A Jornada Amazonizar, promovida pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), reuniu especialistas no dia 2 de dezembro, para discutir temas relacionados à Amazônia, à sustentabilidade e à preservação ambiental.
“Amazonizar é um verbo que fala de um método. Primeiro nós precisamos nos amazonizar, ou seja, conhecer as lógicas da floresta, a população local e suas necessidades, para depois procurar ajudar a Amazônia. Amazonizar é um verbo que pede, primeiro, uma transformação nossa, para depois oferecer ajuda, estar e construir juntos”, disse o reitor da PUC-Rio, padre Anderson Antônio Pedroso.
A Jornada Amazonizar faz parte da vocação da PUC-Rio, que prima pela produção e transmissão do saber, baseando-se no respeito aos valores humanos e na ética cristã, visando acima de tudo o benefício da sociedade.
Celebrando os 10 anos da Laudato Si’
O Cardeal Peter Turkson, prefeito emérito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral e relator da Encíclica Laudato Si’, fez a primeira conferência, “Uma década de reflexão e ação pelo Planeta”, sobre o marco de 10 anos do documento do Papa Francisco.
Tendo a oportunidade de apresentar o documento do Santo Padre em muitos eventos de âmbito internacional, o Cardeal Turkson explicou que faz parte de sua missão, por meio da Plataforma de Ação Laudato Si’, de incentivar as pessoas a colocar o documento em prática.
“Convidamos igrejas, congregações, escolas, grupos religiosos para uma conversão ecológica, como a colocação de painéis solares nos telhados, plantar árvores, entre outras iniciativas”, disse o cardeal ganaense.
Segundo o Cardeal Turkson, “a educação ecológica é fazer com que as pessoas se tornem sensíveis às questões ecológicas ao seu redor. Não é algo para ser dado como garantido, mas a ser completamente desenvolvido.”
“Incentivamos as pessoas a reconhecerem que todos somos cidadãos ecológicos, porque causamos impacto na criação e a criação causa um impacto em nossas vidas. O Papa Francisco fez um alerta com a Laudato Si’, mas muitas pessoas dizem que as mudanças climáticas, o aquecimento global não são reais. Temos que começar de novo. É o trabalho que a Academia de Ciências procura fazer”, disse o Cardeal Turkson, que também exerce o ofício de chanceler da Pontifícia Academia das Ciências.
Durante sua conferência, o Cardeal Turkson dividiu a mesa com o ministro Antonio Herman Benjamin, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Foi uma oportunidade para aprofundar a discussão sobre os desafios ambientais e o papel da sociedade nesse contexto.
“A Laudato Si’ é um documento que abre os olhos das pessoas e entre as pessoas os olhos dos juízes. Ela já foi citada duas vezes em acórdãos do Superior Tribunal de Justiça. Do início ao fim temos na Laudato Si’ mensagens éticas, ecológicas, econômicas, mas também jurídicas”, disse o ministro Antonio Herman Benjamin.
Responsabilidade pela Casa Comum
O evento foi aberto pelo arcebispo do Rio de Janeiro e grão-chanceler da PUC-Rio, Cardeal Orani João Tempesta, que também presidiu Santa Missa na Igreja Sagrado Coração de Jesus, situada no campus da PUC-Rio, na Gávea, na qual destacou a Amazônia como um dos tesouros da criação, e o compromisso da Igreja pelo cuidado da Casa Comum.
Segundo Dom Orani, a Encíclica Laudato Si’, lançada pelo Papa Francisco em maio de 2015, que tem como inspiração o Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis, “é um documento que transcende fronteiras religiosas e sociais ao abordar com profundidade e clareza a crise ecológica e suas implicações éticas, econômicas e espirituais, e convida a Humanidade a louvar a Deus pela criação e a reconhecer sua responsabilidade de cuidar dela”.
Para Dom Orani, a Encíclica Laudato Si’, que está às portas de completar 10 anos, “continua sendo uma fonte de inspiração para iniciativas concretas que promovam a sustentabilidade e a justiça social.” O texto profético “apresenta uma visão integral, que une o cuidado com o meio ambiente à promoção da dignidade humana, especialmente dos mais vulneráveis”. Esta conexão é mais evidente na Amazônia, na qual “a destruição ambiental ameaça não apenas a biodiversidade, mas também as populações indígenas e comunidades tradicionais, que são guardiãs de saberes preciosos e vivem em profunda harmonia com a criação”.
“A Amazônia, com sua exuberante biodiversidade e rica diversidade cultural, ocupa um lugar especial no coração da Igreja. Durante o Sínodo para a Amazônia, em 2019, ficou claro que o cuidado com esta região é uma responsabilidade global. Ela não é apenas uma instância vital para o planeta, mas também um território sagrado, onde a criação manifesta de maneira única a grandeza de Deus”, disse Dom Orani.
COP 30
À tarde, como parte da “Série Diálogos”, iniciativa que promove reflexões sobre temas cruciais para o futuro do planeta, houve discussões sobre os desafios e oportunidades da COP 30, que será realizada no ano de 2025, em Belém do Pará. Sob a mediação do reitor da PUC-Rio, padre Anderson Pedroso, a mesa-redonda com o título “COP 30 na Amazônia: perspectivas para a liderança do Brasil” contou com a presença do embaixador André Aranha Corrêa do Lago, especialista em questões climáticas, e de Rafaela Guedes, senior fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
Pensando a Amazônia
A segunda mesa-redonda “Pensando a Amazônia: os desafios da sustentabilidade socioambiental” reuniu vozes experientes e engajadas na construção de um futuro sustentável para a floresta, com a participação de Beto Veríssimo, pesquisador associado e cofundador do Imazon, e André Trigueiro, jornalista e professor da PUC-Rio.
Carlos Moioli