Neste ano, a Adoção Espiritual (adocaoespiritual.org.br) completa quatro anos de existência, gerando bons frutos em favor da vida e do nascituro. A iniciativa, que tem como idealizador o bispo auxiliar do Rio de Janeiro Dom Tiago Stanislaw, tem a finalidade de salvar a vida de uma criança que corre o risco de não nascer.
Junto com a conscientização sobre a importância da vida desde a concepção, e estimulando o respeito e a valorização do nascituro, a iniciativa tem formado uma comunidade solidária, na qual pessoas se unem em torno da causa da Adoção Espiritual, criando laços e compartilhando experiências que fortalecem a ideia de que cada vida tem um propósito.
Por ocasião da Semana Nacional da Vida e do Dia do Nascituro, em entrevista ao jornal “Testemunho de Fé”, Dom Tiago Stanislaw abordou sobre a Adoção Espiritual, a qual muitas pessoas têm abraçado no intuito de salvar uma vida, dom de Deus.
Testemunho de Fé (TF) – O que é Adoção Espiritual?
Dom Tiago Stanislaw – A Adoção Espiritual é um apostolado de oração, no qual nós cuidamos de uma criança concreta, concebida, que tem seus pais biológicos, mas que se encontra, podemos dizer assim, sem seus pais espirituais. Porque os pais biológicos ainda não abraçaram e acolheram a criança, não a consideram como sua filha.
Com isso, essas crianças ainda não têm seu pai e mãe que a ame, que a acolha, que dá o carinho. E nós nos colocamos, perante Deus, à disposição, estamos prontos para cuidar desta criança durante nove meses, no tempo da gravidez, sendo exatamente pai e mãe espiritual.
Na Adoção Espiritual, nós praticamos através de uma oração diária, que é uma dezena do terço e uma oração própria, na qual pedimos na intenção do nosso filho espiritual, mas também pedimos na intenção da mãe desta criança, para que ela possa tomar uma boa e única decisão, ou seja, dizer sim para esta nova vida, e também lembramos de seus familiares.
A Adoção Espiritual, na sua simplicidade, transmite o que é mais importante, que é o amor a um ser humano que está chegando aqui para este mundo. Não se trata apenas de uma oração em si, trata-se do exercício da maternidade e paternidade.
TF – No Rio de Janeiro, onde surgiu a iniciativa?
Dom Tiago Stanislaw – Na década de 1980, alguns jovens que estudaram na Inglaterra levaram para a Polônia um panfleto que abordava sobre a Adoção Espiritual. Nessa época eu conheci a iniciativa e comecei a praticar, a ser um pai espiritual. Quando vim para o Brasil, propus a Adoção Espiritual na minha primeira paróquia, a São Judas Tadeu, em Bangu. Até hoje, existem pessoas que continuam sendo pais e mães espirituais. No ano 2020, propus a Adoção Espiritual como gesto concreto na Semana da Nacional da Vida.
TF – Como adotar espiritualmente uma criança?
Dom Tiago Stanislaw – Podemos fazer isso em duas formas, uma particular e outra solene. Na particular posso começar a Adoção Espiritual em qualquer momento. A nossa arquidiocese disponibiliza a carteirinha da Adoção Espiritual, que traz a oração de compromisso que dá o início à Adoção Espiritual. O compromisso é diário, de rezar uma dezena do terço e a oração especial.
No final de nove meses, temos mais uma oração com a qual encerramos a Adoção Espiritual. Compreendendo que, logo a seguir, nós podemos começar outra Adoção Espiritual. E novamente pedir a Deus para que nos envie, apresente e determine uma criança que precisa desses cuidados porque se encontra em risco de morte.
Para facilitar, o pai e a mãe espiritual acessam o aplicativo da Adoção Espiritual, que chamamos de assistente virtual, na qual tem a oração do início e outras informações necessárias para a prática do compromisso.
A maneira solene é quando na paróquia uma pastoral ou movimento abraça a causa, e pede a bênção do padre. Disponibilizamos, para quem desejar, o rito dessa bênção solene.
Para iniciar o compromisso, é bom escolher uma data relacionada a Nossa Senhora, uma festa, memória, solenidade ou no primeiro sábado de cada mês, porque entendemos que a Adoção Espiritual tem base mariana.
TF – Quantas pessoas fazem parte da Adoção Espiritual?
Dom Tiago Stanislaw – É muito difícil dizer. Mas tenho certeza que são dezenas ou centenas de milhares que abraçaram a causa. Uma base concreta para essa resposta é que todo dia cerca de cem mil pessoas fazem parte da Adoção Espiritual na oração do rosário da madrugada realizada pelo Instituto Hesed. Muitas pessoas também conheceram e abraçaram a causa da Adoção Espiritual através da minha presença na Canção Nova ou junto com o frei Gilson. Além de paróquias da arquidiocese e outras do Regional Leste 1, a Adoção Espiritual está presente em outras dioceses do Brasil através de colaboradores que conheceram e abraçaram a Adoção Espiritual.
Preparamos um curso com quatro encontros, para que as pessoas possam conhecer melhor a base teológica da Adoção Espiritual, e compreender, a partir da paternidade de Deus, que podemos assumir papéis como pai e como mãe espiritual. Também possibilita conhecer a estrutura de trabalho, se tornar colaboradores, e apresentar ao povo de Deus como gesto concreto da Semana Nacional da Vida.
TF – Por que ainda hoje existe a cultura da morte?
Dom Tiago Stanislaw – Muitas pessoas chegam à conclusão que para se livrar de um problema a morte é uma saída.
Neste ano, a Semana Nacional da Vida trata da temática dos idosos. Muitas vezes, os próprios idosos começam a sentir um peso, se sentirem inúteis, e ficam até convencidos que as vidas deles neste mundo não têm mais sentido. Entendemos que é um fator cultural, que está na mente das pessoas a própria ideia de promover a morte, a partir da concepção, quando a criança ainda está nas primeiras fases do seu desenvolvimento.
A promoção da morte oculta a verdade da vida. Quando as pessoas tomam conhecimento como que se desenvolve o ser humano, elas reagem diferente.
A mensagem do “Joãozinho antes de nascer”, na qual convido todos para conhecer (minha familiazinha.com), é escultura do tamanho real de uma criança de 12 semanas. As pessoas ficam assustadas quando percebem o tamanho da criança em formação, que já tem a aparência de um ser humano. Muitas vezes, as pessoas são enganadas em acreditar que o aborto é o rompimento do desenvolvimento de alguma coisa, e não entendem que se trata de um ser humano.
Se tratando de aborto, há os casos de egoísmo, quando se percebe que uma nova vida traz compromissos, ou a situação de uma jovem que já tem outros filhos para cuidar, ou a criança que é fruto de uma violência.
Para muitos, descartar, tirar a vida, traz solução imediata. Mas, se esquecem sobre o impacto da ação na vida de uma mulher, que pode, inclusive, nunca mais ter filhos. Por outro lado, a mulher vai carregar psicologicamente um peso pelo resto da vida. Ela pode até empurrar a situação para algum canto de sua memória, mas sempre irá lembrar. Não é natural o ser humano levantar a mão contra seu semelhante, ainda no caso, uma mãe contra o próprio filho. É uma situação complexa.
TF – A Adoção Espiritual pode ser um gesto concreto da Semana Nacional da Vida e do Dia de Nascituro?
Dom Tiago Stanislaw – Sim, a Adoção Espiritual é uma proposta concreta de viver a Semana Nacional da Vida e do Dia de Nascituro. Qualquer pessoa pode encontrar um tempo para dar atenção à vida de um ser humano que está para vir, para nascer. Ao fazer a Adoção Espiritual, estou ajudando uma pessoa concreta. Não conheço a pessoa, somente Deus conhece, não sei onde ela está, qual é a situação dos pais dela, mas eu sei que, praticando a Adoção Espiritual, eu cuido de uma vida concreta, na esperança que ela vai vir, nascer, e um dia vamos ter a graça de conhecê-la no Céu.
TF – Quais os frutos da Adoção Espiritual?
Dom Tiago Stanislaw – A Adoção Espiritual, que está completando quatro anos, se desenvolve de uma maneira muito simples. Não fazemos grandes campanhas, porque é um ato de fé e de amor, não é um convencimento que faz as pessoas abraçarem a Adoção Espiritual. Estamos crescendo aos poucos, com passos pequenos, mas seguindo em frente.
A minha experiência é de que quem começa uma vez abraça a proposta com o coração, amor e fé. As pessoas percebem a alegria que esta prática traz para a sua vida. Como exemplo, lembro de um casal que partilhou comigo que há muito tempo esperava um filho, pediu, rezou e fez tratamento. Ao iniciar a Adoção Espiritual, poucas semanas depois, descobriram que estavam carregando, além do filho espiritual, também um filho biológico.
Para as pessoas que cometeram aborto, a Adoção Espiritual traz um retorno de cura interior. Muitas mulheres partilham que se confessaram, pediram o perdão de Deus pelo ato, foram absorvidas, mas o coração continuava sangrando, e só sentiram paz quando abraçaram a Adoção Espiritual.
Muitas que já abortaram dizem que rezam na intenção de uma criança, como mãe espiritual, para que a vida dela não se perca como fez perder a vida do seu filho. Elas rezam na intenção da mulher, da mãe da criança, para que ela nunca passe por aquilo que ela passou por causa do aborto que fez. São sinais fortes que, com certeza, faz valer a pena promover a Adoção Espiritual.
Carlos Moioli