Comunicar a Esperança com Mansidão

Reflexões sobre Mensagem do Papa Francisco para o LIX Dia Mundial das Comunicações Sociais

 

Foi publicada hoje o texto da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Esta data foi criada no Concílio Vaticano II no documento Inter Mirifica, que foi um dos dois primeiros documentos emanados do Concílio. O tema desse dia é escolhido e publicado no dia dos Arcanjos Gabriel, Miguel e Rafael, grandes comunicadores. O dia mundial é comemorado no Domingo da Ascensão do Senhor (no Brasil) e o texto com o conteúdo da mensagem foi publicado hoje, memória do padroeiro dos jornalistas, São Francisco de Sales.

Em sua mensagem para este LIX Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa Francisco nos convida a refletir profundamente sobre o papel da comunicação e dos comunicadores em tempos marcados pela desinformação, polarização e agressividade. Com o tema “Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações”, o Pontífice apresenta uma visão renovada para o trabalho de jornalistas e comunicadores: ser agentes de esperança, promovendo o diálogo e a dignidade humana. Afirma o Santo Padre: “Precisamos do vosso compromisso corajoso em colocar no centro da comunicação a responsabilidade pessoal e coletiva para com o próximo…gostaria de vos convidar a ser comunicadores de esperança, começando pela renovação do vosso trabalho e missão segundo o espírito do Evangelho.”.

O Papa destaca que a comunicação, hoje, muitas vezes não gera esperança, mas fomenta medo, rancor e divisões. As redes sociais e os meios de comunicação, frequentemente usados para manipular opiniões e distorcer realidades, acabam reforçando uma lógica de competição e fanatismo, obscurecendo o rosto do próximo e a sua dignidade. Contra essa tendência, Francisco apela para uma comunicação que seja desarmada, livre de agressividade e capaz de construir pontes.

Segundo o Santo Padre, os comunicadores são chamados a buscar a verdade e a justiça, priorizando o bem comum e a promoção da paz. Inspirando-se no Evangelho, ele propõe um estilo de comunicação que vá além dos slogans simplistas, que ouça com atenção, e que se esforce para compreender e integrar o outro, especialmente os marginalizados.

Para o Papa Francisco, a esperança é uma virtude essencial, mas que exige coragem e persistência. Ele cita o escritor Georges Bernanos para sublinhar que a esperança não é ingênua ou passiva; pelo contrário, é um “risco dos riscos”. A verdadeira esperança cristã é performativa, capaz de transformar a vida e abrir novos horizontes.

Na Primeira Carta de São Pedro, encontramos o convite para testemunhar a esperança com mansidão e respeito. Essa passagem inspira três princípios-chave para a comunicação:

 

1. Confessar Cristo no coração: A comunicação cristã nasce da experiência pessoal de encontro com Cristo, cuja presença nos permite vislumbrar o bem mesmo em meio às dificuldades.

2. Dar razões da esperança vivida: O testemunho de uma vida marcada pelo amor e pela caridade gera perguntas nos outros e exige respostas baseadas na verdade.

3. Comunicar com mansidão e respeito: A comunicação deve ser feita com proximidade, no estilo de Jesus, que dialogava e tocava os corações das pessoas, mesmo nos momentos mais desafiadores.

 

O Papa relaciona a mensagem deste ano ao contexto do Jubileu de 2025, cujo lema é “Peregrinos de Esperança”. Ele nos convida a redescobrir a comunicação como uma ferramenta para reacender a esperança em um mundo repleto de desafios. Esse convite é especialmente importante para as comunidades de fé, que devem ser testemunhas vivas de misericórdia, paz e reconciliação.

O Jubileu nos lembra que a esperança é um projeto coletivo. Atravessar a Porta Santa em Roma ou peregrinar às igreja jubilares em nossas dioceses é um gesto que une pessoas de diferentes contextos em busca de renovação e comunhão. Nesse espírito, Francisco encoraja os comunicadores a contar histórias que inspirem, revelem as “migalhas de bem” escondidas no cotidiano e tragam à tona a dignidade de cada ser humano.

O Santo Padre encerra sua mensagem com um apelo a uma comunicação não hostil, que difunda a cultura do cuidado. Ele desafia os comunicadores a evitar protagonismos, cultivar uma comunicação que cure feridas e abra caminhos de diálogo. Contar histórias de esperança é essencial para construir pontes, superar divisões e promover a solidariedade.

Para o Papa Francisco, o bom comunicador é aquele que coloca as pessoas no centro, ajudando-as a descobrir o melhor de si e a caminhar juntas em direção a um futuro comum. Ele nos convida a sermos, em todos os meios e contextos, “peregrinos de esperança”, testemunhando a graça de Deus que transforma vidas.

A mensagem do Papa Francisco para o LIX Dia Mundial das Comunicações Sociais é um chamado profético para um novo estilo de comunicação. Em um mundo marcado por tensões e divisões, a comunicação deve ser uma ferramenta para reacender a esperança, promover a paz e reafirmar a dignidade humana.

Ao final, o Papa lembra: “Sede testemunhas e promotores de uma comunicação não hostil, que difunda uma cultura do cuidado, construa pontes e atravesse os muros visíveis e invisíveis do nosso tempo.” Que essa mensagem inspire todos os comunicadores a serem verdadeiros artesãos de esperança no mundo.

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro

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