Jogos Olímpicos – Paris 2024

Na tarde do dia 26 de julho, sexta-feira, tivemos a abertura dos Jogos Olímpicos, que neste ano estão sendo realizados, principalmente, na cidade de Paris, na França, até o dia 11 de agosto. As Paraolimpíadas serão abertas no dia 28 de agosto e finalizadas no dia 8 de setembro do mesmo ano. Este evento de proporção universal nos faz recordar que, por meio dos esportes, é possível construir a “cultura do encontro”, a realização de uma civilização na qual reine a solidariedade, fundada no reconhecimento de que todos são membros de uma única família humana, independentemente das diferenças de cultura, cor da pele ou religião. E a exemplo de Francisco, todos os Papas da era moderna foram unânimes ao reconhecerem que as Olimpíadas são um importante veículo de paz e de fraternidade. O Papa Francisco escreveu uma mensagem ao arcebispo de Paris, unindo-se às intenções da missa celebrada em vista dos Jogos Olímpicos, na qual se refere à trégua olímpica com alguns temas pertinentes, como: abrir as portas de igrejas, lares e corações, superar diferenças e oposições, encontro entre pessoas, mesmo as mais hostis, derrubar preconceitos e o ódio. Além disso, a Athletica Vaticana escreveu uma carta aos atletas que irão competir, recordando que as Olimpíadas são um antídoto para os jogos de guerra. Além dos esportes, também a cultura e a história se fazem presentes, como a “pira olímpica” deste ano, recordando os balões de transporte que iniciaram na França a trilhar os ares do mundo. Infelizmente, algumas apresentações lamentáveis nesse início nos faz pensar na manipulação desses atos que deveriam servir para fazer crescer o bem para todos sem depreciar culturas que ajudaram a construir a Europa.

Sabemos que os Jogos Olímpicos são eventos marcados pela presença de pessoas de várias nacionalidades (e também com os refugiados). Não só os que vão competir, mas também aquelas pessoas que vão assistir aos Jogos. São eventos marcados pela cultura do encontro. Encontro de pessoas de várias culturas e etnias e religiões diferentes. São momentos propícios para desenvolver um maior diálogo entre as pessoas, sobretudo neste momento histórico de conflitos que vivemos no cenário mundial. Aliás, foi essa a tônica dos discursos de abertura destas Olimpíadas.

Nestes dias, teremos a oportunidade de ver que competir não significa querer mal ao outro, mas ter a maturidade para disputar e confraternizar. É a isso que as Olimpíadas devem nos levar: o acolhimento e o amor ao próximo.  Como veremos nestes dias, o esporte acaba unindo as pessoas que às vezes estão separadas pela distância, política ou até mesmo religião, mas no esporte participam de uma disputa em comum. Os esportes se apresentam então como sinal de unidade e fraternidade entre os povos.

Em virtude do perfil diverso presente nos Jogos, é grande a responsabilidade dos atletas e de todos os ali presentes. Eles são chamados a fazer do esporte uma ocasião de encontro e de diálogo, para além de toda a barreira de língua, raça e cultura. Com efeito, o esporte pode oferecer uma contribuição válida para o entendimento pacífico entre os povos e colaborar para a manutenção da paz.

Além disso, a prática esportiva adquire uma importância notável, porque pode favorecer a confirmação de valores relevantes, como a lealdade, a perseverança, a amizade, a partilha e a solidariedade.

O Papa Francisco, em sua mensagem enviada para os Jogos deste ano, recorda a oportunidade de que os Jogos possam ser ocasião de concórdia fraterna, permitindo, para além das diferenças e das oposições, reforçar a unidade da nação (Papa Francisco, Mensagem por ocasião dos jogos Olímpicos de Paris-2024), e recorda também que:  O desporto é uma linguagem universal que ultrapassa fronteiras, línguas, raças, nacionalidades e religiões; tem a capacidade de unir as pessoas, de favorecer o diálogo e a aceitação recíproca; estimula a superação de si, forma o espírito de sacrifício, fomenta a lealdade nas relações interpessoais; convida a reconhecer os próprios limites e o valor dos outros. Os Jogos Olímpicos, se continuarem a ser verdadeiramente “jogos”, podem, pois, ser um extraordinário lugar de encontro entre os povos, até os mais hostis. Os cinco anéis entrelaçados representam este espírito de fraternidade que deve caracterizar o evento olímpico e a competição desportiva em geral. Lembramos que os anéis entrelaçados simbolizam os cinco continentes imersos na mesma caminhada planetária.

Nestes tempos em que somos novamente assolados pelo flagelo da guerra em maiores dimensões, o Santo Padre faz ainda memória de que os Jogos Olímpicos eram, em sua origem histórica, ocasião de manter a paz: Os Jogos Olímpicos são, por natureza, portadores de paz, não de guerra. Era com este espírito que a Antiguidade estabelecia, com sabedoria, uma trégua durante os Jogos, e que os tempos modernos procuram regularmente retomar esta feliz tradição. Neste período turbulento, em que a paz no mundo está seriamente ameaçada, faço votos fervorosos a fim de que todos tenham a peito o respeito por esta trégua, na esperança da resolução dos conflitos e do regresso à concórdia. Que Deus tenha piedade de nós! Que ilumine as consciências dos governantes sobre as graves responsabilidades que lhes competem, que conceda aos artífices de paz o sucesso nas suas iniciativas e que os abençoe.

Aqui em nossa cidade temos a recente e feliz memória dos Jogos que aqui foram realizados em 2016: os Jogos Olímpicos foram abertos no dia 5 de agosto de 2016 e encerrados em 21 de agosto. As Paraolimpíadas foram abertas em 7 de setembro e finalizadas em 18 de setembro do mesmo ano. A grande cerimônia de abertura ocorreu no Estádio do Maracanã, assim como a cerimônia de encerramento. Foi um evento grandioso, com 10.500 atletas de 206 países.  Que as boas memórias dos dias de fraternidade e unidade que aqui foram vividos nesses dias nos impulsionem a buscar em todas as nossas relações, estabelecer a fraternidade, o respeito e a paz. Inclusive a cruz das Olimpíadas feita por madeiras de países dos cinco continentes foram enviadas para a Arquidiocese de Paris para esses atuais Jogos Olímpicos. A nossa capelania católica, na época das Olimpíadas, celebrou a eucaristia e atendeu atletas dos diversos países na capela própria construída para essa finalidade na vila olímpica. Foi também um grande congraçamento de vida de fé.

Podemos recordar também, nestes dias, a importância a ser dada à Pastoral do Esporte: aqui no Brasil temos dioceses que têm essa pastoral. É um grande canal de diálogo com a sociedade, um incentivo à saúde e uma oportunidade de construir pontes com esse mundo que, embora muito comercializado e explorado, tem, no entanto, espaço importante para encontrar os caminhos sadios. O atual Dicastério para a Educação e Cultura tem trabalhado bem sobre esse aspecto e incentivado às conferências episcopais a fazerem levantamentos nas Arqui/Dioceses sobre a Pastoral dos Esportes. Não devemos deixar que a maldade de algumas cenas iniciais deturpem os grandes ideais de paz e fraternidade entre os povos através do esporte.

Que o espírito dos Jogos Olímpicos possa inspirar a todos, participantes e espectadores, a “combater o bom combate e a terminar juntos a corrida“, diante de um mundo que “está sedento de paz, tolerância e reconciliação“. Deus abençoe e guarde a todos.

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeir

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