O Povo de Deus

Cadernos do Concílio – Volume 17

 

Hoje nos debruçaremos no Volume 17 dessa coleção Cadernos do Concílio Ecumênico Vaticano II. Após tratar nos volumes anteriores sobre a importância da liturgia que nos conduz ao mistério pascal de Cristo e sobre a Igreja que tem Cristo como cabeça, hoje trataremos sobre quem “faz” a Igreja, que é povo de Deus. O povo de Deus é cada batizado que é incorporado à Igreja que tem Cristo como cabeça. O povo de Deus deve estar em plena comunhão com a cabeça da Igreja, que é Cristo, e em comunhão uns com os outros.

A denominação povo de Deus vem desde o Antigo Testamento, quando o Senhor faz aliança com o povo de Israel, tirando-o da escravidão do Egito e conduzindo esse povo para a terra prometida. A aliança que Deus fez com o povo de Israel é como uma aliança de casamento, em que ambos prometem fidelidade um ao outro. É claro que Deus permanecerá sempre fiel, pois não podia negar-se a Si mesmo, mas o povo de Deus, que é um povo de cabeça dura, cedeu às tentações do inimigo e foi infiel ao Senhor.

Por consequência dessa infidelidade o povo de Deus acabou sendo exilado para uma terra estrangeira e praticamente perdeu aquela terra que Deus lhe havia dado. Esse povo fica um tempo exilado e depois de um tempo, Deus usa de misericórdia e resgata esse povo de volta para a sua terra.

Deus vai renovar de maneira definitiva a aliança com o povo de Israel através da encarnação de Jesus e por meio da morte d’Ele na Cruz. A morte de Cristo na Cruz foi para redimir a humanidade do pecado e a fim de salvar a todos. No alto da Cruz, Jesus entrega a Humanidade aos cuidados de Maria, quando diz ao discípulo amado: “Filho, eis aí a tua Mãe”, e depois diz a Maria: “Mulher, eis aí o teu filho”. A partir disso, é constituído o novo povo de Deus a partir da paixão, morte e posterior ressurreição de Jesus.

Após a ressurreição e antes da ascensão em definitivo ao céu, no Dia de Pentecostes, Jesus sopra sobre os discípulos o Espírito Santo e os envia em missão para dar início à Igreja primitiva. A partir da missão dos apóstolos e do início da Igreja primitiva, o povo de Deus foi sendo constituído a partir do momento em que eram batizados. Os novos batizados eram incorporados à Igreja de Cristo e eram chamados a cooperar na missão dos apóstolos e chamar novos membros para essa Igreja. Com o passar do tempo e com a pregação dos apóstolos, o número de fiéis ia crescendo cada vez mais.

Conforme podemos observar, a noção de “povo de Deus” vem desde o Antigo Testamento, perpassa toda a história da salvação, continua com os apóstolos com o início da Igreja primitiva e segue até os dias de hoje. Por isso, não foi uma coisa inventada agora ou pela Igreja Católica, mas provém do Antigo Testamento e do povo judeu escolhido por Deus. Por isso, convido a tomar a Sagrada Escritura e ler, sobretudo, os livros denominados como “Pentateuco”, que são: Genesis, Êxodo, Deuteronômio, Levítico e Números, que tratam mais precisamente da constituição do povo de Deus.

Toda a Humanidade é convidada a pertencer ao povo de Deus, ninguém deve ser excluído, a partir do momento em que faz parte desse povo de Deus cada pessoa é chamada para a missão, ou seja, anunciar com alegria o Reino de Deus, fazer com que esse Reino aconteça aqui e agora e depois vivê-lo de maneira concreta no céu. Através do batismo, cada pessoa é chamada a ser sacerdote, profeta e rei, ou seja, chamados a fazer parte do sacerdócio comum de Cristo e ser no mundo profetas, anunciando com alegria o Reino de Deus.

Cada batizado faz parte do povo de Deus que caminha rumo à eternidade, ou seja, chamado a anunciar o Reino de Deus aqui na terra para vivê-lo de maneira definitiva no céu. O Papa Francisco nos convida a ser uma Igreja em saída, ou seja, não podemos ficar na sacristia ou dentro de nossas igrejas esperando as pessoas procurarem a Igreja, mas temos que ir ao encontro do outro e chamar novos membros para que a partir do batismo façam parte do Reino de Deus.

Existem dois documentos importantes elaborados ao longo do Concílio Ecumênico Vaticano II que fundamentam essas ideias, pois tratam a respeito da noção de povo de Deus e da missão da Igreja. O primeiro deles é a “Lumen Gentium”, ou seja, luz das gentes, cada batizado e batizada é chamado a ser luz na vida dos outros, a tirar das trevas aqueles que estão na escuridão e os conduzir para a luz, do mesmo modo que Barnabé fez com Paulo. O outro documento é o Decreto “Ad Gentes”, que trata sobre a atividade missionária da Igreja, ou seja, a Igreja tem que estar no meio do mundo, anunciando o Reino de Deus, por isso ela não pode ficar isolada.

“Povo de Deus” somos todos nós que fomos batizados e nos tornamos membros da Igreja, devemos nutrir em nós um sentimento de alegria por fazer parte do rebanho do Senhor. E ainda, somos convidados a partir do batismo e, sendo povo de Deus, a ser missionários e anunciar o Reino de Deus, chamando novas pessoas a fazerem parte desse povo de Deus.

Tomemos esses documentos citados acima e que fazem parte do Concílio Ecumênico Vaticano II e que possamos entender melhor o nosso papel dentro da Igreja, e tomemos de igual modo esse Volume 17 dos Cadernos do Concílio, que também nos ajudará a entender melhor o que significa ser povo de Deus. Amém.

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

 

 

 

Categorias
Categorias