Os caminhos do Bom Pastor

No dia 27 de novembro, dia em que celebramos a memória de Nossa Senhora das Graças, a Paróquia São João Batista, localizada no Corcundinha, bairro de Campo Grande, realizou procissão pelas ruas de Santa Maria, região conhecida por ‘Casinhas’, uma parte bastante carente do território paroquial.

O percurso feito em procissão foi uma novidade, pois nunca havia passado por aqueles caminhos. A realidade material precária me chamou atenção: ruas muito estreitas, caminhos íngremes, casas muito pequenas, ou seja, uma realidade de pobreza visível. Percorrendo estes caminhos e participando da procissão com cantos e orações, me lembrei de passagens bíblicas que falam sobre o Bom Pastor. Enquanto caminhávamos, Cristo crucificado ia à frente. O padre – figura de Cristo – também caminhava, sendo sinal para aquelas pessoas que ora demostravam respeito, mas, na maioria das vezes, curiosidade, ou até mesmo, indiferença.

Quantos ali precisam conhecer esse pastor misericordioso e cuidadoso que deseja conduzir as ovelhas e fazê-las repousar? O Senhor não apascenta suas ovelhas apenas em belas montanhas, com grama verde e água com fartura. É também nos caminhos precários e tortuosos que Ele quer se fazer presente e para isso é fundamental que nós, enquanto cristãos, nos façamos presentes testemunhando o Senhor que nos alcançou.

Durante o percurso da procissão, ouvi um diálogo entre uma mãe e sua filha. A menina, que devia ter cerca de 8 anos, pediu à mãe que acompanhassem a procissão, apontando e dizendo: “Olha ali, mãe! É Jesus que morreu na cruz. Vamos!”. Diante disso, a mãe respondeu: “Eu sei que é Jesus, mas vamos pra casa, porque eu tenho janta pra fazer!”. Apesar de ser uma fala que em um primeiro momento pode escandalizar, também faz refletir sobre as escolhas que fazemos diariamente ao vermos Cristo passar e priorizamos o trabalho, o conforto e a segurança.

Se me chamou atenção a realidade material e aquilo que pude observar, esta experiência me fez pensar também sobre aquilo que não vemos. Eu – e acredito que nenhum de nós ali presentes na procissão – não sou melhor que aqueles que ali vivem. Nosso interior também guarda muitas misérias e precariedades, e o Bom Pastor não cansa de nos procurar e nos reconduzir ao seu redil.  A maior precariedade é a ausência de Deus que nos afasta da promessa: “Vou levá-las para pastar nas melhores invernadas, e seu curral ficará no mais alto dos montes. Eu mesmo conduzirei minhas ovelhas para o pasto e as farei repousar” (Ez 34, 14-15).

A experiência da procissão foi, para mim, marcante. Posso dizer que o Bom Pastor, naquela realidade, me alcançou ao me mostrar que Ele não mede esforços para se fazer presente em nossas precariedades humanas, sejam elas visíveis ou não.

 

Juliana Vital, paroquiana

 

 

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