Quem passa pela avenida Barão do Rio Branco, em Juiz de Fora (MG), na altura do seminário arquidiocesano Santo Antônio, deve ter notado algo diferente nas últimas semanas. O muro que cerca o terreno, onde também está o prédio da Cúria Metropolitana, foi grafitado e deu um colorido a mais na principal via da cidade.
A ideia de enfeitar a parede foi do arcebispo metropolitano, dom Gil Antônio Moreira, após a reforma, reforço e pintura do murado. O pastor avaliou que, após o grafite, o local ficaria menos sujeito a pichações. Além disso, é uma oportunidade de catequizar a céu aberto. “É uma coisa artística e ao mesmo tempo catequética, mostrando a identidade do lugar. Nós chamamos aquela colina de ‘Colina da Fé’, porque temos a Cúria, o Seminário, o Lar Sacerdotal, a Igreja São José, tudo concentrado ali. Então, o muro se torna um cartão de visitas, um convite a entrar no espaço em que está centrada grande parte da vida da Igreja de Juiz de Fora”.
Constituições principais – As pinturas são compostas, em primeiro lugar, por vinte cenas bíblicas, que são as contemplações dos mistérios do Terço. A segunda seção, por sua vez, retrata uma breve história da Igreja: seu início, com os pilares São Pedro e São Paulo e o mártir Santo Estevão; a Idade Média, representada por São Bento no século VI, São Francisco no século XIII, e Santa Teresa no século XVI; e o tempo contemporâneo, tendo o Concílio Vaticano II como marco principal, através das figuras de São João XXIII e de São Paulo VI, além de suas quatro constituições principais – Sacrosanctum Concilium, Lumen Gentium, Dei Verbum e a Gaudium et Spes. Já a Igreja local é representada pela Catedral Metropolitana.
Os grafites são de autoria de Igor Moreira de Abreu, cujo nome artístico é “Tenxu”, e de João Batista Medeiros, conhecido como “Ileso”. Os artistas iniciaram a pintura do muro em junho e empenharam-se principalmente aos finais de semana. Companheiros no ofício há cerca de dez anos, não cobraram um centavo sequer pelo trabalho, por conta de seu caráter religioso.
“Eu ministro oficina de desenho para as crianças no Instituto Padre João Emílio, vejo que uma oportunidade como esta é uma contribuição que nós, artistas, podemos dar para a sociedade”, contou Igor, que é católico e para quem o projeto representou muito. “Para a execução do trabalho, estudamos a fundo todos os quadros. O intuito era representar a essência de cada passagem”, ressaltou.
Diferente do parceiro, essas foram as primeiras ilustrações de cunho religioso executadas por João. “A gente ficou muito surpreso pelo convite, porque isso quebra vários paradigmas; a Igreja aderindo ao grafite”, revelou. O artista, que se autodefiniu “católico não praticante, porém temente a Deus”, disse que representar trechos e personagens bíblicos teve um sentido especial. “Lava o espírito. A gente ficou muito feliz de estar fazendo esse trabalho, foi muito bom espiritual e profissionalmente”.
Tenxu e Ileso têm diversos grafites espalhados por Juiz de Fora e por outras cidades brasileiras. Na cidade mineira, têm pinturas nas escolas municipais Tancredo Neves e Santos Dumont, ambas na Cidade Alta, nas proximidades dos shoppings Independência e Jardim Norte, e na Praça Antônio Carlos, entre outras.
No muro que cerca o Seminário Santo Antônio e a Cúria, no entanto, ambos relataram um maior cuidado. “A gente ficou meio apreensivo com a responsabilidade que era o trabalho. Tivemos a preocupação em representar bem e de como seria a repercussão. Gostamos muito do resultado”, contou João. Igor, por sua vez, reiterou que “o estilo do trabalho foi fruto de um estudo. Nunca tinha feito nada parecido, já que trabalho com o realismo e 3D. O resultado foi muito gratificante e a recompensa é a satisfação de quem passa pelo local”.
A fachada da “Colina da Fé” segue em reforma e, ao final, a intenção é de que novos grafites sejam feitos na segunda parte do muro. As referências religiosas para esta parte, entretanto, ainda não foram definidas.
Autor: a CNBB.