Arquidiocese representada em simpósio internacional de Direito e Religião nos Estados Unidos

O secretário da Comissão Arquidiocesana de Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso, padre Nelson Augusto dos Santos Águia, representou a Arquidiocese do Rio de Janeiro no 30º Simpósio Anual Internacional de Direito e Religião, realizado na cidade de Provo, no Estado de Utah, nos Estados Unidos, entre os dias 29 de setembro e 4 de outubro.

“Proteger o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião: 75 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos”, foi o tema do simpósio que reuniu um grupo de mais de cem acadêmicos, diplomatas, juízes e líderes governamentais, cívicos e religiosos de 65 países, com a presença de cerca de 17 idiomas.

Este ano, o simpósio celebrou o seu 30º aniversário de criação, e também comemorou o 75º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da proteção do pensamento, da consciência e da religião.

Apesar do enorme impacto, a Declaração Universal e os direitos de pensamento, consciência e religião que protege continuam a enfrentar desafios. Alguns questionam a reivindicação de direitos universais, enquanto os movimentos populistas procuram consolidar proteção apenas para as religiões maioritárias. Outros questionam se as diversas religiões podem realmente criar uma sociedade coesa, ou lutar contra entendimentos robustos de liberdade de religião ou crença.

Durante o simpósio, os participantes analisaram questões como o papel da religião e da diplomacia na implementação dos valores da Declaração Universal; como os atuais líderes e movimentos religiosos compreendem o conceito de dignidade humana e liberdade religiosa; o papel do Estado de direito na garantia de que os direitos proclamados na Declaração Universal sejam significativos; como diversas religiões podem criar uma sociedade unificada; e como a Declaração Universal teve um impacto na liberdade religiosa em tribunais internacionais e nações ao redor do mundo.

 

Amor de uns pelos outros

Na sua conferência, com o tema “Uma reflexão sobre a intolerância religiosa”, o padre Nelson Águia, enviado pelo arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, fez uma reflexão à luz da Palavra de Deus estimulando o diálogo e o respeito como caminho para que as religiões andem juntas e, no dizer do Papa Francisco, com a promoção da cultura do encontro.

Para o padre Águia, muitos acreditam que, para conhecer a Deus, somente se necessita, e basta, aderir formalmente a um credo religioso pela prática de um culto. Seguir dogmas ou doutrinas. Conhecer bem os livros sagrados. Com base em 1João 4, 7-8, “quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”, o padre Nelson Águia continuou sua reflexão afirmando que “tudo isso, sem dúvida, tem sua devida e proporcional importância. Porém, o conhecer a Deus, um ser superior, o sagrado, o criador deve se dar, em primeiríssimo lugar, numa comunhão de amor. Esse, sim, é o grande início do aproximar-se de Deus. Portanto, quem não ama, ou não se permita amar, mesmo que tenha uma fé absolutamente fervorosa, siga rigorosamente todas as normas da religião, não poderá se entreter firmemente e verdadeiramente com Deus”, disse.

O intolerante religioso, em geral, explicou padre Nelson Águia, conhece textos de cor, recita termos teológicos facilmente, braveja citações, mas não age com amor. Ele reconhece, com tristeza, que os fanatismos são protagonizados também por pessoas religiosas, sem excluir os cristãos.

“O radical intolerante age com ódio, com rancor, com sentimento de vingança, com desejo de eliminação. É levado a considerar-se onipotente, e esquecer que todos somos irmãos. Aceitar o outro tal como ele é, para o intolerante, torna-se uma missão impossível, árdua, pois olha o outro tão somente pelo seu prisma dogmático, e não com amor. A religião, neste sentido, aprisiona, reduz, e se torna inimiga de uma vida espiritual”, afirmou.

“Deus é Deus, e Ele se manifesta como quer, onde quer, e com quem Ele quer”, explicou padre Nelson Águia, afirmando que não dá certo tentar colocar “amarras no Senhor Todo Poderoso”.

Lembrou que Deus não precisa de um aval do homem para agir. “Devemos aceitar que nenhuma religião tem a propriedade de Deus. O Papa Francisco já afirmou: Deus não é Deus dos católicos, mas é Deus”.

Para o padre Nelson Águia, qualquer religioso que diga “amo a Deus, mas odeio o irmão” (1João 4, 20-21), não é religioso, mas sim hipócrita. “O amor a Deus passa necessariamente pelo amor ao próximo. Desculpe por afirmar o óbvio, mas até o obvio está sendo esquecido”, afirmou o sacerdote.

“A resposta tanto para conhecer, quanto para ser conhecido por Deus é o amor de uns pelos outros. Se vivermos radicalmente assim – acentuo a palavra radical novamente – cristãos ou não, crentes ou não crentes, homens e mulheres de boa vontade, tenho certeza, nem saberíamos o que seria a palavra intolerância, ou discriminação. Vamos renunciar à mesquinhez, ao ressentimento, às contraposições sem fim. Vamos assumir nossas próprias limitações, em vez de fomentar ódios e rancores. Alimentemo-nos do que é bom, e todos, e todas as religiões, vamos nos colocar a serviço do bem”, concluiu o padre Nelson Águia.

 

Carlos Moioli

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