Papa Leão XIV nomeia Dom Paulo Romão para a Diocese de Paranaguá, no Paraná

“Viver é Cristo”: o pastor retorna às origens para lançar as redes da evangelização sob o olhar de Maria

 

Foi tornado público, na manhã desta quarta-feira, dia 20 de agosto (12h de Roma), memória litúrgica de São Bernardo, abade e doutor da Igreja, a nomeação de Dom Paulo Alves Romão, feita pelo Papa Leão XIV, para ser o 5º bispo de Paranaguá, diocese situada na região litorânea do Estado do Paraná, pertencente ao Regional Sul II da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Dom Paulo Romão foi nomeado pelo Papa Francisco em 7 de dezembro de 2016 como bispo titular de Calama e auxiliar do Rio de Janeiro, em atenção ao nosso pedido, para nos ajudar no pastoreio do povo de Deus presente nesta vasta região metropolitana da capital fluminense. Junto com Dom Joel Portella Amado, foi por mim ordenado bispo na Catedral de São Sebastião, no Centro, no dia 28 de janeiro de 2017.

Posse canônica
A data de posse canônica de Dom Paulo Romão já está marcada. Será no dia 27 de setembro, memória litúrgica de São Vicente de Paulo, sábado, às 10h, na Catedral de Nossa Senhora do Santíssimo Rosário, situada na Praça da Independência, no centro histórico de Paranaguá (PR).

Cidade de Paranaguá
A cidade-sede da diocese, Paranaguá, que significa “mar grande e redondo”, tem uma história que se funde com a colonização portuguesa. O território paranaense do litoral foi descoberto por Martim Afonso de Sousa por volta de 1532. Um jesuíta vindo de São Vicente, padre Leonardo Nunes, foi o primeiro evangelizador da região. A primeira capela, construída em 1578, foi o primeiro local de culto católico no Paraná português.
O município de Paranaguá, a “cidade-mãe” do Estado do Paraná, foi fundado em 29 de julho de 1648. A primeira paróquia – hoje catedral –, dedicada a Nossa Senhora do Santíssimo Rosário, foi criada em 5 de abril de 1655 – após a instituição de sua festa a 7 de outubro de 1571, com a vitória de Lepanto –, sendo autorizada pelo prelado do Rio de Janeiro, padre Antônio de Mariz Loureiro. A Igreja presente em Paranaguá, em sua longa existência, esteve sob a jurisdição do Bispado do Rio de Janeiro durante 167 anos.
Em Paranaguá, encontra-se um santuário dedicado a Nossa Senhora do Rocio, padroeira e rainha perpétua do Estado do Paraná. A imagem histórica da Virgem do Rocio, que numa linguagem antiga significa “orvalho”, foi encontrada em um rio da cidade, nas redes de um pescador, no século XVII.

Diocese de Paranaguá
A Diocese de Paranaguá, da qual Dom Paulo Romão será bispo, foi erigida no dia 21 de julho de 1962, por meio da bula *Ecclesia Sancta*, do Papa São João XXIII, desmembrada da Arquidiocese de Curitiba e sufragânea da Província Eclesiástica de Curitiba.
A diocese já foi conduzida por quatro bispos: Dom Bernardo José Nolker, C.Ss.R., de 1963 a 1989; Dom Alfredo Ernest Novak, C.Ss.R., de 1989 a 2006; Dom João Alves dos Santos, O.F.M.Cap., de 2006 a 2015; e Dom Edmar Peron, de 2015 a 2025. Nos períodos de vacância, a diocese foi conduzida pelos administradores apostólicos: Dom Manoel da Silveira d’Elboux, Dom Francisco Carlos Bach e, atualmente, Dom Bruno Elizeu Versari, bispo diocesano de Ponta Grossa (PR).

Dados da diocese
Em 2022, segundo dados do IBGE, a diocese contava com uma população aproximada de 399.882 habitantes – sendo que Paranaguá possui 145.829 habitantes – e abrange 13 municípios: Adrianópolis, Antonina, Bocaiúva do Sul, Campina Grande do Sul, Cerro Azul, Doutor Ulysses, Guaraqueçaba, Guaratuba, Matinhos, Morretes, Paranaguá, Pontal do Paraná e Tunas do Paraná.
O território da Diocese Parnanguara é de 12.992 km², organizado em 22 paróquias, 1 área pastoral, 2 santuários (não territoriais) e 2 seminários, integrados em três regiões pastorais: Serra, Litoral e Marumbi – Paranaguá, sendo conduzido por 27 sacerdotes diocesanos e 6 religiosos, e com o serviço pastoral de 1 diácono permanente.

História de vida do novo pastor
Dom Paulo Romão nasceu em Barra do Jacaré, no Paraná, no dia 6 de abril de 1964, mas a família morava em Água Seca, zona rural do município de Bandeirantes (PR). Filho de Benedito e de Maria Alves Romão, ele foi criado com mais cinco irmãos. Profundamente católicos e dedicados ao Senhor, os pais jamais deixavam de participar da missa dominical e, com muito amor, levavam os filhos para viverem essa experiência de fé.
Junto com a família, Dom Paulo Romão trabalhava na lavoura, cultivando milho, feijão, arroz e criando porcos. Sem acesso à educação além da 4ª série, precisou deixar os estudos para ajudar a família. Aos 20 anos, sentiu-se chamado a mudar de vida e, guiado pela fé, decidiu estudar e trabalhar no Rio de Janeiro, onde iniciou uma nova etapa de sua história.

Vocação
Já morando no Rio de Janeiro, foi convidado por um amigo para participar de um encontro com os padres italianos Filippo Santoro e Giuliano Renzi, na Paróquia Nossa Senhora de Copacabana e Santa Rosa de Lima, em Copacabana. Era o início do movimento Comunhão e Libertação na arquidiocese, organismo eclesial fundado pelo padre Luigi Giussani, na Itália, em 1954, cujo objetivo é a madura educação cristã dos seus membros e a colaboração com a missão da Igreja em todos os âmbitos da sociedade contemporânea.
A convivência com padres apaixonados por Cristo e com um grupo de jovens universitários profundamente transformados pela fé levou-o a participar ativamente do movimento, onde viveu uma experiência fascinante de pertença a uma comunidade viva. Essa vivência o ajudou a compreender de forma concreta o Evangelho, o fascínio dos apóstolos por Jesus, e despertou nele, de forma clara, o surgimento da vocação sacerdotal.
Formação e ordenação
Em 1990, o então jovem Paulo Romão ingressou no Seminário Arquidiocesano de São José, sob a reitoria de Dom Assis Lopes, sendo sua formação uma experiência transformadora, marcada pela convivência comunitária e pela disciplina, que lhe proporcionaram uma verdadeira formação na oração e nos estudos. Após concluir a teologia, seguiu o conselho de Dom Karl Josef Romer e iniciou o mestrado em Teologia Sistemática Pastoral na PUC-Rio, onde se titulou com a dissertação “A dimensão sacramental da fé em Luigi Giussani”.
Ordenado sacerdote em 28 de junho de 1997 por Dom Eugenio de Araujo Sales, na Catedral de São Sebastião, também se dedicou à docência, lecionando Teologia Dogmática. No doutorado, aprofundou-se no tema “A estrutura sacramental da história salvífica”, em estudo comparado entre Edward Schillebeeckx e Luigi Giussani.

Ministério sacerdotal
Após sua ordenação sacerdotal, Dom Paulo Romão desempenhou diversas funções na Arquidiocese do Rio de Janeiro, com forte atuação nas áreas da formação sacerdotal, educação e pastoral. Foi diretor espiritual do Seminário São José (1997–1999) e, mais tarde, do Seminário Propedêutico Rainha dos Apóstolos (2016). Atuou como professor no Instituto Superior de Teologia e na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio (1998–2016), além de lecionar no Instituto Superior de Ciências Religiosas (2004–2005). Também foi responsável pela Pastoral da Educação (2009–2016) e diretor do Departamento de Ensino Religioso (2002–2016). Entre 2001 e 2016, coordenou o Movimento Comunhão e Libertação no âmbito diocesano e, de 2011 a 2016, foi pároco da Paróquia Bom Pastor, na Tijuca.

Bispo auxiliar
Como bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, Dom Paulo Romão exerceu, até então, importantes responsabilidades pastorais e acadêmicas. Atuou como vigário geral, bispo referencial do Setor Juventude, do Setor Universidade e do Vicariato Episcopal Norte. Além do trabalho pastoral, também se dedica à formação acadêmica, lecionando no Instituto Superior de Ciências Religiosas (ISCR), na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) e no Seminário Arquidiocesano de São José.

Evangelização da juventude
A experiência de Dom Paulo Romão com o movimento Comunhão e Libertação despertou nele uma profunda paixão por evangelizar a juventude. Seu ministério sacerdotal e episcopal foi dedicado à educação de universitários e fiéis leigos e, de maneira especial, à formação dos futuros padres da arquidiocese.
Como referencial do Setor Juventude na arquidiocese, ele participou e deu sua contribuição nas edições da Jornada Diocesana da Juventude (JDJ), celebrada no Domingo de Ramos, e do Dia Nacional da Juventude, em outubro. Além disso, representou a arquidiocese nas Jornadas Mundiais da Juventude realizadas no Panamá, em 2019, e em Portugal, em 2023.

Sinais que se entrelaçam
Dom Paulo Romão assumirá o pastoreio de uma diocese cujo brasão revela sinais que se entrelaçam com a sua própria vida e ministério. Saído do Paraná em busca de um sentido para a vida, ele agora retorna às suas origens para anunciar e testemunhar, conforme seu lema: “Vivere Christus est” (“viver é Cristo”), inspirado na expressão de São Paulo na Carta aos Filipenses (Fl 1,21).
No Rio de Janeiro, viveu e exerceu seu ministério entre o mar e as montanhas; agora, chega a uma diocese com características semelhantes, pronto para continuar lançando as redes em águas mais profundas.
Ao ser eleito, Dom Paulo colocou seu ministério sob a proteção de Maria, “Rainha do Céu e da Terra”; agora, será pastor de uma diocese cuja padroeira é a Senhora do Rosário, a “Estrela da Evangelização”.

Perfil do bispo
Nosso desejo é que Dom Paulo Romão, ao assumir sua missão, continue seguindo a vida espiritual, educacional e missionária que leva com muita seriedade, recordando características que o Papa Leão XIV pede ao bispo:
A um grupo de bispos italianos, no Vaticano, no dia 17 de junho, o Papa Leão XIV lembrou que, diante dos desafios contemporâneos, “o primeiro grande compromisso que deve nos motivar é levar Cristo ‘nas veias’ da humanidade, renovando e compartilhando a missão apostólica: ‘O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos’”.
Dias depois, no dia 25 de junho, aos bispos que estavam em peregrinação na Basílica de São Pedro, no Vaticano, o Santo Padre traçou os contornos do perfil desejado para os sucessores dos apóstolos em nossos tempos.
O Papa insistiu que o testemunho episcopal deve ser sustentado por uma vida ancorada em Deus e traduzido em atitudes visíveis no cotidiano do ministério. Destacou que “o bispo é o princípio visível de unidade na Igreja particular que lhe foi confiada”, e que cabe a ele zelar pela comunhão e pela valorização dos diversos dons no seio da Igreja.
Para o bom exercício do ministério episcopal, segundo o Papa Leão XIV, uma das virtudes é ter um estilo de vida simples, sóbrio e generoso, em que os pobres não se sintam excluídos. E completou: “Tenha um estilo simples, sóbrio, generoso, digno e, ao mesmo tempo, adequado às condições da maioria do seu povo. Os pobres devem encontrar nele um pai e um irmão, não devem sentir-se desconfortáveis ao encontrá-lo ou ao entrar em sua casa. Ele é pessoalmente desapegado das riquezas e não cede a favoritismos com base nelas ou noutras formas de poder.”

Gratidão
Agradecemos e louvamos a Deus por todo o bem que Dom Paulo semeou e construiu entre nós. Foi um irmão entre os irmãos, sempre solícito e dedicado, colaborando com generosidade no meu pastoreio. Vivemos um tempo de profunda unidade e fraternidade, tanto nos momentos de oração quanto na convivência e no trabalho. Em nossas reuniões de governo, ou mesmo nos encontros apenas com os bispos, suas palavras sempre buscaram abrir caminhos e construir pontes.
Além de seu empenho pela educação e evangelização da juventude, marcou presença constante nas comunidades, apoiando e incentivando nossos padres e animando com entusiasmo o povo de Deus. A Igreja no Rio de Janeiro tem muito a agradecer-lhe.
Desejamos que seu ministério na diocese a ele confiada por Deus, na pessoa do Papa Leão XIV, seja fecundo e conduza seus diocesanos a buscar, com todo o coração, Cristo, Senhor de nossas vidas e causa de nossa esperança, vivendo em família e na comunidade a verdadeira alegria do Evangelho.

 

Dom Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro

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