Arquidiocese do Rio promove semana de ações e reflexão para o 9º Dia Mundial dos Pobres, com foco na moradia e na esperança cristã

A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro realizará, entre os dias 10 e 16 de novembro de 2025, uma série de iniciativas pastorais e sociais para marcar o 9º Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco e celebrado anualmente no 33º Domingo do Tempo Comum — que neste ano cairá em 16 de novembro. O tema da mensagem do Papa para 2025, extraído do Salmo 71, é “Tu és a minha esperança”, escolhido pelo Papa Leão XIV para orientar a Igreja na aproximação e no cuidado integral com os mais pobres.

Segundo o vigário episcopal para a Caridade Social da Arquidiocese do Rio, monsenhor Manuel de Oliveira Manangão, a proposta deste ano mantém a dinâmica construída desde o período da pandemia, integrando as ações do Dia Mundial dos Pobres com a apresentação e preparação da Campanha da Fraternidade 2026, que terá como tema a moradia. O vigário episcopal explica que a realidade enfrentada pelas populações vulneráveis tornou indispensável uma abordagem conjunta. “Desde a pandemia, vimos que era muito complicado toda hora estar chamando as pessoas para movimentos e grandes encontros. Então, aproveitamos o Dia Mundial dos Pobres para um grande momento de apresentação da Campanha da Fraternidade de cada ano”, afirma.

Para 2026, o tema central da Campanha da Fraternidade será Fraternidade e Moradia, com o lema “Ele veio morar entre nós” — referência ao início do Evangelho de São João (Jo 1,14). De acordo com monsenhor Manangão, a Arquidiocese do Rio decidiu que todas as atividades da Semana pelo Dia Mundial dos Pobres estarão alinhadas à reflexão sobre o direito à moradia digna. “Achamos que seria muito bom trabalhar toda a Semana pelo Dia Mundial dos Pobres nessa temática. Primeiro reforçamos o tema do Dia Mundial dos Pobres e, depois, ajudamos a Igreja e a sociedade a refletirem sobre a moradia, que é uma urgência concreta”, explica.

 

Mobilização nos vicariatos

A programação começa no dia 9 de novembro, quando todos os vicariatos da Arquidiocese promoverão encontros de reflexão sobre a Doutrina Social da Igreja e sobre a mensagem do Papa para o Dia Mundial dos Pobres. Cada vigário episcopal está organizando sua própria dinâmica, com realidades pastorais distintas. “Cada grupo foi fazendo do seu jeito e isso acontece espalhado por toda a Arquidiocese do Rio de Janeiro, que agora possui 13 vicariatos”, recorda.

O objetivo dos encontros é fortalecer a consciência cristã sobre a pobreza em suas múltiplas expressões, com destaque para a exclusão habitacional e a precarização do trabalho, elementos considerados estruturais no cenário carioca.

 

Três lives temáticas: trabalho, moradia e terra

Entre os dias 10 e 12 de novembro, três transmissões ao vivo abordarão temas alinhados com o tripé social refletido pelo Papa Francisco em diversos documentos recentes: trabalho, moradia e terra.

A primeira live, organizada pela Pastoral Operária, discutirá o mundo do trabalho no século XXI e suas transformações. “Hoje, o trabalho não é só o assalariado com carteira assinada. Camelô, catador, quem faz um bico para sobreviver, todos estão dentro dessa realidade. Pensar o trabalho como algo maior ajuda a descobrir que caminhos pastorais precisamos desenvolver”, avalia monsenhor Manangão.

A segunda live ficará sob a responsabilidade da Pastoral da Moradia e Favela (antiga Pastoral de Favelas), que atua em regiões de grande vulnerabilidade habitacional. O sacerdote lembra que o déficit de moradias no Rio é histórico. “Faltam 400 mil habitações para resolver os problemas do Rio de Janeiro. Na verdade, falta até mais que isso”, alerta.

A proposta é apresentar documentos da CNBB, experiências de resistência e parceria social, como a Fundação Bento Rubião, criada a partir das demandas das favelas e que continua exercendo papel fundamental na luta por direitos urbanos.

A terceira live refletirá sobre a terra como espaço de vida, trabalho e cuidado ambiental — vinculando ecologia integral, agricultura comunitária e sustentabilidade urbana.

Para monsenhor Manangão, a discussão das três dimensões — trabalho, moradia e terra — permitirá ampliar a compreensão pastoral sobre pobreza. “São conexões fundantes para a vida das pessoas. Sem teto, sem emprego e sem chão, como alguém vai viver com dignidade?”, questiona.

 

Ação social na Catedral: presença solidária e serviços essenciais

A sexta-feira, dia 14, será dedicada à Ação Social Arquidiocesana, realizada pelo sexto ano consecutivo no entorno da Catedral Metropolitana de São Sebastião, no Centro. A atividade contará novamente com o apoio da Marinha do Brasil, que instalará tendas no local, e com uma parceria ampla com secretarias do município e do governo estadual.

O público prioritário é a população em situação de rua, mas qualquer pessoa que necessite poderá receber atendimento e orientação. Os serviços oferecidos incluem emissão de documentos, apoio para inscrição e atualização no CadÚnico, acesso a benefícios sociais, orientação jurídica e presença de pastorais especializadas. “Às vezes as pessoas nem sabem que têm direito a benefícios já promovidos pelos governos, e vão se perdendo. Queremos ajudá-las a recuperar esses direitos”, afirma.

Segundo o vigário episcopal, a prática tem mostrado eficácia. “Nenhuma das 120 famílias acompanhadas pela minha paróquia, a Santa Margarida Maria, na Lagoa, durante a pandemia ficou sem receber seus benefícios, justamente porque trabalhamos o cadastramento e o acompanhamento de perto”, exemplifica.

Também estarão presentes o Banco da Providência, a Cáritas Arquidiocesana e pastorais como a Carcerária, da Saúde e da Moradia, além de equipes com formação para acolhimento de migrantes, vítimas de trabalho escravo e pessoas submetidas ao trabalho análogo à escravidão.

 

Lançamento arquidiocesano da Campanha da Fraternidade 2026

No sábado, 15 de novembro, a Catedral sediará o lançamento da Campanha da Fraternidade 2026, com apresentação do texto-base e a formação de grupos que trabalharão o tema junto às comunidades em preparação para a Quaresma. A atividade contará com a presença de participantes do núcleo nacional responsável pela elaboração da campanha.

O enfoque pastoral seguirá a tradicional metodologia da Igreja. “É olhar a realidade, iluminá-la com a Palavra de Deus e desenvolver ações concretas de transformação. A moradia hoje é uma situação dramática e exige discernimento e compromisso”, destaca monsenhor Manangão.

Ele lembra que o custo de vida tem empurrado famílias novamente para casas de parentes e provocado expansão desordenada das comunidades. “Os preços de aluguel em favelas estão estratosféricos. Então se constrói cada dia mais longe, mais íngreme e com mais precariedade, e sem nenhuma orientação oficial”, lamenta.

 

Dia Mundial dos Pobres: celebração da esperança

O encerramento da Semana do Pobre ocorrerá no dia 16 de novembro, com o Café da Manhã com a população em situação de rua, organizado pela Pastoral Social da Catedral, seguido da Santa Missa às 10h, a ser presidida pelo Cardeal Orani João Tempesta.

A celebração retomará a mensagem do Papa Leão XIV “Tu és a minha esperança” e convidará os fiéis a reconhecerem Cristo presente nos mais necessitados. A imagem escolhida para ilustrar a Campanha da Fraternidade 2026, que mostra Jesus associado à figura de uma pessoa que vive nas ruas, expressa bem esse apelo. “Onde houver alguém sem moradia, ali está Cristo de novo, presente e visível. É Ele quem nos chama a cuidar”, reflete monsenhor Manangão.

O sacerdote acredita que a Semana pelo Dia Mundial dos Pobres é um tempo privilegiado de conversão pastoral e social para toda a Arquidiocese do Rio. “Celebramos o dia da esperança porque sabemos que a dignidade que Deus quer para cada pessoa é concreta: tem casa, tem trabalho, tem pão. E a Igreja precisa estar ao lado dos que mais sofrem para que essa esperança se realize”, conclui.

 

Carlos Moioli

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