“Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” (Mc 9,7)
Celebramos na terça-feira dia, 6 de agosto, a Festa da Transfiguração do Senhor. Essa festa ocorre sempre no dia 6 de agosto, mesmo que esse dia seja domingo. A Igreja também lembra da Transfiguração do Senhor no segundo Domingo da Quaresma, pois tem tudo a ver com aquilo que se celebra naquele período. A Festa da Transfiguração do Senhor é uma das mais belas da Igreja e que remontam a Jesus, e por meio dessa festa Jesus antecipa aquilo que acontecerá a Ele após a morte de Cruz. Este é também o dia de oração pelos cristãos perseguidos, evento organizado pela ACN (Ajuda à Igreja que Sofre).
O mês de agosto, iniciado na última quinta-feira, é um mês especial para a Igreja, pois é o mês vocacional, e, em cada semana recordamos uma vocação em especial. Na primeira semana, a vocação ao ministério ordenado – ou seja, dos diáconos, padres e bispos –, na segunda semana, a vocação ao matrimônio, ou seja, à vida em família, na terceira semana, a vocação à vida consagrada e religiosa, na quarta semana, a vocação laical, de modo especial a presença do leigo nos ministérios da Igreja, e, no último domingo, a vocação do catequista. Escutemos a voz do Senhor, e qual vocação Ele nos chama, e o sirvamos mais de perto em cada irmão e irmã.
Estamos na semana dedicada ao ministério ordenado e nos preparando para, no próximo domingo, celebrarmos o Dia dos Pais e iniciar a Semana Nacional da Família, com o tema “Família e Amizade”. Rezemos ao longo dessa semana por todos os que receberam o ministério ordenado para que sejam perseverantes em sua vocação e que possam levar adiante a Palavra de Deus. Rezemos pelos padres doentes, idosos e eméritos. Não esqueçamos de rezar pelos padres que estão privados de seu ministério.
No Evangelho de hoje, Jesus sobe ao monte Tabor e se transfigura diante de Pedro, Tiago e João. Jesus inaugura o Novo Testamento, e os profetas Moisés e Elias, que aparecem no Evangelho, representam a Antiga Lei e a aliança que Deus fez com o povo de Israel. Jesus é a nova aliança e ensina a “nova lei” que é a lei do amor. Acolhamos essa nova lei que Jesus traz e selemos uma aliança eterna com o criador.
A primeira leitura desta missa é da profecia de Daniel (Dn 7,9-10.13-14). Daniel era um profeta visionário, ou seja, tinha visão de futuro, e uma visão “Teofanica”, que era a visão de Deus. Do mesmo modo que Moisés, Daniel conversava com Deus através de seus mensageiros ou através de uma nuvem. No trecho da leitura de hoje Daniel através de um sonho vê um ancião de muitos dias, com a veste branca como a neve e os cabelos da cabeça como lã pura. Esse ancião que Daniel vê é o próprio Deus, sentado em seu trono glorioso nos céus e que um dia virá para julgar o céu e o terra.
A visão de Daniel nessa primeira leitura é semelhante à que Pedro, Tiago e João, terão no Evangelho deste dia. Eles veem Jesus em seu reino glorioso após a ressurreição e querem ficar lá com Ele. Mas, é necessário passar primeiro pelos sofrimentos para depois chegar à glória. O Reino de Deus é possível a todos e é um reino que nunca se dissolverá.
O Salmo responsorial é o 96(97), que diz em seu refrão: “Deus é rei, é o Altíssimo, muito acima do universo”. Esse salmo retrata a grandeza de Deus e afirma que tudo o que existe no universo é por obra de Deus.
Quando a festa da Transfiguração do Senhor ocorre durante a semana, como neste ano, omite-se a segunda leitura que seria da segunda carta de São Pedro (2Pd 1,16-19). Com isso, após o salmo responsorial vamos direto ao Evangelho.
O Evangelho dessa festa preparado para esse ano é de Marcos (Mc 9, 2-10), a cada ano é escolhido um dos evangelhos sinóticos preparado para aquele ano. No ano litúrgico A é o evangelho segundo Mateus, no ano litúrgico B é o evangelho segundo Marcos, e no ano litúrgico C é o evangelho segundo Lucas.
Todos os evangelhos sinóticos trazem em comum a transfiguração de Jesus no monte Tabor. Jesus toma Pedro, Tiago e João e os leva consigo a uma alta montanha, conhecida como Monte Tabor para rezar com eles. De repente Jesus se transfigura diante deles, ou seja, muda de aparência. Jesus fica com uma aparência gloriosa, luminosa, a mesma aparência que ele ficaria após a ressurreição, na glória eterna.
Nesse meio tempo aparecem Moisés e Elias e começam a conversar com Jesus, Pedro vendo isso diz que é bom estarem ali e que deveriam fazer ali três tendas: uma para Moisés, outra para Elias e outra para Jesus. Pedro ainda falava, quando uma nuvem os cobriu e da nuvem uma voz que dizia: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” (Mc 9,7) Ao ouvirem a voz, os discípulos se assustaram e caíram por terra. Jesus toca neles e pede para que eles seguissem sem medo o seu caminho. Jesus recomenda que os discípulos não contassem a ninguém a visão que tiveram, pelo menos até que Ele tenha ressuscitado dos mortos.
Essa cena é a junção do Antigo com o Novo Testamento. Os dois profetas mais importantes do Antigo Testamento junto com Jesus que instaura definitivamente o Reino de Deus. Nessa cena do Evangelho vemos a primeira aliança de Deus com a Humanidade e a aliança definitiva que seria selada com a Paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Pedro queria permanecer ali, pois estava feliz por estar na glória, não havia dor e nem sofrimento, naquele momento pensava como os homens e não como Deus. Mas, é necessário pensar como Deus e ver que o sofrimento é necessário para depois entrar na glória.
Celebremos cheios de fé e confiança a Festa da Transfiguração do Senhor e tenhamos os mesmos pensamentos de Deus, e iluminados pelo Espírito Santo passemos pelos sofrimentos desse mundo terreno para adentrarmos na glória eterna. Recordemos que neste dia faleceu o Papa Paulo VI, em 1978, canonizado em 2018.
Rezemos ainda nessa semana por todos os diáconos, padres e bispos, para que a semelhança do Cristo Bom Pastor sejam fiéis ao rebanho a eles confiados. Peçamos ao Cristo Bom Pastor operários para a sua messe. Amém.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ