O Dia Nacional do Terço, celebrado em 7 de outubro, é uma data especial dedicada à valorização de uma das formas de oração mais tradicionais e amadas pela Igreja Católica: o Santo Rosário.
Neste ano de 2024, teremos a alegria de celebrar pela primeira vez o Dia Nacional do Rosário da Virgem Maria, instituído pela Lei 14.745/23 de 5 de dezembro de 2023. Esta data será agora uma celebração anual, e temos a felicidade de vivenciá-la durante o Ano da Oração, que nos prepara para o Jubileu de 2025. É uma oportunidade preciosa de unir todo o povo católico numa grande celebração comum em honra a Nossa Senhora.
Aqui em nossa Arquidiocese, a celebração principal ocorrerá no Santuário do Cristo Redentor, com início às 17h30, onde teremos a entronização da Imagem de Nossa Senhora Aparecida, a leitura da Lei Federal que instituiu esta data, o ato de consagração do Brasil à Virgem Maria, a recitação do Santo Rosário, a leitura de uma mensagem do Santo Padre, o Papa Francisco para esta ocasião e culminando com a celebração da Santa Missa. Convido a que todos possam acompanhar esse evento por meio dos canais de comunicação disponíveis em nossa Arquidiocese, pois o alto do Corcovado não comporta muitas pessoas.
Também nesta ocasião, peço que, às 18h, durante a oração do Angelus, todos os sinos de nossas Igrejas toquem, simbolizando nossa unidade e devoção a Maria. Que o som dos sinos ecoe como um chamado à oração e à paz em nossa Arquidiocese. Escutemos o toque dos sinos a ecoar por nossa metrópole e por todo o Brasil chamando o povo à oração.
A data foi escolhida porque é a memória de Nossa Senhora do Rosário, título que remete à devoção mariana associada à recitação do Rosário, ou seja, a contemplação dos mistérios da vida de Cristo através da repetição das orações do Pai Nosso, Ave Maria e Glória ao Pai.
A origem da festa de Nossa Senhora do Rosário e da devoção ao terço está ligada à Batalha de Lepanto, ocorrida em 1571. Naquela ocasião, um grupamento de forças cristãs enfrentou e derrotou o Império Otomano, em uma batalha naval decisiva no Mediterrâneo. O Papa Pio V, que era um grande devoto do Rosário, pediu que todos os fiéis rezassem o rosário pedindo a intercessão de Nossa Senhora para que o exército cristão fosse vitorioso. Após a vitória, o Papa atribuiu o sucesso à intercessão da Virgem Maria e instituiu a festa de Nossa Senhora da Vitória, que posteriormente passou a ser chamada de Nossa Senhora do Rosário.
O Rosário, muitas vezes chamado simplesmente de terço (que correspondia na época a um terço do Rosário completo), é um instrumento espiritual que ajuda os fiéis a se conectarem profundamente com os eventos centrais da fé cristã. A celebração de 7 de outubro, portanto, está profundamente enraizada no poder da oração e na confiança de que Maria intercede pela humanidade diante de Deus. O Rosário, por sua vez, se desenvolveu como uma oração contemplativa, na qual os fiéis meditam sobre os principais mistérios da vida de Cristo e da Virgem Maria. Essa prática é dividida em quatro conjuntos de mistérios: os Mistérios Gozosos, Dolorosos, Gloriosos e, posteriormente, com a adição feita por São João Paulo II em 2002, os Mistérios Luminosos. E em cada um dos quatro conjuntos temos a contemplação de 5 mistérios cada.
A oração do terço tem uma importância singular na vida dos católicos ao redor do mundo, e no Brasil, essa devoção é especialmente apreciada. Desde crianças nas catequeses até grupos de oração em paróquias e famílias (homens do terço, mulheres do terço, terço da Senhora do Rosário etc.), a recitação do terço se mantém como uma tradição viva e praticada diariamente. É comum ver grupos de fiéis reunidos para rezar o terço em suas casas ou nas igrejas, unindo-se em oração pela paz, pela proteção e por intenções pessoais.
A recitação do terço é vista como uma forma simples e profundamente eficaz de rezar. Ela permite que, através da repetição, o fiel entre num momento de meditação e contemplação. Além disso, é uma oração que se adapta facilmente à vida cotidiana, podendo ser recitada em qualquer lugar, seja individualmente ou em grupo.
A celebração do Dia Nacional do Terço não é apenas uma data de devoção mariana, mas também um convite à renovação espiritual. A oração do terço é considerada uma forma poderosa de intercessão, pela qual podemos pedir a proteção de Deus e de Nossa Senhora sobre nossas vidas, nossas famílias, a Igreja e o mundo.
O Rosário tem sido chamado, em várias ocasiões, de ‘compêndio do Evangelho’ porque, ao meditá-lo, os fiéis percorrem os principais mistérios da vida de Cristo, da Encarnação à Ascensão, passando pela Paixão e Ressurreição. Cada mistério proporciona uma oportunidade de contemplar aspectos centrais da fé cristã, aproximando-nos do coração de Cristo por meio do olhar da Mãe. Além disso as orações do Pai Nosso, Ave Maria, Glória que são bíblicas e da tradição da Igreja, nos ajudam a entrar no clima da contemplação do mistério.
Um dos aspectos mais enfatizados pelos papas ao longo dos séculos, inclusive pelo Papa Francisco, é o caráter contemplativo e transformador da oração do Rosário. O ato de repetir as ave-marias não é meramente mecânico, mas uma forma de entrar em profunda meditação sobre os mistérios da fé. A oração do terço ensina a paciência, a confiança e o abandono nas mãos de Deus, levando o fiel a contemplar os eventos da vida de Cristo e da Virgem com olhos espirituais.
No Dia Nacional do Terço, a Igreja no Brasil incentiva os fiéis a retomarem essa prática, especialmente diante das crises e desafios contemporâneos. É significativo que o poder público reconheça essa devoção e institua oficialmente esse dia. Em tempos de incerteza, conflitos sociais e espirituais, a oração do terço é vista como um remédio contra o desespero e a desconfiança, fortalecendo a esperança e a fé em Deus.
Esta data é também uma ocasião para promover a unidade e a paz entre as famílias, as comunidades e a sociedade. A oração do terço em grupo, seja nas paróquias, nas casas ou em comunidade, cria um sentido de fraternidade e solidariedade entre os fiéis. Rezar juntos o terço é um ato que une corações em torno da fé comum, ajudando a superar divisões e mal-entendidos.
Além disso, a devoção ao terço tem um forte apelo à paz (recordemos de Fátima). O Papa São João Paulo II, grande devoto do Rosário, frequentemente recomendava a oração do terço como um meio de promover a paz, especialmente em tempos de conflito. Ele acreditava que, por meio da intercessão de Nossa Senhora, Deus poderia conceder a paz aos corações inquietos e às nações em conflito. Nesse sentido, o Dia Nacional do Terço pode ser visto como um chamado à oração pela paz, tanto nas famílias quanto na sociedade como um todo. A oração do terço ensina a virtude da paciência e da confiança em Deus, ajudando os fiéis a enfrentarem as dificuldades com um espírito de serenidade e fé. Mais do que nunca, nestes difíceis tempos de nosso difícil século rezemos o rosário.
Que possamos redescobrir a profundidade e a beleza da oração do terço, uma oração simples, mas repleta de significado. Seja individualmente ou em grupo, a oração do terço proporciona uma oportunidade única de entrar em comunhão com Deus, buscando proteção, paz e graça. Em nosso mundo e em nossa cidade que enfrenta tantas divisões e desafios, o Dia Nacional do Terço é um lembrete da importância da oração e da confiança na intercessão de Nossa Senhora. Por meio da oração do terço, encontramos força, esperança e a certeza de que, como no episódio da Batalha de Lepanto, Maria está sempre ao nosso lado, seus filhos, intercedendo por nós diante de Deus. Rainha do Rosário, rogai por nós.
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ