Encontro de Formação para os Presbíteros de 2025

O clero da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro se reuniu no dia 22 de julho, no auditório do Edifício São João Paulo II, na Glória, para participar do 1º Encontro de Formação para os Presbíteros de 2025.

Durante o curso, os participantes assistiram a duas conferências, tendo como foco: o querigma como fonte de esperança e os resultados de pesquisas sobre a formação nos seminários e a saúde mental dos sacerdotes. Os temas enriqueceram a dinâmica de estudo, além de momentos de reflexão com perguntas e troca de experiências entre os presentes e os conferencistas.

Segundo o arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, a escolha dos temas foi relevante por abordar um dos desafios mais urgentes enfrentados por padres e seminaristas: a saúde mental e a formação presbiteral. “Os conferencistas apresentaram sobre o querigma e o resultado de uma pesquisa sobre os padres, temas importantes para o momento atual, que nos ajudará em nossa caminhada para enfrentar os desafios pastorais”, destacou.

A primeira conferência foi ministrada por Dom Joel Portella Amado, bispo diocesano de Petrópolis e presidente da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Com o tema “O Querigma como fonte de esperança diante dos desafios pastorais”, Dom Joel destacou a centralidade permanente do anúncio de Cristo morto e ressuscitado na vida da Igreja. Segundo ele, o querigma não é apenas uma repetição doutrinária, mas a explicação de uma experiência profunda que precisa ser constantemente explicitada no contexto atual.

“Todo tempo é tempo para o querigma. Ao longo de mais de dois mil anos de cristianismo, ele sempre foi necessário, porque expressa e explica uma experiência. Mas o nosso tempo, em especial, precisa explicitá-lo. Não se trata de memorização ou simples repetição, nem de algo a ser absorvido e reproduzido mecanicamente. É preciso compreender o que está nas entrelinhas da proclamação de Cristo morto e ressuscitado para nossa salvação”, ressaltou Dom Joel.

Dom Joel também defendeu que, além de proclamar o querigma, é necessário evidenciar a experiência de fé que gera discipulado e fascínio por Cristo. Segundo ele, não basta a iluminação teológica se não houver uma vivência concreta que sustente essa luz. “Caso contrário, vamos iluminar o quê? Não há o que iluminar”, afirmou. Para ele, a dupla explicitação — querigma e experiência — deve estar presente tanto nos níveis profundos da fé quanto em manifestações visíveis e humanamente relevantes.

Durante sua exposição, Dom Joel também refletiu sobre o Jubileu convocado pelo Papa Francisco, cujo lema é “esperança”. Para ele, a escolha do tema não foi por acaso, pois o mundo atravessa uma grave crise marcada por violência, guerras, fome, deslocamentos forçados e desumanização, o que pode gerar descrença, desânimo e desesperança. O desafio da Igreja, segundo Dom Joel, é apresentar o querigma como fonte concreta de esperança, especialmente por meio da experiência da gratuidade.

“O Querigma como condição de esperança. Este é o grande desafio para nós: mostrar a conexão entre gratuidade e esperança. Quando você faz a experiência de ser acolhido sem merecimento, a esperança renasce. Você se levanta. Mesmo caído no chão da existência, você levanta, se ergue”, destacou Dom Joel.

A segunda conferência foi conduzida pelo professor Pedro Sales Luís Rosário, doutor em Psicologia e docente da Universidade do Minho, em Portugal. Com vasta experiência em estudos sobre motivação, autorregulação da aprendizagem e membro do grupo internacional de pesquisadores católicos criado pelo Papa Francisco, Pedro Rosário apresentou os resultados de uma extensa investigação sobre a formação de seminaristas e sacerdotes católicos.

A pesquisa, realizada com mais de mil padres de diversas regiões do Brasil, revelou carências importantes na trajetória vocacional e no equilíbrio emocional dos sacerdotes. Muitos relataram a necessidade de maior apoio familiar, vínculos de amizade sólidos e suporte institucional. Segundo o professor, essas lacunas impactam diretamente na estabilidade psicológica e na vivência plena do ministério presbiteral.

“Nós apresentamos dados de duas investigações de dois sacerdotes. Uma foi realizada com os sacerdotes e a outra com os seminaristas. O objetivo é compreender que atribuição é dada ao sentido de vida. Nós precisamos uns dos outros, porque, senão, a nossa vida é miserável para resolver grandes problemas”, afirmou Pedro Rosário durante a conferência.

O estudo também abordou o sentido de vida como elemento essencial para a realização pessoal e espiritual dos padres. De acordo com Pedro Rosário, essa dimensão não pode ser encarada como idealismo ou teoria distante, mas como necessidade concreta para a saúde emocional do presbítero, especialmente diante dos desafios da missão e da vida eclesial.

“Porque agora há um problema com a saúde mental. É comum acreditar que tudo é um problema, e não é. Para as pessoas, não há possibilidade de sofrimento. Qualquer dificuldade é logo um problema de saúde mental, e não é. E, portanto, nós não falamos sobre isso. Nós falamos sobre o sentido de vida, sobre as variáveis que ajudam a compreender como é que nós nos movimentamos, como é que nós nos organizamos face à vida”, explicou o pesquisador.

O encontro evidenciou, assim, a necessidade de fortalecer a formação presbiteral em sua totalidade — incluindo os aspectos acadêmicos, espirituais e psicológicos — como caminho para uma Igreja mais saudável, esperançosa e comprometida com os desafios do tempo presente.

 

Rita Vasconcelos, jornalista

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