Dom Tiago Stanislaw: “Se tiramos a esperança da ressurreição, não há cristianismo”

No dia 2 de novembro, a Igreja celebra a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, o Dia de Finados. Em uma data marcada pela saudade, pela memória dos que já partiram e pela esperança na vida eterna, os fiéis são convidados a rezar pelos falecidos e a renovar a confiança na ressurreição prometida por Cristo. Na Arquidiocese do Rio de Janeiro, o Ministério da Consolação e Esperança é responsável por acompanhar as famílias enlutadas e rezar pelos mortos em cemitérios e celebrações exequiais.

O bispo auxiliar do Rio de Janeiro e animador do Ministério, Dom Tiago Stanislaw, explica o significado espiritual de Finados, a importância das orações pelos falecidos, o sentido das missas dedicadas às almas, como funciona a atuação dos ministros da Consolação e a grande mensagem dessa celebração para os cristãos.

 

O que a Igreja celebra no Dia de Finados? Qual é o sentido dessa data?

Dom Tiago Stanislaw – O Dia de Finados é muito especial para a Igreja porque nos convida a lembrar com carinho e esperança dos nossos entes queridos falecidos. Embora devemos rezar sempre por eles, esta data é uma oportunidade para focar mais intensamente na memória daqueles que partiram, como família e como comunidade de fé. É um dia para agradecer a Deus pela vida e pela história que construímos com essas pessoas, para reconhecermos a importância delas e, quando for necessário, perdoar ou pedir perdão, a fim de não mantermos um passado mal resolvido no coração. O amor e a fé nos ajudam a olhar adiante com esperança na vida eterna.

A Igreja organiza esse dia de maneira particular: somos convidados a participar da Santa Missa, que costuma ser celebrada também nos cemitérios. Além disso, visitar os túmulos nos recorda com mais intensidade a presença dessas pessoas em nossa história. É um gesto que nos coloca novamente diante do amor vivido e nos impulsiona a oferecer orações e a confiar tudo à misericórdia de Deus.

 

Por que Finados é celebrado logo após a Solenidade de Todos os Santos? Há um significado nessa proximidade?

Dom Tiago – Sim. A Igreja nos ensina que ela é composta por três dimensões que não estão separadas, mas em comunhão. A Igreja militante, que somos nós aqui na Terra; a Igreja padecente, formada pelas almas em purificação no Purgatório; e a Igreja triunfante, que já está na glória de Deus. Celebrar Todos os Santos e, logo em seguida, Finados, nos lembra essa unidade espiritual. Nós, que ainda estamos caminhando, podemos contar com a intercessão dos santos já glorificados e, ao mesmo tempo, podemos ajudar os que estão em purificação, oferecendo por eles as nossas orações, especialmente a Santa Missa. É a beleza da comunhão dos santos: o amor que ultrapassa a barreira da morte.

 

A Missa é apresentada como a mais importante oração oferecida pelos falecidos. Por quê?

Dom Tiago – A Santa Missa torna presente o sacrifício de Cristo pela nossa salvação. Não há obra maior para o ser humano do que participar dessa ação redentora de Jesus. Por isso, quando oferecemos uma missa por alguém que faleceu, estamos pedindo ao próprio Cristo que interceda e conceda os frutos da sua entrega para aquela alma. Entre todas as formas de oração, a missa é a mais completa, a mais plena e a mais eficaz. A Igreja, desde os primeiros séculos, celebra missas pelos falecidos porque reconhece nesse sacrifício o maior gesto de misericórdia.

 

Qual é o sentido da Missa de Sétimo Dia e da Missa de 30 dias?

Dom Tiago – A Igreja não determina que sejam celebradas exatamente nesses dias, mas reconhece que essas práticas ajudam no processo de despedida e oração. Há referências no Antigo Testamento que inspiram a contagem dos trinta dias como tempo de luto, como aconteceu com o povo após a morte de Moisés. Já os sete dias evocam simbolicamente o ciclo da criação e o descanso em Deus. São modos de expressar que acompanhamos em oração aquele que partiu e o entregamos ao Senhor, confiando em seu descanso eterno.

 

Quando professamos a comunhão dos santos no Credo, estamos afirmando também que nossas orações ajudam quem está no purgatório?

Dom Tiago – Exatamente. A comunhão dos santos significa nossa união com quem já vive em Deus e com quem está sendo purificado para chegar à glória. Os santos intercedem por nós e nós podemos ajudar os falecidos com nossas orações. O amor cristão não termina na morte. A caridade se estende também àqueles que já partiram, mas que ainda necessitam da misericórdia divina para alcançar a vida eterna. Esse é um gesto belíssimo e próprio da fé católica.

 

Neste dia, a Igreja concede indulgências às almas. Como isso acontece?

Dom Tiago – No Dia de Finados, os fiéis podem obter indulgência em favor das almas do purgatório, desde que cumpram as condições estabelecidas pela Igreja: visita ao cemitério, oração pelos falecidos e rezar o Pai-Nosso, Ave-Maria e Credo nas intenções do Papa. Assim, a graça que recebemos é oferecida para aqueles que precisam desse auxílio espiritual.

 

Como está hoje o Ministério da Consolação e Esperança na Arquidiocese do Rio?

Dom Tiago – Temos atualmente 445 ministros ativos. Outros estão afastados por motivos de saúde, idade ou questões pessoais. E no dia 1º de novembro de 2025, serão investidos mais 157 novos ministros, totalizando 602 agentes pastorais dedicados a esta missão.

 

Qual é exatamente a missão desse ministério? O que ele representa na vida da Igreja?

Dom Tiago – A morte de alguém é um momento de dor profunda e muita sensibilidade. O Ministério da Consolação e Esperança atua em nome da Igreja para estar ao lado das famílias enlutadas e para rezar pelos falecidos. O ministro ajuda a transformar o sofrimento em esperança, conduzindo orações e gestos que recordam a fé na vida eterna. É uma presença de consolo baseada na certeza de que a separação provocada pela morte é temporária. Quem ama continua unido pela fé e pela esperança da ressurreição.

 

Como será a evangelização nos cemitérios da Arquidiocese neste Dia de Finados?

Dom Tiago – A Arquidiocese do Rio possui 19 cemitérios em seu território, além da cripta da Catedral de São Sebastião, no Centro, e a cripta do Santuário de Fátima, no Recreio, que também acolhem restos mortais. Em todos esses lugares haverá a presença dos ministros da Consolação e Esperança, de missionários e de novas comunidades, acolhendo as pessoas, ajudando nas orações e levando a palavra de conforto da Igreja. Será uma grande missão evangelizadora, marcada pela proximidade e pela fé na vida eterna.

 

O que é necessário para se tornar um ministro da Consolação e Esperança?

Dom Tiago – Primeiro, o desejo sincero de servir ao próximo e oferecer seus dons à Igreja. O candidato deve ter vida sacramental, ser atuante na comunidade e ter pelo menos 22 anos. O pároco faz o discernimento sobre cada pessoa e a apresenta oficialmente ao ministério, reconhecendo que ela tem condições e disponibilidade para essa missão. Mais do que uma função, é um chamado ao amor e ao cuidado com quem sofre.

 

Por fim, qual é a grande mensagem do Dia de Finados para os cristãos?

Dom Tiago – São Paulo nos lembra que, se Cristo não ressuscitou, nossa fé é inútil. A fé na ressurreição é a base de toda a experiência cristã. Não vivemos apenas para este mundo: caminhamos rumo à eternidade com Deus. Cristo não veio apenas para melhorar nossa vida terrena, mas para nos abrir as portas de uma vida que não acaba. Se tiramos a esperança da ressurreição, não há cristianismo. Celebrar Finados é reafirmar que o amor é mais forte do que a morte e que nossa vida tem um destino eterno. Vivemos aqui para amar e para, pela graça, alcançar a recompensa eterna: a comunhão definitiva com Deus.

 

Carlos Moioli

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