Nos anos 90 do século XX, foi criado na Polônia um escritório da organização pró-vida Human Life International (HLI) – Europa, com a missão de levar o Evangelho da Vida à Rússia, que, naquele período, passava por profundas transformações conhecidas como perestroika.
É importante lembrar que foi justamente na Rússia comunista que, em 1920, por decreto de Lenin, o aborto foi legalizado pela primeira vez no mundo. Ao mesmo tempo, o regime comunista promovia uma perseguição sistemática à fé cristã, assassinando sacerdotes e leigos que se recusavam a renunciar à sua fé em Jesus Cristo. Nos anos 90, a mulher russa média já havia realizado cerca de sete abortos, e algumas chegaram a fazer mais de 20.
A diretora do escritório da HLI Europa, Ewa Kowalewska, viajava frequentemente para a Rússia e outros países da região, oferecendo treinamentos para líderes e estabelecendo uma forte cooperação tanto com a Igreja Católica quanto com a Igreja Ortodoxa. Durante essas viagens, ela conheceu a história de São Serafim de Sarov, um monge eremita, último santo canonizado pela Igreja Ortodoxa antes da Revolução de Outubro. Ele profetizou que, se a Rússia não retornasse à fé, uma torrente de sangue jorraria (o que de fato ocorreu), mas que, depois, haveria um breve período para o país se voltar novamente para Deus. Para que isso acontecesse, enfatizava ele, era necessário rezar diante do ícone de Nossa Senhora de Częstochowa.
O ícone de Nossa Senhora de Częstochowa
O ícone de Nossa Senhora de Częstochowa está localizado na Polônia, no Mosteiro dos Padres Paulinos, em Jasna Góra. Segundo a tradição, foi pintado por São Lucas Evangelista sobre um tampo de mesa que teria pertencido à Sagrada Família, em Nazaré. Ao longo dos séculos, essa imagem milagrosa passou por Bizâncio, Rússia, Ucrânia, Hungria, até se estabelecer definitivamente na Polônia.
Em 1430, durante um ataque ao mosteiro, o ícone foi profanado e vandalizado, e o rosto de Nossa Senhora foi cortado com lâminas. Após a restauração da imagem, as cicatrizes permaneceram visíveis, tornando-se um símbolo poderoso da Mãe Dolorosa.
Os poloneses desenvolveram uma grande devoção a esse ícone e, no século XVIII, o rei da Polônia, João Casimiro Vasa, proclamou Nossa Senhora de Częstochowa como Rainha da Polônia, coroando-a solenemente. Todos os anos, milhões de peregrinos visitam o Santuário de Jasna Góra para rezar diante dessa santa imagem.
O nascimento da peregrinação Do Oceano a Oceano
Comovida por essa história, Ewa Kowalewska decidiu preparar uma cópia fiel do ícone de Częstochowa, seguindo os princípios da tradicional arte iconográfica bizantina, em tamanho natural, e oferecê-la ao então nascente movimento pró-vida na Rússia.
O líder da organização pró-vida chamada Vida, de Moscou, o sacerdote ortodoxo Maxim Obukhov, propôs que o ícone percorresse toda a Rússia como um sinal de oração pela proteção da vida, e que, posteriormente, outros defensores da vida o levassem por todo o mundo. A princípio, essa ideia parecia impossível de ser realizada. No entanto, quando Nossa Senhora planeja algo e pede a bênção de Seu Filho, tudo se torna possível. Os preparativos duraram vários anos, de 2000 a 2012.
Na tradição cristã, um ícone é considerado “uma janela para o céu”. Quem se coloca diante do ícone tem a sensação de que Maria está presente, olhando, sorrindo, cuidando e conduzindo cada pessoa ao Seu Filho. Ninguém venera a madeira dourada ou a pintura em si, mas a própria Mãe de Deus, que está presente no ícone.
Em tempos de grande perigo, os fiéis carregavam a Arca da Aliança em procissão pelas linhas de frente das batalhas, suplicando auxílio e bênção. Maria é a Arca da Aliança do Novo Testamento.
Diante da ameaça global da cultura da morte, que se alastra pelo mundo, a ajuda divina é indispensável.
Na tradição ortodoxa, Nossa Senhora de Częstochowa é chamada de Vitória Invencível, e em Sua honra, é entoado o hino especial “Rainha Vitoriosa”.
Durante uma cerimônia solene em Częstochowa, os defensores da vida consagraram a proteção da civilização da vida e do amor às mãos de Maria. A cópia do ícone foi tocada à imagem original, abençoada e levada por líderes pró-vida de diferentes nações para uma peregrinação única pelo mundo.
A jornada pelo mundo
A peregrinação do ícone de Nossa Senhora de Częstochowa teve início em 28 de janeiro de 2012, rumo ao Oriente. Percorreu Belarus, Cazaquistão e Rússia, chegando às margens do Oceano Pacífico, em Vladivostok. Navegou pelo rio Yenisei, na Sibéria, e participou de uma peregrinação de carros em Moscou, acompanhada por 200 veículos.
O ícone seguiu para Letônia, Lituânia, Polônia, República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Romênia, Eslovênia, Croácia, Itália, Áustria, Suíça, Alemanha, Bélgica, Reino Unido, Irlanda, França, Espanha e Portugal.
A primeira etapa da peregrinação terminou em 8 de abril de 2013, no Santuário de Nazaré, em Portugal, durante a Solenidade da Anunciação do Senhor.
O ícone visitou muitos santuários marianos famosos, incluindo Lourdes, Saragoça, Knock, Fátima e Guadalupe.
A segunda etapa da peregrinação começou em 26 de agosto de 2013, nos Estados Unidos, onde permaneceu por um ano e três meses, visitando também o Canadá. De 2014 a 2017, esteve no México, sendo acolhido duas vezes no Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe.
Depois, seguiu para o Equador, participou da Jornada Mundial da Juventude no Panamá (2019) e deveria continuar por Colômbia, Peru e Brasil, mas a peregrinação foi interrompida pela pandemia de Covid-19. O ícone ficou mantido no Equador.
O futuro da peregrinação
Para o Ano Santo de 2025, sob o lema “Peregrino de Esperança”, estão previstas visitas do ícone ao Brasil, Argentina, Uruguai e Itália.
Até agora, Nossa Senhora de Częstochowa já percorreu 200 mil quilômetros por 29 países e cinco continentes. O Brasil será o 30º país dessa peregrinação histórica.
Milhões de pessoas rezaram diante do ícone, incluindo grupos reunidos em frente à Suprema Corte dos EUA, que, nove anos depois, revogou a decisão Roe vs. Wade, que legalizava o aborto no país há quase 50 anos.
A peregrinação testemunhou milagres, histórias incríveis, lágrimas derramadas, crianças salvas e um fortalecimento do movimento pró-vida ao redor do mundo.
Para mais informações, acesse: www.020.pl/pt/ .
Ewa Kowalewska, missionária pró-vida e Dama do Santo Sepulcro de Jerusalém