Moradia digna: um compromisso com a vida e a justiça social

No dia 6 de outubro de 2025, celebra-se o Dia Mundial do Habitat, uma data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1985, por meio da Resolução 40/202 da Assembleia Geral.

Desde então, o dia passou a ser comemorado anualmente na primeira segunda-feira de outubro, com o objetivo de promover a reflexão global sobre o estado das cidades e o direito fundamental de todos a uma moradia digna, assegurado ainda por tratados internacionais. Este ano, sob o tema “Resposta às Crises Urbanas” (Urban Crisis Response), a ONU convida governos, instituições, comunidades e cidadãos a pensarem coletivamente sobre os desafios e soluções para tornar as cidades mais justas, resilientes e inclusivas.

As crises que hoje assolam as cidades, como conflitos armados, desastres naturais, mudanças climáticas, crises econômicas e deslocamentos forçados, afetam de maneira desproporcional as populações mais vulneráveis. Entre os subtemas propostos pela ONU-Habitat para 2025, destaca-se a necessidade de reconhecer a sobreposição dessas emergências nas áreas urbanas, agravando problemas estruturais como a escassez de moradia adequada, a violência urbana e a desigualdade social.

Neste contexto, ganha ainda mais relevância o trabalho realizado por organizações e pastorais populares que, há décadas, atuam na linha de frente da luta por moradia e justiça social. Um exemplo notável é a Pastoral de Favelas da Arquidiocese do Rio de Janeiro, que em 2025 celebra 48 anos de compromisso com o direito à vida digna nas favelas e periferias urbanas. Atuando de forma profética desde 1977, essa pastoral promove a escuta das comunidades, fortalece lideranças populares e enfrenta com coragem os processos de exclusão, remoção forçada e criminalização da pobreza.

Fruto da solicitude pastoral da Igreja no Brasil, sempre atenta ao clamor de milhares de brasileiros sem moradia digna, foi criada a Pastoral da Moradia e Favela, com o propósito de articular e fortalecer, em nível nacional, a presença e a ação evangelizadora da Igreja junto às populações que vivem em favelas, ocupações e periferias urbanas. Essa nova configuração pastoral busca integrar experiências já consolidadas em diversas dioceses, promovendo uma atuação conjunta na defesa da vida, da justiça social e do direito à cidade.

Em sintonia com essa iniciativa, a partir deste ano, a Pastoral de Favelas da Arquidiocese do Rio de Janeiro passa a adotar a nova nomenclatura: Pastoral da Moradia e Favela, reafirmando seu compromisso com a luta por justiça habitacional e sua integração à ação pastoral nacional.

Todo esse esforço eclesial encontrará eco na Campanha da Fraternidade 2026, que trará como tema “Fraternidade e Moradia”, iluminado pelo lema “Ele veio morar entre nós” (Jo 1,14). Inspirada na presença amorosa de Jesus entre os pobres e marginalizados, a campanha convida a Igreja e toda a sociedade a olharem com compaixão e responsabilidade para a realidade da moradia no Brasil, ainda profundamente marcada pela desigualdade, pela precariedade e pela negação de direitos básicos.

Milhões de brasileiros ainda vivem em condições extremamente precárias, seja em favelas, ocupações irregulares ou até mesmo em situação de rua. Essas populações enfrentam diariamente a ausência de direitos básicos, como o acesso adequado à água potável, ao saneamento, à energia elétrica, ao transporte e à segurança. Além da precariedade material, convivem com o medo constante do despejo forçado e da violência urbana, que aprofundam sua vulnerabilidade e exclusão social.

Diante dessa realidade marcada pela injustiça, a Campanha da Fraternidade nos convoca a uma ação concreta e transformadora, inspirada pelos valores do Evangelho e no compromisso cristão com a dignidade de cada pessoa. Ela nos chama a lutar por políticas públicas habitacionais mais justas e inclusivas, capazes de enfrentar de forma estrutural o déficit habitacional no país. Convida-nos também a apoiar iniciativas comunitárias e movimentos sociais que promovem o direito à cidade, o acolhimento e a justiça social, sobretudo para os mais pobres e marginalizados.

Mais do que isso, a campanha propõe o fortalecimento da solidariedade nas comunidades, para que ninguém se sinta sozinho diante das dificuldades, e nos encoraja a denunciar com firmeza todas as formas de injustiça que negam o direito à moradia a tantos irmãos e irmãs. Essa é uma tarefa que exige compromisso coletivo, empatia e coragem para transformar a realidade. A luta por moradia digna é, acima de tudo, uma expressão concreta de amor ao próximo e de fidelidade ao projeto de vida plena para todos, anunciado por Jesus Cristo.

Nesse contexto, recordamos com gratidão e urgência o apelo do saudoso Santo Padre, o Papa Francisco, pelo cuidado com a Casa Comum. Neste ano em que celebramos o 10º aniversário da Encíclica Laudato Si’, somos convidados a reconhecer a profunda conexão entre a crise habitacional e a crise climática. Em 2015, o Papa já nos alertava que não há duas crises separadas – uma ambiental e outra social – mas uma única e complexa crise socioambiental, que exige uma resposta integral.

As populações mais empobrecidas, que já sofrem com a negação de direitos, são também as mais afetadas pelos desastres climáticos, pelos deslizamentos, enchentes e pelas ilhas de calor nas periferias urbanas. Por isso, cuidar das pessoas passa também por cuidar do planeta. Lutar por moradia digna é também uma forma de responder à degradação ambiental e às mudanças climáticas, promovendo cidades mais justas, sustentáveis e humanas.

A Campanha da Fraternidade nos encoraja a fortalecer a solidariedade nas comunidades, para que ninguém se sinta sozinho diante das dificuldades, e a denunciar todas as formas de injustiça que negam o direito à moradia e à vida digna. Essa é uma missão que exige de todos nós compromisso coletivo, empatia, escuta e coragem para transformar as estruturas de desigualdade. A luta por moradia digna e por justiça ambiental é, acima de tudo, um testemunho de amor ao próximo e de fidelidade ao projeto de vida plena para todos, anunciado por Jesus Cristo.

Considerando esse retrospecto, no dia 6 de outubro de 2025, a Pastoral da Moradia e Favela fará o anúncio da Campanha da Fraternidade 2026 no Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor, em celebração que contará com a Santa Missa, ao meio-dia, presidida pelo Arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta. A celebração contará ainda com a participação do Vicariato para a Caridade Social, Pastoral do Povo da Rua e do Coral Canto da Rua, formado por pessoas com trajetória de vida nas ruas, simbolizando a presença e a voz dos mais vulneráveis na luta por moradia digna.

Esse momento de fé e compromisso social está profundamente em sintonia com a Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, que nos chama a construir uma fraternidade universal e uma amizade social que não exclua ninguém. Ao propor uma sociedade mais solidária, justa e atenta aos últimos, Fratelli Tutti inspira ações concretas como esta, em que a Igreja se coloca ao lado dos pobres e denuncia as estruturas que perpetuam a exclusão e a negação de direitos fundamentais, como a moradia.

O Cristo Redentor será iluminado com o tema da Campanha da Fraternidade 2026 e com a logomarca da Pastoral da Moradia e Favela nacional, transmitindo uma profunda mensagem de acolhimento, esperança e redenção. De braços abertos, o monumento simboliza a presença constante de Cristo junto a todos, especialmente entre os pobres e marginalizados, convidando-nos a construir uma sociedade mais humana, solidária e reconciliada.

Essa iluminação destaca o compromisso da Igreja e da sociedade em promover o direito à moradia digna, reafirmando que ninguém deve ser excluído do cuidado e da proteção que Jesus representa. O chamado é claro: ter uma casa digna não é um luxo, mas um direito humano fundamental amparado pelo Magistério da Igreja, em especial por sua Doutrina Social. É no lar que se constrói a convivência familiar, a proteção da vida, a educação e a vivência da fé.

Assim, o Dia Mundial do Habitat 2025 e a Campanha da Fraternidade 2026 se entrelaçam num mesmo clamor por justiça social, fraternidade e dignidade para todos. Ambos os movimentos ressaltam que responder às crises urbanas não é apenas um dever dos governos, mas um compromisso coletivo da sociedade civil, das igrejas, das comunidades e de cada cidadão.

É tempo de agir. Cuidar das cidades é cuidar das pessoas que nelas vivem. E reconhecer o valor das experiências e lutas, como as da Pastoral da Moradia e Favela, é fortalecer caminhos de transformação social. Que nossas casas, igrejas e comunidades se tornem verdadeiros espaços de acolhimento, solidariedade e vida plena, onde todos possam morar com dignidade, como desejou Cristo ao vir habitar entre nós.

 

Missa e iluminação pelo Dia Mundial do Habitat 2025 e pela Campanha da Fraternidade 2026, junto à Pastoral da Moradia e Favela

Data: 6 de outubro de 2025

Horário: 12h

Local: Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor

 

Pastoral da Moradia e Favela

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