“Tudo na vida passa, o que fica é a graça de Deus” – Padre Nixon
Foi para os braços do Pai o padre Nixon Bezerra de Brito, às 0h10 do dia 28 de agosto, no Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, onde estava internado nos últimos dias, com as presenças constantes de sua mãe e irmãs. Ele tinha 51 anos de idade e 25 anos de sacerdócio, até então pároco da Paróquia Senhor Bom Jesus do Monte, em Paquetá.
Seu corpo será velado no dia 29 de agosto, a partir das 8h, na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, na Glória, onde ele fez estágio como seminarista, exerceu o ministério como diácono e, depois de ordenado, como vigário paroquial. As missas de corpo presente serão às 8h, 10h e 12h, e a de exéquias, às 14h.
Em seguida, seu corpo será transladado para São Fernando, sua cidade de origem, no Rio Grande do Norte. O velório será realizado no dia 30 de agosto, na Paróquia Nossa Senhora do Patrocínio, onde foi pároco, e o sepultamento ocorrerá no mesmo dia, no Cemitério Municipal de São Fernando, no túmulo onde estão os restos mortais do seu pai.
Dever cumprido
Quando celebrou em 2023 o jubileu de 25 anos de sacerdócio, declarou em entrevista ao jornal “Testemunho de Fé” que quando celebrou a primeira missa, após a ordenação, pediu a Jesus para que em cada missa a ser celebrada ele tivesse o mesmo sentimento e amor e que não o deixasse cair na rotina de fazer de qualquer jeito.
“Cada missa para mim é única. Por muitos anos, cheguei a celebrar seis missas entre sábado à noite e domingo, só para não deixar nenhuma capela sem missa dominical. Mesmo cansado, na hora da Eucaristia sentia uma sensação de amor, de ser abraçado por Jesus, vivo na Sua Palavra e na Eucaristia. Nesse pedido fui privilegiado, pois todas as minhas missas são celebradas com o sentimento e a sensação da primeira missa”, disse padre Nixon.
Na mesma entrevista por ocasião de seu jubileu sacerdotal, evidenciou: “Cheguei aos 25 anos com sensação de dever cumprido, de não ter desperdiçado o tempo. Me ordenei com 25 anos, muito jovem, e achava que sabia tudo, mas tive falhas, equívocos, por causa da ansiedade em querer fazer tudo. Mas sabemos que essa fase passa, tudo na vida passa, o que fica é a graça de Deus, a vocação, o ministério, o chamado”.
Vida e vocação
Filho de José Aroldo de Brito, já falecido, e de Lucinete Bezerra de Brito, padre Nixon nasceu no dia 24 de junho de 1973, em Caicó, principal cidade da região do Seridó, localizada na zona central do Estado do Rio Grande do Norte.
O chamado ao sacerdócio surgiu quando criança, tendo como exemplo o padre Deoclides de Brito, sobrinho-neto de sua avó, sendo identificado por um historiador de sua cidade como o décimo vocacionado da família a ser ordenado sacerdote. Outro sacerdote que incentivou e acompanhou sua vocação foi o reitor do Seminário Menor de Caicó, padre José Tadeu de Araújo, que também foi seu pároco na Paróquia Nossa Senhora do Patrocínio, na cidade de São Fernando (RN).
Por seu pai ter sido militar, Nixon ficou, de imediato, com receio de comunicar sua vocação a ele, que não aceitava entregar o filho à Igreja. O consentimento para ingressar no seminário, aos 16 anos, foi possível com a ajuda de sua tia e madrinha de Batismo, Maria Edith, que tinha cuidado do pai quando ele era bebê. O pai, quando completou 25 anos de casado, se reconciliou com Deus e com a Igreja, e recebeu do filho sacerdote o/ Sacramento do Matrimônio, pois era casado somente no civil.
Estudos
Após concluir o Seminário Propedêutico, Nixon foi enviado, em 1992, pelo seu bispo, Dom Heitor de Araujo Sales, para estudar no Rio de Janeiro, na época, a Diocese de Caicó não tinha condições de manter um seminário maior. Acolhido na Arquidiocese do Rio de Janeiro pelo irmão de seu bispo, o Cardeal Eugenio de Araujo Sales, ele cursou Filosofia e Teologia no Seminário Arquidiocesano de São José, no Rio Comprido.
No último ano de Teologia, aproveitou para iniciar curso de Direito Canônico, no Rio de Janeiro, sendo recebido pelo diretor, padre Luís Madeiro Lopes. O Instituto Superior de Direito Canônico da arquidiocese começou a funcionar em uma das salas do prédio do seminário, próximo à Casa do Padre.
Ordenação
Das mãos do bispo diocesano de Caicó, Dom Jaime Vieira Rocha, recebeu o diaconato no dia 17 de dezembro de 1997, e a ordenação sacerdotal na Catedral de Sant’Ana, em Caicó, no dia 19 de dezembro de 1998.
Primeiros anos de sacerdócio
Durante dois anos exerceu o ministério sacerdotal na Diocese de Caicó, onde estava incardinado, como pároco da Paróquia Nossa Senhora do Patrocínio, em São Fernando, e também como diretor e professor do Instituto de Filosofia e Teologia da Diocese de Caicó.
De volta a Arquidiocese do Rio de Janeiro, foi nomeado, a partir de dezembro do ano 2000, vigário paroquial da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, na Glória.
Nesta paróquia ele já tinha feito estágio pastoral como seminarista, depois como diácono, auxiliando o pároco, monsenhor Vital Francisco Brandão Cavalcanti, pelo qual tinha grande admiração, principalmente por receber seus ensinamentos com grandes exemplos de ser um “sacerdote íntegro, servidor da Igreja e do povo de Deus”.
A convite de monsenhor Vital, desde o ano 2000, padre Nixon participava do programa “Expresso da Saudade”, que vai ao ar aos domingos à noite pela Rádio Catedral, despertando bons sentimentos nos ouvintes com a partilha de temas religiosos e culturais. Quando monsenhor Vital deixou de gravar por questões na fala e na locomoção, padre Nixon, por recomendação, continuou o legado de fazer o programa, nos últimos anos, na companhia do padre Jackson Tavares de Figueiredo.
Na Rádio Catedral, desde fevereiro de 2020, padre Nixon também estava à frente do programa “Preparando a Eucaristia”, uma reflexão da liturgia do dia, que vai ao ar, pela emissora, aos domingos, antes da missa das 10h, com transmissão direto da Catedral Metropolitana de São Sebastião.
Comunidade de Acari
Convidado para assumir a Paróquia Nossa Senhora de Nazaré e Santos Mártires Ugandenses, em Acari, foi nomeado, em fevereiro de 2004, como vigário paroquial, e, a partir de setembro de 2009, como o primeiro pároco. A paróquia, que estava sob a responsabilidade das Irmãs Salesianas, tinha sido criada há mais de 20 anos, e nunca teve pároco residente.
Como não havia casa paroquial, padre Nixon continuou a morar na Glória e ir para Acari nos finais da semana. Depois de um tempo, com a saída das religiosas, conseguiu alugar uma casa próxima à paróquia, e até se estabilizar. O aluguel, o salário e o plano de saúde foram pagos por monsenhor Abílio Ferreira da Nova por um período de seis meses.
“Fui muito bem acolhido e querido na paróquia de Acari, que me ensinou a ser pároco, ser padre de verdade, uma comunidade que eu dirigia e, ao mesmo tempo, era dirigido pelo povo, sedento de ter um padre residente”, disse padre Nixon em entrevista ao jornal “Testemunho de Fé”, quando celebrou 25 anos de sacerdócio.
Mesmo com todos os desafios que encontrou em Acari, situado na zona norte da cidade, padre Nixon serviu a comunidade com alegria e dedicação, edificando e conduzindo o povo de Deus. Deu atenção especial, entre as prioridades pastorais, às crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, procurando a inserção delas em projetos educacionais oferecidos pela Pastoral do Menor em parceria com as Forças Armadas.
Ilha de Paquetá
Após 11 anos em Acari, padre Nixon assumiu a Paróquia Senhor Bom Jesus do Monte, em Paquetá, nomeado em março de 2015. Nesta ilha, situada ao nordeste da Baía de Guanabara, sem a agitação e a violência da grande metrópole, padre Nixon promoveu com seus paroquianos uma significativa e influente ação pastoral, com o fortalecimento das pastorais e movimentos, e ainda valorizando a devoção ao padroeiro paroquial e a São Roque, padroeiro da ilha, cuja capela foi erguida em 1697.
Todos os anos, fazia questão de receber a imagem peregrina de São Sebastião, algo que acontece no mês de janeiro durante a Trezena do padroeiro da cidade e da arquidiocese do Rio de Janeiro. Mesmo quando deixou Acari, continuou a acolher em Paquetá a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré, vinda, anualmente, de Belém do Pará. Junto com a dinâmica pastoral, padre Nixon favoreceu as manifestações culturais da ilha, na busca de promover e fortalecer as tradições e o diálogo da Igreja com a comunidade e artistas locais.
A serviço da Igreja
No dia 25 de novembro de 2016, pouco mais de um ano em que estava à frente da paróquia de Paquetá, padre Nixon foi incardinado na Arquidiocese do Rio de Janeiro. Em março de 2020, ganhou o título da Câmara Municipal de cidadão honorário do Rio de Janeiro.
A serviço da arquidiocese, era membro do Conselho Presbiteral, onde foi nomeado em março de 2015, e nomeado e reconduzido por mais duas vezes como vigário forâneo da 1ª Forania do Vicariato Episcopal Urbano. Era assistente eclesiástico da Federação das Filhas de Maria, desde dezembro de 2019, e do Cemitério Santo Antônio, na Ilha de Paquetá, nomeado em julho de 2022. Também, vigário episcopal adjunto do Vicariato Episcopal para a Cultura, nomeado em outubro de 2023.
Orações, unidade e condolências
Agradecemos a Deus pelo dom de sua vida, pelo “sim” generoso ao chamado do Senhor, pela vocação que sempre cultivou, e pelo seu sacerdócio cheio de frutos para a vida da Igreja e do povo de Deus.
Seu sacerdócio foi marcado por um grande amor e dedicação à Igreja. Por onde passou espalhou o perfume do Evangelho de Cristo, santificando e conduzindo os fiéis que recebeu para ser pastor. Querido pelo clero e seus paroquianos, criou laços de amizade e comunhão entre todos.
Aos familiares, paroquianos e amigos que choram sua partida para a eternidade, expressamos nossa solidariedade e unidade através da oração, na confiança e esperança que vêm do Ressuscitado, que nos consola com a certeza de que quem crê n’Ele terá a vida eterna (Jo 6,40).
Pela fé, temos a certeza que padre Nixon recebeu a “coroa da justiça” que está reservada para ele pelo Senhor, o justo juiz (2 Tm 4,8), e já contempla no Céu a visão beatifica, e pode viver eternamente com quem conheceu, amou, serviu e anunciou enquanto esteve entre nós. Dai-lhe, Senhor, o descanso eterno, e brilhe para ele a Vossa luz.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro-RJ