“Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11,25)
Celebramos neste domingo a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, ou Dia de Finados. A exemplo da festa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, celebrada no último dia 12 de outubro, neste ano o Dia de Finados ocorre em um domingo, substituindo a celebração do 31º Domingo do Tempo Comum.
O Dia de Finados é celebrado independentemente do dia da semana em que ocorra. Por isso, mesmo sendo domingo, hoje o celebramos. O domingo é o Dia do Senhor, o dia em que nos reunimos para professar nossa fé na ressurreição de Jesus Cristo. Ao celebrarmos o Dia de Finados, recordamos todos aqueles que já faleceram e, pela fé que professamos, cremos que vivem na eternidade, junto de Deus. Celebramos, portanto, a certeza da ressurreição e a convicção de que a vida não termina aqui, mas continua na eternidade.
Neste ano de 2025, a Solenidade de Todos os Santos, normalmente transferida para o domingo quando o dia 1º de novembro cai em dia de semana, será celebrada no sábado, dia 1º de novembro. No próximo ano, essa solenidade será novamente no domingo, e a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos será celebrada na segunda-feira. As duas celebrações são próximas, pois todos os fiéis são chamados a viver a santidade no cotidiano. Ainda que nem todos sejam canonizados pela Igreja, todos os batizados caminham rumo à Igreja Celeste, tendo como meta permanecer eternamente ao lado de Deus.
Como dissemos, celebrar o Dia de Finados é celebrar a certeza da ressurreição. O próprio Jesus nos assegurou isso quando venceu a morte e prometeu aos discípulos preparar um lugar no Céu. A morte, num primeiro momento, causa dor e tristeza; não queremos perder aqueles que amamos. No entanto, devemos compreender que, como tudo na criação, nós nascemos, amadurecemos e um dia morremos. Mas, pela fé, acreditamos que os nossos entes queridos descansam nos ombros do Bom Pastor.
É costume celebrar missas pelos fiéis defuntos no sétimo dia de falecimento, mensalmente e também anualmente. Rezamos para que essas pessoas descansem junto de Deus. Tradicionalmente, às segundas-feiras, a Igreja celebra a missa votiva pelas almas, intercedendo por todos os falecidos.
São muitas opções de leituras. Escolhemos uma opção. A primeira leitura, do livro de Jó (Jó 19,1.23–27a), nos oferece uma belíssima profissão de fé na vida eterna. Jó expressa sua esperança de que, após a morte, viverá para sempre junto de Deus. Ele deseja que suas palavras fiquem gravadas no coração daqueles que ama, para que sigam seus ensinamentos. Após nossa passagem pela terra, ficará na memória dos outros o bem que fizemos e o quanto fomos capazes de amar. Que, ao partirmos, deixemos boas lembranças e o testemunho de uma vida vivida no amor e no serviço. Façamos o bem na terra para colher o bem no Céu.
O Salmo 26 (27) nos faz rezar: “Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver na terra dos viventes.” Não sabemos o dia nem a hora em que nos encontraremos com o Senhor. Por isso, devemos viver em vigilância e oração, nutrindo no coração a certeza de que, após nossa passagem por este mundo, veremos o Senhor na terra dos viventes.
A segunda leitura, da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 15,20-24a.25-28), nos recorda que Cristo ressuscitou como primícias dos que morreram. Ele morreu primeiro para nos garantir que, como Ele ressuscitou, também nós ressuscitaremos. Por um homem, Adão, entrou a morte no mundo; por outro homem, Jesus Cristo, veio a ressurreição. Cristo é o novo Adão: pela Sua morte e ressurreição, Ele venceu o pecado e nos abriu as portas da vida eterna. Nós pertencemos a Cristo — Ele é a Cabeça, e nós, os membros do Seu Corpo. Ao comungarmos de Seu Corpo e Sangue, preparamo-nos para participar da Ceia eterna no Céu. Se pertencemos a Cristo, ressuscitaremos como Ele.
O Evangelho (Jo 11,17-27) nos apresenta a ressurreição de Lázaro. Jesus era muito amigo de Lázaro e de suas irmãs, Marta e Maria. Ao receber a notícia da morte de Lázaro, demorou-se alguns dias, e quando chegou a Betânia, Lázaro já estava morto havia quatro dias. Marta foi ao encontro de Jesus e disse: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.” Ela, porém, acrescenta: “Mas mesmo assim sei que o que pedires a Deus, Ele te concederá.” — um testemunho profundo de fé e confiança.
Jesus então lhe diz: “Teu irmão ressuscitará.” Marta acreditava na ressurreição final, no fim dos tempos, mas Jesus revela algo ainda maior: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, mesmo que morra, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim jamais morrerá.” Marta responde com uma bela profissão de fé: “Sim, Senhor, eu creio que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo.”
Que possamos fazer hoje a mesma profissão de fé de Marta: “Eu creio!” Creio que Jesus é a ressurreição e a vida; creio que aqueles que morreram continuam vivos, intercedendo por nós junto de Deus.
Como professamos em nossa fé: “Creio na ressurreição da carne, creio na vida eterna.”
Celebremos com fé e esperança este Dia de Finados, certos de que um dia nos reuniremos na eternidade com todos os que já partiram na paz do Senhor.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ