Festa de Santa Luzia

Dom Orani: ‘Somos chamados a contagiar a nossa cidade com o bem, o perdão e a paz’

A festa da padroeira da Igreja de Santa Luzia, no Centro, no dia 13 de dezembro, foi marcada por várias celebrações, recitação do Terço Mariano, carreata com a imagem da padroeira e um almoço para os moradores em situação de rua.

O tema da festa deste ano, “Santa Luzia, por uma sociedade inclusiva”, foi marcado por uma parceria entre a obra social da Igreja de Santa Luzia, denominada “Desata-me”, com o Poder Judiciário e o Ministério Público, na promoção dos direitos da população de rua, por meio de ações sociojurídicas.

A missa campal, às 12h, foi presidida pelo arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta, concelebrada pelo capelão da Irmandade da Virgem Mártir Santa Luzia, padre Marco Lázaro Mendes Dias, e contou com a presença de diversas autoridades do Tribunal de Justiça e do Tribunal Regional de Trabalho do Estado do Rio de Janeiro.

Uma história de fé

No início da celebração, o desembargador José Muiños Piñeiros Filho, do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, transmitiu, aos fiéis presentes e também para quem estava acompanhando pela WebTV Redentor e mídias sociais da arquidiocese, um resumo da história da Igreja e da devoção à padroeira dos olhos pelos cariocas.

“A Igreja de Santa Luzia teve origem em 1512 quando o navegador português Fernão de Magalhães, a caminho das Índias, bateu na Baía de Guanabara e, em agradecimento, construiu uma pequena ermida dedicada a Nossa Senhora dos Navegantes.”

Segundo o desembargador, na mesma ermida foi introduzida a imagem de Santa Luzia, que segundo a tradição, foi trazida pelo fundador, Estácio de Sá, que era devoto. Corajoso, ele venceu a batalha contra os franceses instalados na mesma região da igreja, mas morreu com uma flechada no olho.

A então ermida, construída no local que ficou conhecido como Praia de Santa Luzia, hoje aterrada, tornou-se capela por iniciativa dos franciscanos.

“Com a vinda de D. João VI, de Portugal, fugindo dos franceses, mandou abrir, em 1817, um caminho, hoje Rua Santa Luzia, para vir de carruagem até a igreja para rezar pelo seu neto, D. Sebastião, que sofria de uma moléstia nos olhos. Foi ele quem ajudou a dar um toque especial na igreja dedicada a Santa Luzia, na qual tinha devoção”, concluiu o desembargador José Piñeiros.

Testemunhar a fé

Na acolhida, Dom Orani agradeceu a Deus por celebrar a memória de Santa Luzia, Virgem e Mártir, e pediu sua intercessão pelos olhos, a visão. “Estamos na Praia de Santa Luzia, hoje aterrada por causa das modificações da cidade, mas vemos histórias bonitas de pessoas de fé que construíram primeiro a ermida, a capela, depois, a igreja. Santa Luzia, que foi corajosa, nos ajude a não desanimar em testemunhar a fé, mesmo com a ameaça do martírio, como foi a sua vida.”

O arcebispo agradeceu ainda o trabalho do padre Marco Lázaro, da Irmandade, e dos tribunais de Justiça e do Trabalho, que procuram promover e melhorar a dignidade dos moradores em situação de rua.

“O centro histórico de nossa cidade precisa de ações de evangelização e também de gestos sociais, de solidariedade”, disse.

Viver como bons cristãos

Na homilia, ao refletir o Evangelho do dia sobre a Parábola dos dois filhos (Mt 21,28-32), Dom Orani fez um paralelo com a vida e o testemunho de Santa Luzia. Enfatizou que é preciso “colocar em prática a Palavra de Deus, que não basta só dizer que faz, é preciso dizer e fazer”.

“Santa Luzia foi martirizada por ser cristã. No início do século IV, ser virgem era contra toda a mentalidade da época. As mulheres tinham que casar e ter muitos filhos. Ela recusou propostas de casamento de pessoas importantes, dando testemunho que já tinha entregue a sua vida ao Senhor”, disse.

“Santa Luzia deu a vida por causa de Cristo. O Senhor era tudo, a razão de sua vida. Tenho certeza que ela vai ficar feliz, quem a tem por intercessora, de ter encontrado o Senhor em sua vida, a salvação, e de viver como bons cristãos no mundo de hoje”, acrescentou.

Observando questões históricas sobre a cidade e a devoção à padroeira, Dom Orani lembrou que o Rio de Janeiro nasceu em meio a situações de invasão, de guerras, mas de um povo de fé.

“Não conhecemos os nomes de nossos antepassados, mas vemos que, por causa da fé, construíram ermidas, capelas e igrejas. Passados tantos séculos, cabe a nós fazer a nossa parte. Não podemos desanimar às pressões contrárias à fé, mas testemunhar Jesus Cristo com ânimo e coragem, assim como fez Santa Luzia.”

O arcebispo lembrou que o Rio de Janeiro vive ainda hoje situações de guerras, com insegurança e violências por todos os cantos, mas a vingança não resolve os problemas, mas sim pelo contágio do bem.

“Somos convidados em acolher Jesus Cristo, que quer morar em nosso coração, em nossa vida, em nossa casa. Amados por Deus, somos chamados a contagiar a nossa cidade com o bem, o perdão, a paz. Essa é a nossa missão de cristãos, passar pelo mundo fazendo o bem. Jesus Cristo também quer habitar nesta grande cidade, além da beleza que já tem, ser uma cidade de paz, fraterna e solidária”, disse.

Solidariedade

Ainda na homilia, Dom Orani “abraçou com muito carinho” os moradores em situação de rua assistidos pela Igreja de Santa Luzia por meio do projeto “Desata-me”, instituição de promoção dos direitos da população de rua. O arcebispo elencou as autoridades presentes e agradeceu o empenho de todos que buscam servir as pessoas que vivem na região do centro da cidade.

“É muito bom compartilhar a mesma fé com homens e mulheres que têm grandes e graves responsabilidades no estado e no município. A fé faz enxergar com outros olhos as preocupações com os necessitados, de promover cada vez mais e melhor as pessoas para que vivam com dignidade. Que a nossa cidade possa encontrar caminhos para que os irmãos e irmãs em situação de rua recebam não só o alimento de cada dia, que normalmente as comunidades compartilham, mas também a oportunidade de ter uma casa, trabalho e outros direitos, para que possam viver com dignidade”, destacou o arcebispo.

Autoridades presentes

Do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região do Rio de Janeiro, o presidente Cesar Marques Carvalho e o vice-presidente, Roque Lucarelli Dattoli. O presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Ricardo Rodrigues Cardozo, o procurador-geral do Ministério Público, Luciano Matos, o ouvidor do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, Alan Titonelli, a defensora Pública da Defensoria Estadual do Rio de Janeiro, Cristiane Xavier, a procuradora de Justiça, Rosani Cunha, e os desembargadores Wagner Cinelli de Paula Freitas, Luiz Roldão de Freitas Gomes, José Muiños Piñeiros Filho, Flavia Romano de Rezende e Maria Celeste Pinto de Castro Jatahy, entre outras autoridades.

Desata-me

A festa da padroeira deste ano que teve como tema: “Santa Luzia, por uma sociedade inclusiva”, foi realizada em parceria entre a Irmandade, com o   projeto “Desata-me” e o Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro.

“Fiz uma capacitação na área e senti a necessidade de praticar a política pública a partir dos equipamentos da comunidade eclesiástica. De caráter pastoral, o projeto tem uma fundamentação sócio jurídica. Inicialmente, recebemos a população de rua na igreja, que se sentem acolhidas. Aos poucos foi tomando corpo de maneira que surgiu o projeto “Desata-me”, inspirado em Nossa Senhora Desatadora dos Nós”, disse o capelão da Irmandade da Virgem Mártir Santa Luzia, padre Marco Lázaro Mendes Dias.

“A finalidade do projeto é desatar nós, ajudar as pessoas a vencer seus problemas a partir da autoestima, do sentimento pessoal, se encontrando com elas mesmas e criando laços. O que vimos hoje é uma rede de pessoas que se amam e se ajudam. Quando você ajuda, Deus te sustenta”, acrescentou o capelão.

Padre Marco Lázaro destacou que atua para um “trabalho continuado de imersão da comunidade jurídica, estabelecendo no centro do Rio de Janeiro um cinturão de pastoral sociojurídica, que tem base na Resolução 425 do Conselho Nacional de Justiça, de acolhida e promoção da população de rua.”

Carlos Moioli

 

 

 

 

 

 

 

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