Dom Jaime Spengler, franciscano brasileiro de 64 anos, foi criado cardeal pelo Papa Francisco no dia 7 de dezembro, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, durante o Consistório Ordinário Público. O arcebispo de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, é presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e do Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho), além de ser membro dos dicastérios para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos e do Instituto de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica da Santa Sé, no Vaticano.
O rito de criação dos novos cardeais
No décimo Consistório do pontificado do Papa Francisco, a celebração começou com o canto “Tu es Petrus” e as palavras de agradecimento ao Papa pronunciadas pelo primeiro cardeal da lista, Angelo Acerbi, ex-núncio apostólico.
Em seguida, o Papa pronunciou a fórmula para a criação dos novos purpurados, que juraram fidelidade e obediência ao Pontífice e a seus sucessores “até o derramamento de sangue”. Um a um eles se aproximaram da sede do Papa para receber os símbolos do cardinalato de joelhos: solidéu vermelho, barrete, anel e a atribuição a um título ou diaconia. Após, todos receberam o abraço de paz de Francisco.
Dom Jaime Spengler recebeu o título da Igreja de ‘S. Gregorio Magno alla Magliana Nuova’, que está localizada no bairro Portuense, em Roma, com sede paroquial desde 14 de dezembro de 1963. A partir de 26 de agosto de 2023, o título estava vacante.
O título cardinalício, diferentemente do cargo eclesiástico específico a que um cardeal pode ser chamado, é vitalício e simboliza a participação do cardeal no clero romano e a unidade do Colégio de Cardeais como um instrumento de apoio à atividade pastoral do bispo de Roma: o Papa. É uma “pertença que exprime a unidade da Igreja e o vínculo de todas as Igrejas com a Igreja de Roma”, como já havia escrito o próprio Papa Francisco em carta divulgada em 12 de outubro dirigida a todos os novos cardeais deste 7 de dezembro.
Colégio de Cardeais
Com a criação dos novos 21 cardeais, o Colégio de Cardeais agora é composto por 253 cardeais, dos quais 140 são eleitores e 113 são não eleitores.
Homilia do Papa Francisco
Na homilia, o Papa reiterou um dos pilares do seu magistério: não perseguir os primeiros lugares, mas cultivar a humildade e a fraternidade.
Não se deslumbrar pela sedução do prestígio
Nosso coração é uma “miscelânea”, lembrou o Papa, citando Manzoni em “Os Noivos”. Ele se refere à atitude dos discípulos, não imunes a cedências, fragilidades, desorientações, infidelidades, mal-entendidos. Enquanto, de fato, Jesus está em um caminho cansativo, em subida, que o levará ao Calvário, lembrou Francisco, eles pensam na estrada suave, em descida, do Messias vitorioso. Esse é um dos grandes mal-entendidos do seguimento de Cristo, do qual devemos nos tornar “humildemente conscientes”.
Isso também pode acontecer conosco: que nosso coração se perca pelo caminho, deixando-se deslumbrar pelo fascínio do prestígio, pela sedução do poder, por um entusiasmo demasiado humano pelo Senhor. Por isso é importante olhar para o nosso interior, colocar-nos humildemente diante de Deus e honestamente diante de nós mesmos, e nos perguntar: Para onde está indo o meu coração? Em que direção ele está se movendo? Talvez esteja indo na direção errada?
Retornar ao coração, a dobradiça sendo Jesus
É o “retorno ao coração” recomendado por Santo Agostinho, também citado pelo Papa. Esse retorno ao que é essencial, profundo, verdadeiramente necessário. Porque muitas vezes acontece que confundimos os planos, considerando essencial o que não é. Com uma metáfora adequada, o Pontífice se refere à imagem da “dobradiça” de uma porta: o suporte, o centro de gravidade no qual confiar a própria vida deve permanecer Cristo.
Hoje, especialmente para vós, caros irmãos que recebeis o cardinalato, eu gostaria de dizer: tende o cuidado de caminhar na estrada de Jesus. O que isso significa? Caminhar na estrada de Jesus significa, antes de tudo, voltar para Ele e recolocá-Lo no centro de tudo. Na vida espiritual, assim como na vida pastoral, às vezes corremos o risco de nos concentrarmos naquilo que é acessório, esquecendo-nos do essencial.
Caminhar pelas ruas, encontrando o próximo
O Papa continua a declinar as formas de imitar Jesus, colocando-o em seu caminho: curando as feridas do homem, aliviando os fardos de seu coração, removendo as pedras do pecado e quebrando as correntes da escravidão. O cardinalato, insistiu o Sucessor de Pedro, não é o isolamento, mas a imersão contínua na vida das pessoas, em suas lutas e feridas, em seus desencantos. O próprio padre Mazzolari, de quem o Papa se lembra, falou da necessidade de andar pelas ruas, de uma ação livre e sem filtros: isso ainda é necessário hoje, disse Francisco. “Não esqueçamos que o cansaço estraga o coração e a água cansada é a primeira a se corromper”, acrescentou o Papa.
“A aventura do caminhar, a alegria de encontrar os outros, o cuidado com os mais frágeis: isso deve animar o vosso serviço como cardeais.”
Buscar a unidade, não os primeiros lugares
No grupo de discípulos, “a traça da competição destrói a unidade”, continuou o Papa. Os cardeais são convidados a não cair nessa tentação, mas a derrubar os muros da inimizade, animados por aquele ardor na busca da unidade que era tão caro a São Paulo VI. Esse é o espírito que faz a diferença, concluiu ele, em um mundo marcado pela “competição corrosiva”, em uma sociedade dominada pela obsessão das aparências e pela busca dos primeiros lugares.
Portanto, lançando seu olhar sobre vocês, que vêm de diferentes histórias e culturas e representam a catolicidade da Igreja, o Senhor os chama a serem testemunhas, testemunhas da fraternidade, os chama a serem artesãos da comunhão e construtores da unidade. E essa é a missão de vocês!
Quem é o novo cardeal brasileiro?
Cardeal Jaime Spengler nasceu em 6 de setembro de 1960 em Gaspar (SC). Ingressou na Ordem dos Frades Menores em 20 de janeiro de 1982, pela admissão no Noviciado na cidade de Rodeio (SC). Cursou Filosofia no Instituto Filosófico São Boaventura, de Campo Largo (PR), e Teologia no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ), concluindo-a no Instituto Teológico de Jerusalém, em Israel.
Foi ordenado sacerdote em 17 de novembro de 1990, na sua cidade natal. Fez doutorado em Filosofia na Pontifícia Universidade Antonianum, em Roma, e atuou dentro da Ordem dos Frades Menores em diversas missões e cidades do país até 2010.
Nomeado bispo auxiliar de Porto Alegre (RS) pelo Papa Bento XVI, sua ordenação episcopal, presidida por Dom Lorenzo Baldisseri, Núncio Apostólico no Brasil, ocorreu no dia 5 de fevereiro de 2011, na Paróquia São Pedro Apóstolo, em Gaspar. Adotou como lema: “In Cruce Gloriari”, “Gloriar-se na Cruz” (Cl 6, 14).
No dia 18 de setembro de 2013, foi nomeado pelo Papa Francisco como o 7º arcebispo metropolitano de Porto Alegre, por ocasião do pedido de renúncia de Dom Dadeus Grings.
Em 24 de abril de 2023, durante a 60ª Assembleia Geral da CNBB realizada em Aparecida (SP), foi eleito presidente da CNBB para um mandato de quatro anos e, em maio, para o mesmo mandato, também do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), sucedendo o arcebispo peruano Héctor Miguel Cabrejos Vidarte.
Nomeado ao cardinalato no dia 6 de outubro de 2024. No consistório para criação, no dia 7 de dezembro, em Roma, foi criado Cardeal pelo Papa Francisco.
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