“Felizes os que temem o Senhor e trilham os seus caminhos”. (Sl 127/128)
Celebramos no domingo dentro da oitava de Natal a Festa da Sagrada Família. Quando não tem domingo dentro da oitava, ela é celebrada no dia 30. Ao celebrarmos a Festa da Sagrada Família de Nazaré, nós somos chamados a contemplar o mistério e a olhar o caminho de nossas famílias. Pedimos a Deus que as nossas famílias sejam um pouco daquilo que foi a Sagrada Família. É claro que a Sagrada Família teve os seus problemas como todas as famílias, mas conseguiram vencer esses problemas por confiarem plenamente em Deus e pelo amor recíproco que tinham uns pelos outros. Peçamos a Deus a graça de vencer todos os problemas, confiando em Deus plenamente e vivendo o amor e o respeito mútuo.
A Festa da Sagrada Família neste ano ocorre num domingo, então é dia de normalmente participarmos da Santa Missa. Deus quis que o seu filho nascesse em uma família humana e fosse educado por Maria e José. Ensinemos aos nossos filhos o caminho da fé e do amor, que eles sejam pessoas responsáveis e que amem o próximo.
Ao celebrarmos a Festa da Sagrada Família de Nazaré é uma oportunidade de rezar por nossas famílias e por todas as famílias do mundo inteiro. Cada família é chamada a ser uma Igreja doméstica, ou seja, casa de oração. Os pais são os primeiros catequistas dos filhos e devem ensinar aos filhos as primeiras orações do cristão. Os pais normalmente prepararam os filhos para o mundo, e muitas vezes são o espelho para seus filhos, ou seja, se no lar há espaço para a oração, para o amor e para o perdão, os filhos agirão dessa forma onde estiverem, agora se no lar há somente espaço para brigas e não espaço para o perdão, os filhos serão briguentos e agitados onde estiverem. Tudo começa de dentro de casa.
Para essa liturgia temos leituras facultativas, mas vamos nos ater as que comumente lemos nessa ocasião. A primeira leitura dessa missa da Sagrada Família é do livro do Eclesiástico (Eclo 3, 3-7. 14-17a): essa leitura fala sobre o quinto mandamento da lei de Deus, e diz que devemos honrar pai e mãe e cuidar deles até o leito de morte. Não podemos abandonar os pais quando eles chegarem na velhice ou começarem a perder a lucidez, mas devemos estar junto deles até ao dia de sua morte. Honrando e cuidando dos pais até a morte, receberemos a recompensa da vida eterna. Aquilo que desejamos para nós devemos fazer para o próximo, com certeza não queremos que os filhos nos abandonem e esqueçam de nós, por isso, a mesma atitude deve ser feita aos pais. Os pais são o exemplo para os filhos, se cuidar bem de seus pais, os seus filhos cuidarão bem de você, se maltratar e não cuidar de seus pais, os filhos terão a mesma atitude.
O Salmo responsorial é o 127 (128), o refrão do salmo diz: “Felizes os que temem o Senhor e trilham os seus caminhos”. Temer ao Senhor, não é ter medo de Deus, mas respeitá-Lo e respeitar os mandamentos que Ele colocou para nos orientar. Trilhar os caminhos do Senhor é respeitar os mandamentos e um desses mandamentos é honrar pai e mãe. Respeitando os mandamentos da lei de Deus seremos felizes e aqueles que estão ao nosso lado também serão.
A segunda leitura dessa missa é da carta de São Paulo aos colossenses (Cl 3,12-21) na qual Paulo diz à comunidade dos colossenses e para nós hoje aquilo que deve acontecer dentro de uma família, suportando uns aos outros no amor mútuo e perdoando as faltas que um cometer contra o outro. Como o Senhor nos perdoou devemos perdoarmo-nos uns aos outros. Mas, sobretudo, devemos amar uns aos outros, pois o amor vem de Deus, e é o vínculo da perfeição. Em uma família a base de tudo é o amor, Ele deve ser o alicerce de toda a família. Portanto, que cada família viva o amor, se caso houver brigas, que haja espaço para o perdão.
O evangelho dessa missa é de Lucas (Lc 2,22-40 – mais longo): esse trecho do evangelho retrata a passagem da apresentação do menino Jesus no templo, José e Maria eram justos e fiéis cumpridores da lei judaica, por isso, resolvem ir apresentar o Menino Jesus no templo. Eles ofereceram também um par de rolas ou pombinhos, conforme prescrevia na Lei, que ao consagrar o filho às famílias ofereceriam animais para o sacrifício. As famílias mais ricas ofereciam ovelhas, cabritos e animais mais caros, como a Sagrada Família era humilde, ofereceram um par de rolas ou dois pombinhos.
Ao chegarem no templo, foram recebidos pelo profeta Simeão e pela profetisa Ana, ambos esperavam a consolação de Israel e aguardavam ansiosos a chegada do Messias. A ação do Espírito Santo sempre esteve presente na Sagrada Escritura, desde o Antigo Testamento, na vida dos profetas e, depois, concretizando-se em Jesus. Esse mesmo Espírito Santo impulsionou Simeão para ir ao encontro de Menino Jesus e de seus pais. Simeão disse que não morreria antes de ver o Messias. A profetiza Ana também já era de idade avançada, ela pôs-se a louvar a Deus e dizendo maravilhas sobre o menino, e que de fato Ele libertaria Israel de seus pecados. O profeta disse algumas coisas sobre o Menino e Maria, e, como de costume, guardava e meditava tudo em seu coração.
Depois de tudo o que vivenciaram no templo em Jerusalém, eles retornaram para a cidade deles, que era Nazaré, na Galileia. O Menino Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens e era-lhes obediente em tudo. Que as crianças de nossas famílias também cresçam em sabedoria, estatura e graça e sejam obedientes aos seus pais.
Celebremos com alegria a Festa da Sagrada Família de Nazaré. Como esse ano a solenidade ocorre num domingo, fica mais fácil participarmos da Santa Missa. Que a Sagrada Família nos inspire para que o nosso lar seja repleto de paz, amor e compreensão. Sejamos uma Igreja doméstica em nosso lar, ensinando aos filhos e netos o caminho da paz, do amor e da fé.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ