Um chamado cristão ao perdão e à reconciliação
O Dia Mundial da Paz, comemorado a 1º de janeiro, é uma data de grande relevância para os cristãos ao redor do mundo, pois não só reflete sobre a importância da paz, mas também nos desafia a agir de maneira concreta para a construção de um mundo mais justo e fraterno. Instituído em 1968 pelo Papa São Paulo VI, esse dia se tornou uma tradição na Igreja Católica, com o Papa compartilhando anualmente uma mensagem de paz.
Em 2025, o Papa Francisco escolheu refletir sobre o poder do perdão como fundamento essencial para a paz verdadeira, ressaltando sua importância para um cristão que busca viver conforme os ensinamentos de Jesus Cristo.
O tema do 58º Dia Mundial da Paz, “Perdoa-nos as nossas ofensas, concede-nos a tua paz”, revela-se profundamente relevante em um mundo marcado por guerras, conflitos sociais e divisões. Para o cristão, a paz é mais do que a simples ausência de guerra; é um estado de reconciliação que brota do perdão, da justiça e da solidariedade. O Papa Francisco nos lembra que, como discípulos de Cristo, somos chamados a não apenas buscar o perdão de Deus, mas também a perdoar os outros. No “Pai Nosso”, uma das orações mais significativas para os cristãos, Jesus ensina a frase poderosa: “Perdoa-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Essa oração, recitada por milhões de cristãos ao redor do mundo, não é apenas um pedido de perdão a Deus, mas também um compromisso com o perdão mútuo. O perdão é visto como a chave para libertar os corações das amarras da vingança, do rancor e da injustiça, abrindo espaço para a cura e a reconciliação.
O Dia Mundial da Paz, portanto, torna-se uma oportunidade de reflexão para os cristãos sobre como vivemos a paz em nossas relações diárias.
Como podemos, em nossas famílias, comunidades e no contexto global, ser instrumentos do perdão que Cristo nos ensinou? O Papa Francisco destaca que, em uma sociedade marcada pela violência e pela divisão, a prática do perdão é essencial para restaurar a justiça e a dignidade humanas. Ele observa que a paz verdadeira não pode ser alcançada apenas por acordos políticos ou pela diplomacia internacional, mas deve ser sustentada pela conversão do coração humano. Quando escolhemos perdoar, estamos permitindo que a paz de Deus seja manifesta em nossas vidas e, por consequência, na sociedade.
A mensagem do Papa também é uma crítica àqueles que vivem em uma lógica de poder e exploração, na qual o mais forte subjuga o mais fraco. Em sua reflexão, o Papa Francisco enfatiza que as desigualdades sociais e econômicas muitas vezes são alimentadas por uma lógica de exploração, e que o perdão social deve ser um caminho para a reconstrução de um sistema mais justo. Isso se reflete, por exemplo, nas questões das dívidas internacionais, nas quais muitos países do Sul Global continuam a sofrer as consequências de um sistema financeiro global desigual. O perdão das dívidas externas e a busca por um novo modelo econômico mais justo são, segundo o Papa, passos necessários para restabelecer a paz verdadeira.
A reconciliação não é apenas uma questão de perdão entre indivíduos, mas também de ações concretas em favor da justiça social. O Papa Francisco nos convida a refletir sobre como podemos trabalhar em nossas comunidades para curar as feridas causadas pela pobreza, pela exclusão social e pela violência. Ao fazer isso, respondemos ao chamado de Cristo para ser sal da terra e luz do mundo, levando a paz não apenas como um conceito abstrato, mas como uma realidade vivida no dia a dia. O perdão é uma prática radical que desafia o cristão a agir de maneira contrária à lógica de violência e divisão que permeia tantas partes do mundo.
Além disso, a preocupação com a criação, com a terra e com o meio ambiente também aparece como um aspecto crucial do discurso do Papa Francisco sobre a paz. A destruição do meio ambiente, as mudanças climáticas e a exploração irresponsável dos recursos naturais também são formas de violência contra as gerações futuras. A paz, portanto, deve ser também ambiental, e os cristãos são chamados a agir para proteger a “Casa Comum” de Deus, buscando soluções sustentáveis e solidárias para os problemas globais.
Para os cristãos, o Dia Mundial da Paz é, portanto, um momento de oração, reflexão e ação. É uma oportunidade de renovar o compromisso de ser agentes de paz, trabalhando pela justiça, pelo perdão e pela reconciliação em todas as esferas da vida, pessoal, social e política. A paz não se resume a um fim de conflitos, mas é um processo contínuo de restaurar relações, promover a justiça e viver em harmonia com todos os irmãos e irmãs, respeitando tanto os direitos humanos quanto o ambiente que Deus nos deu.
No Dia Mundial da Paz de 2025, vivemos essa verdade com fé e coragem, comprometendo-nos a ser instrumentos da paz que Cristo nos ensinou a viver. Que o Menino Jesus conceda paz ao mundo e, particularmente, à amada cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro!
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ