Tive a honra de trabalhar com o arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, O.Cist, e escrever sobre esse homem de Deus é um verdadeiro desafio, pois as palavras são insuficientes para expressar a rica experiência de viver um apostolado desafiador ao seu lado.
Nos conhecemos em julho do ano de 2000, em São Carlos (SP), por ocasião de um encontro de comunicação promovido pelo Regional Sul 1 da CNBB, que reunia agentes da Pastoral da Comunicação, comunicadores e jornalistas ligados aos veículos de comunicação católica do Estado de São Paulo. Naquela ocasião, o próprio Dom Orani se aproximou de mim e perguntou: “Você que é o padre que foi paulino e está à frente da Pastoral da Comunicação na Diocese de Santo Amaro?” Respondi que sim. Daí ele me estendeu o convite para eu estar na próxima reunião do Setor de Comunicação que aconteceria na sede do Regional, em São Paulo, no dia 18 de agosto. Acolhi o convite com surpresa e alegria.
Naquela reunião, na sede do Regional Sul 1 da CNBB, aconteceu a eleição para o novo assessor regional de comunicação. Fui eleito naquela ocasião, mesmo sendo estranho para a maioria dos 16 participantes. Daquele dia em diante iniciamos uma nova jornada que se estendeu por sete anos de intensos trabalhos.
Nos primeiros anos, até meados de 2003, fui seu assessor para o Setor de Comunicação no Regional Sul 1 da CNBB. Dom Orani sempre se fazia presente em todas as reuniões, mensais, na sede do Regional. Na época, ele era bispo da Diocese de São José do Rio Preto (SP), nossas reuniões aconteciam em São Paulo e as distâncias que poderiam parecer dificuldade nunca impediram sua presença em todas as reuniões e encontros regionais de comunicação realizados. Para um bispo que tem de acompanhar dezenas de pastorais, movimentos e associações dentro de uma diocese, Dom Orani sempre tinha um espaço em sua agenda para todos. Daí eu creio acontecer o seu lema: “Ut Omnes Unum Sint” – “Para que todos sejam um”. Estava sempre com todos e, o mais impressionante, nunca com semblante cansado. Aliás, reanimava os seus assessores, coordenadores das sub-regiões e coordenadores diocesanos da Pascom com o seu comportamento sempre sereno, reto, de confiança e conciliador.
Era impressionante a sua participação, engajamento e conhecimento dos conteúdos estudados em cada reunião da comissão regional e nos diferentes eventos que aconteciam nas diferentes dioceses do Estado de São Paulo para pensar, estudar e construir uma Igreja que leva Jesus Cristo às pessoas através dos meios de comunicação social. Com sua competência soube articular de forma harmoniosa o diálogo entre as redes de TV de inspiração católica no Brasil, fazendo nascer o primeiro programa de notícias da “Igreja no Brasil”, transmitido em rede por todas as TVs. Além de promover a unidade das TVs católicas, estava ainda, sempre presente para dinamizar a integração sempre maior da RCR (Rede Católica de Rádio) com os desafios pastorais da Igreja no Brasil.
Posso afirmar que Dom Orani foi e é um homem colocado por Deus na missão da evangelização com os meios de comunicação. Um homem que não carece de lentes, pelo contrário, as lentes corriam em sua captura, tentando acompanhá-lo na velocidade com que abraçava o tempo e os novos desafios da evangelização.
Um homem de diálogo, sempre acessível e próximo. Dom Orani sempre esteve aberto a todos os meios de comunicação, atendendo jornalistas de todos os veículos de imprensa local, nacional e internacional. Transmitia uma palavra acertada, sem temer os temas mais polêmicos, afinal sempre esteve afinado com as realidades da conjuntura local e nacional. Os temas globais nunca o intimidaram para apresentar uma resposta, uma proposta, conciliadora frente aos desafios que assolavam o povo de Deus frente à vulgarização dos valores humanos.
Em 2003, vem um novo desafio: foi eleito presidente para a Comissão de Comunicação, Cultura, Educação e Ensino Religioso da CNBB em nível nacional, com sede em Brasília. Aumentam os compromissos e as viagens se tornam mais longínquas. Agora os esforços se estendem para acompanhar toda a realidade da comunicação na Igreja em todo o Brasil. Novamente fui convidado por Dom Orani a acompanhá-lo como assessor nesta missão, agora em nível nacional. É sempre uma honra trabalhar com ele, mas é importante saber que se está ao lado de um homem incansável. Muitas vezes vi Dom Orani virar 48 horas acordado, acompanhando, estudando, buscando respostas, e disponível para apresentar uma proposta aos novos desafios que sempre nasciam.
Como homem conciliador, Dom Orani sempre valorizou muito o trabalho de todas as pastorais, movimentos e associações. Atento aos sinais dos tempos, com competência e criatividade, era visto como quem possuía uma palavra que guiasse a ação pastoral diante dos desafios. As reuniões preparatórias aos Muticoms, Encontros Regionais de Comunicação, Sicom (Seminário Internacional de Comunicação), diretores e responsáveis pelas TVs de inspiração católica e tantos outros grandes eventos pareciam absorver as forças de Dom Orani, mas ele sempre superava o cansaço com seu dinamismo e com a oração de um homem rico em espiritualidade. Tudo afunilava na Eucaristia, fonte e ápice da vida cristã.
E, para um homem que está sempre de coração aberto aos apelos da Igreja, recebe a nomeação para ser arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Belém do Pará (PA). Toma posse no dia 8 de dezembro de 2004, em Belém do Pará, dia em que a Igreja celebra a Festa da Imaculada Conceição. Também ele, Dom Orani, escolheu esta data sabendo da necessidade de proteção que teria da Mãe de Jesus. No dia de sua posse caminhou com aquele povo de Deus, desde sua residência até à Catedral da Sé, onde aconteceu a celebração eucarística em que tomou posse. Foi como que um primeiro ensaio de muitas caminhadas. Foi o seu “primeiro Círio”! O caminhar, na manhã quente da capital Belém, de um pastor que anda com suas ovelhas. Agora sim, tem diante de si novos desafios. Dali em diante, sem abandonar sua cultura paulista, vai se adaptar à cultura do norte do Brasil, convivendo com o jeito amazônico, estranho até então.
De monge paulista, agora é pastor de uma enorme porção do povo de Deus nas realidades tão diferentes que o norte do Brasil lhe apresentava. Nada foi obstáculo, tudo foi presença da graça de Deus, que sempre o envolveu, e da força do Espírito Santo presente neste fiel sucessor dos Apóstolos.
Em Belém, os trabalhos aumentaram e, obviamente, a responsabilidade diante da grande rede conhecida como a Fundação Nazaré de Comunicação. Televisão, rádio, portal e jornal arquidiocesano distribuído até nas bancas de jornais. Tudo era púlpito para um homem que sabia dominar perfeitamente a comunicação com todas as culturas e denominações religiosas, sempre cultivando o diálogo e o respeito com os diferentes.
Em 2007, deixei de ser assessor do Setor de Comunicação da CNBB, mas com uma alegria muito grande em meu coração de estar tão junto deste homem que me ensinou a não se cansar diante dos desafios pastorais da Igreja no Brasil, no que tange o trabalho com a Pastoral da Comunicação Social. Posso afirmar que quem conviveu e trabalhou com Dom Orani pode dar graças a Deus pela oportunidade única de ter crescido e amadurecido na fé e na missionariedade. Para mim, Dom Orani é amigo, irmão e pai em tantas vezes que sentávamos para dialogar propostas para desafios que a evangelização enfrentrava.
Hoje, como arcebispo da Arquidiocese Metropolitana do Rio de Janeiro, Dom Orani é modelo de um homem que comunica as coisas de Deus, fazendo-se um com os outros, cultivando o diálogo para comunicar a construção de uma cultura de unidade e de paz. Ele é uma experiência de Deus na vida da gente!
Padre Roberto Luiz Preczevski
Diocese de Santo Amaro, São Paulo, SP