoas “estão vagueando sem um teto onde repousar a sua cabeça e passam as noites e os dias perambulando pelas ruas.” Por isso, “nós somos chamados a pedir perdão de nossos pecados, de omissão.”

 

Formação e transformação do coração

Um terceiro aspecto vital na vida vicentina, segundo o arcebispo, é a formação: “a formação do clero e do povo.” A verdadeira formação “vem do encontro com o Senhor, de conhecê-lo cada vez mais.” Ele observou que, embora existam leis, “o grande segredo é o coração do ser humano que se transforma, que se renova.” Essa transformação íntima acontece porque “a transformação do coração vem da Palavra de Deus que é proclamada, que é anunciada.”

A passagem das relíquias é vista como um grande carinho e uma oportunidade para “voltar às fontes” da vida cristã. O arcebispo incentivou a unidade e a caminhada sinodal, onde “na diversidade de carismas, de dons, nós vamos nos completando nessa necessidade.”

A visita das relíquias, que também lembra o legado de Santa Luísa de Marillac, é um convite para “voltar às fontes” e “poder retomar com coragem renovada toda a nossa vida.”

Dom Orani concluiu pedindo a intercessão do santo, para que a comunidade possa “cada vez mais ser uma presença transformadora no mundo, seja pela presença, seja pelo testemunho, seja pelo anúncio.” Finalizando a celebração, ele invocou: “São Vicente de Paulo reze e rogue por todos nós.”

 

Peregrinação vicentina é tempo de júbilo e convite à esperança

O responsável pela peregrinação das relíquias de São Vicente de Paulo no Brasil, padre Edson Friedrichsen, religioso da Congregação da Missão, descreveu a jornada das peças como um “tempo de júbilo” e uma manifestação do “espírito missionário de rodar pelo país inteiro, levando as relíquias.” A peregrinação, que se estenderá até março de 2028, tem como objetivo principal o “despertar vocacional, para todos os ramos da família vicentina.”

 

Relicário e significado histórico

Padre Friedrichsen detalhou a composição das relíquias, que chegaram da cidade de “Nápoles, na Itália.” O relicário é composto por três peças centrais:

  1. A relíquia central, de primeiro grau, é “uma das costelas de São Vicente de Paulo.”
  2. No lado esquerdo, encontra-se “uma carta que São Vicente dirige a Santa Luísa de Marillac, datada de maio de 1630.”
  3. Um “pedaço de uma veste litúrgica de São Vicente.”

O sacerdote explicou que a presença das três relíquias não é acidental, pois elas “nos remetem aos primeiros milagres de São Vicente que foram aprovados para a beatificação e para a canonização.” Segundo ele, milagres e graças foram alcançados por pessoas que “foram ao túmulo de São Vicente, fizeram novenas,” ou que “foram tocadas pelas vestes de São Vicente,” e também através das cartas.

 

A relíquia como intercessão

O padre Friedrichsen fez questão de sublinhar a função espiritual das relíquias: “A relíquia não é algo mágico.” Ela serve para “nos lembrar que nós temos um intercessor no céu.” A verdadeira transformação e os milagres são feitos “pela fé e pela ação de Deus na vida de cada um de nós.”

A peregrinação conta também com a presença de uma réplica do corpo em cera e de uma imagem comemorativa de 2017, feita no México, celebrando os 400 anos do surgimento do carisma.

 

Brasil: o país mais vicentino do mundo

Padre Friedrichsen destacou o papel especial do Brasil na celebração global, que dura quatro anos, tendo começado em março de 2023 e se estendendo até março de 2028, “tentando passar no maior número de dioceses possíveis.”

O Brasil é “considerado o país mais vicentino do mundo” e, por isso, teve o “privilégio de receber como primeiro país” as relíquias, bem como a réplica. O sacerdote ainda informou que, a partir de 2029, “outro país da América Latina receberá as relíquias, assim conforme combinado na cúria geral.”

 

O chamado à esperança e o milagre necessário

O carisma vicentino, segundo o sacerdote, exige que os fiéis sejam “peregrinos de esperança.” O convite é para transmitir o carisma, sendo “esperança na vida dessas pessoas,” oferecendo “um abraço, um afeto e a atenção.”

Ele reforçou a urgência da missão: “Precisamos ser a esperança para os pobres, e também para aqueles que estão às margens da sociedade e que às vezes são esquecidos.”

Concluindo sua mensagem, padre Friedrichsen revelou qual é o milagre que mais pede em todas as celebrações pelo Brasil: “mais vocações para amar e servir os pobres.” Ele encorajou aqueles que desejam conhecer o carisma a fazer uma “experiência mística,” aconselhando: “Procure alguém que está do seu lado, que é da sociedade, que é da família vicentina, e peça: deixa eu fazer uma visita.”

 

Carlos Moioli

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