Jubileu dos Catequistas reforça o ardor missionário e a comunhão universal da Igreja

Irmã Lúcia Imaculada, da Congregação de Nossa Senhora de Belém, conta a experiência do encontro com o Papa Leão XIV e destaca a missão dos catequistas como testemunhas vivas de Jesus Cristo

 

O Jubileu dos Catequistas, realizado de 26 a 28 de setembro no Vaticano, reuniu milhares de catequistas de todo o mundo para celebrar a missão de educar na fé. A programação incluiu a peregrinação jubilar, a passagem pela Porta Santa, encontros formativos e uma audiência com o Papa Leão XIV, culminando na Santa Missa na Praça de São Pedro, onde o Santo Padre instituiu 39 catequistas no ministério. Do Brasil, participaram 228 catequistas, entre religiosos, religiosas e leigos, representando diversas dioceses e comunidades.

A Arquidiocese do Rio de Janeiro marcou presença com as irmãs Patrícia Violeta de Maria e Lúcia Imaculada, ambas da Congregação de Nossa Senhora de Belém, e com os leigos Jorge Luis Pereira, da Paróquia São Rafael Arcanjo, em Vista Alegre (Vicariato Leopoldina), Márcio Couto, da  Paróquia Nossa Senhora do Desterro, em Campo Grande (Vicariato Campo Grande) e Janine Magliari Carvalho de Moraes e Silva, da Paróquia São Francisco Xavier, na Tijuca (Vicariato Norte).

Em entrevista ao Jornal Testemunho de Fé, irmã Lúcia Imaculada compartilhou suas impressões sobre o jubileu, o encontro com o Papa e os frutos espirituais dessa vivência para os catequistas brasileiros e, em especial, para os da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

 

A dimensão universal da fé

“Participar do Jubileu dos Catequistas foi uma experiência marcante”, afirmou irmã Lúcia. “Estavam inscritos mais de 20 mil catequistas de todos os continentes. É muito bonito ver como a Palavra de Deus vai sendo difundida em todos os espaços e culturas.”

A religiosa destacou o caráter comunitário do evento, ressaltando que cada participante trazia consigo a fé e a experiência de suas comunidades. “Quem vem nunca vem sozinho. Ele traz uma comunidade, uma diocese, uma nação. Somos representantes dessa multidão de homens e mulheres, leigos e consagrados, que anunciam a Palavra de Deus.”

Segundo ela, a convivência entre pessoas de diferentes países, idiomas e tradições manifestou de modo concreto a catolicidade da Igreja — sua dimensão universal. “A celebração da instituição dos catequistas contou com representantes de 16 países, com pessoas vindas da África, do México, da Coreia e de várias partes do mundo. Foi uma celebração muito bonita, simples e profundamente católica.”

Durante a missa na Praça de São Pedro, o Papa instituiu 39 catequistas no ministério, entre eles dois brasileiros: Flávia Nascimento, da Diocese de Ponta Grossa (PR), e Vitor Paiva, da Diocese de Castanhal (PA). “Foi emocionante ver o Papa entregar a cada um o crucifixo, sinal de que devem testemunhar e anunciar Jesus ao mundo.”

 

O encontro com o Papa e a mensagem aos catequistas

A irmã Lúcia recordou com emoção os momentos vividos diante do Papa Leão XIV. “Muito me emocionou quando ele falou que as crianças devem ser educadas para intuir o amor de Deus — mergulhar e perceber o quanto são amadas por Ele.”

Para a religiosa, essa fala resume a essência da missão catequética. “O Papa destacou que o catequista anuncia a Palavra, mas anuncia com a sua vida. Ele manifestou o carinho e o reconhecimento da Igreja por aqueles que educam na fé, que anunciam com alegria e entusiasmo. Isso nos renova.”

Irmã Lúcia também teve a graça de cumprimentar pessoalmente o Santo Padre, junto ao padre Wagner Carvalho e Mariana Venance, ambos assessores nacionais da catequese. “Levamos a saudação do nosso arcebispo, Dom Orani, e, no coração, os catequistas de todo o Brasil, especialmente da Arquidiocese do Rio de Janeiro e do Regional Leste 1. Foi um momento de muita bênção e responsabilidade.”

Ela descreve o encontro como uma confirmação de fé. “O Papa, sucessor de Pedro, tem a missão de confirmar os irmãos na fé. Saímos com o sentimento de que o Senhor confirma essa fé que professamos com alegria e humildade.”

 

Três dias de oração, formação e comunhão

A programação do Jubileu dos Catequistas foi intensa, com momentos de espiritualidade, oração e formação. “Foram três dias bastante enriquecedores. Tivemos uma bela catequese com Dom Leomar Brustolin, presidente da Comissão para a Animação Bíblica e Catequética da CNBB, que acompanhou os brasileiros em todas as celebrações e orações.”

A religiosa ressaltou a importância do convívio fraterno entre os participantes. “Viemos num grupo que reuniu pessoas do Mato Grosso, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Nos tornamos uma família. Um cuida do outro, ajuda, partilha. É uma amizade que nasceu da fé.”

Além da formação espiritual, os peregrinos viveram experiências intensas de comunhão. “Tivemos momentos orantes muito fortes, a caminhada até a Porta Santa, missas diárias e partilhas que nos fortaleceram espiritualmente. Tudo isso renova o coração missionário.”

 

O impacto para o Brasil e para o Rio de Janeiro

Para irmã Lúcia, o Jubileu dos Catequistas deve ser um ponto de partida para um novo impulso missionário no Brasil. “Acredito que o jubileu fortaleça a missão dos catequistas no Brasil, especialmente quando divulgamos e partilhamos o que foi vivido aqui.”

Ela destacou a ampla participação brasileira e o engajamento digital dos catequistas durante o evento. “O Brasil era uma das maiores delegações. Através das mídias sociais, fomos partilhando com os catequistas que ficaram no país o que estávamos vivendo em Roma. Recebíamos mensagens, interações no Instagram da Iniciação Cristã, orações e apoio. Sentimos que todos estavam espiritualmente presentes conosco.”

Na Arquidiocese do Rio de Janeiro, ela vê um caminho promissor. “Temos uma caminhada muito rica e que precisa ser fortalecida. Os catequistas do Rio acompanharam tudo com grande interesse e oração.”

 

A missão permanente do catequista

Ao refletir sobre o papel do catequista na Igreja, a irmã Lúcia ressaltou que sua missão permanece a mesma desde os primeiros tempos do cristianismo: anunciar Jesus Cristo com a vida. “Catequizar é anunciar a Boa Nova, o Evangelho. O Papa nos lembrou que a palavra precisa passar pela vida. O catequista é aquele que anuncia com alegria, com competência, com metodologia adequada, mas sobretudo com testemunho.”

Ela enfatizou que, embora as ferramentas mudem — inclusive com o uso das redes sociais — o essencial continua sendo o testemunho pessoal. “Podemos evangelizar também pelas redes sociais, se necessário for, mas o principal é o testemunho de presença e de vida.”

A religiosa explicou que o anúncio da fé é, ao mesmo tempo, querigmático e mistagógico. “O catequista conduz a pessoa ao encontro com Cristo e ao mergulho no mistério de Deus. É uma experiência de iniciação e aprofundamento.”

 

Catequese e transformação social

A irmã Lúcia também refletiu sobre a dimensão social da catequese, inspirando-se no magistério do Papa Francisco. “O Papa nos recorda na Evangelii Gaudium que o anúncio querigmático é a base para a conversão moral e social. O querigma tem um valor comunitário e social.”

 

Segundo ela, o cristão transformado por Jesus deve ser também instrumento de transformação na sociedade. “Corações apaixonados por Jesus, enraizados na fé e a serviço da Igreja se tornam cristãos capazes de colaborar com as mudanças necessárias no mundo.”

Durante o Jubileu, essa mensagem foi reafirmada de forma prática. “O Papa falou sobre os excluídos, os invisíveis, como Lázaro no Evangelho. Um cristão não pode ser indiferente à dor do outro. A vivência da Palavra e dos sacramentos deve desembocar no compromisso social. Se não for assim, não seremos sal da terra nem luz do mundo.”

 

Formação, oração e comunhão: os pilares do serviço catequético

A religiosa também deixou conselhos aos catequistas, tanto aos iniciantes quanto aos mais experientes. “O primeiro passo é encontrar uma comunidade acolhedora. O catequista precisa ser bem recebido, reconhecido e acompanhado.”

Ela destacou a importância da formação contínua, algo fortemente valorizado na Arquidiocese do Rio. “Temos várias instâncias formativas fundamentais: o curso Luz e Vida, a Escola Mater Ecclesiae, o Instituto Superior de Ciências Religiosas, a Faculdade de Teologia na PUC-Rio ou no Mosteiro de São Bento. Sem falar nas formações promovidas pela Comissão Arquidiocesana da Iniciação Cristã. A palavra formação é muito forte na nossa arquidiocese.”

A irmã anunciou também uma novidade que deve fortalecer ainda mais essa caminhada: “No próximo ano, com a graça de Deus, será iniciado o projeto FIC — Formação Inicial para Catequistas — que será desenvolvido nos vicariatos, com os ministros instituídos e coordenadores vicariais. O roteiro já está pronto e será um passo importante na consolidação do ministério catequético.”

Além da formação, a vida espiritual é o alicerce da missão. “Sem oração, não caminhamos. É preciso vida sacramental, viver da Eucaristia, participar da comunidade, buscar a reconciliação com Deus. O catequista deve viver os sacramentos que recebeu e testemunhá-los com autenticidade.”

Ela ainda mencionou o valor do relacionamento comunitário. “A vivência comunitária se alarga: é paroquial, forânea, vicarial, arquidiocesana, regional e nacional. Quanto mais participamos de encontros, até internacionais, mais ampliamos nossa visão e nossa capacidade de servir.”

 

Um eco de eternidade

Ao final da entrevista, irmã Lúcia fez memória à fundadora de sua congregação, cuja espiritualidade a inspira em sua missão catequética. “Nossa fundadora dizia: quero me fazer eco de uma verdade carregada de eternidade. E o Papa nos lembrou que catequizar é fazer esse eco — anunciar com a palavra viva e com entusiasmo.”

Para ela, essa é a grande lição deixada pelo jubileu. “Devemos continuar colaborando com os catequistas tão dedicados que temos em nossa arquidiocese — sejam da catequese infantil, juvenil, de adultos, batismal ou catequese diferenciada. Que todos possam ser cada vez mais ecos dessa Palavra de Deus carregada de eternidade.”

 

Testemunho que renova a Igreja

O testemunho da irmã Lúcia Imaculada resume o sentido profundo do Jubileu dos Catequistas: uma celebração da fé vivida, testemunhada e partilhada. O encontro no Vaticano reafirmou que o catequista é, antes de tudo, um discípulo missionário, chamado a ser sinal da presença de Cristo no mundo.

“O Jubileu foi uma bênção que nos renova na missão. Voltamos com o coração cheio de esperança e o desejo de continuar anunciando Jesus com alegria.”

 

 

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