A Paróquia Santa Rita, no centro do Rio de Janeiro, será elevada à condição de santuário arquidiocesano, no dia 22 de março, sábado, às 11h, com missa presidida pelo arcebispo metropolitano, Cardeal Orani João Tempesta. A paróquia, uma das mais antigas da cidade, foi criada no dia 30 de janeiro de 1751. Já a devoção a Santa dos Impossíveis no Rio de Janeiro começou bem antes de sua canonização, em 1900. Para atender fiéis e devotos que vão à igreja para pedir a intercessão de Santa Rita, há várias missas diárias, atendimentos de confissões e sociais e evangelização.
Em entrevista ao jornal “Testemunho de Fé”, o pároco, padre Wagner Toledo, que também é vigário episcopal do Vicariato Urbano, destacou o motivo da constituição de santuário, como um sinal de esperança para os devotos peregrinos, cuja solicitação acontece dentro do Ano Santo do Jubileu da Esperança e das comemorações dos 275 anos da criação da paróquia.
Testemunho de Fé (TF) – Como surgiu a devoção por Santa Rita no Rio de Janeiro?
Padre Wagner Toledo – A devoção a querida Rita, da cidade de Cássia, na Itália, chegou ao Brasil através do casal Manuel Nascentes Pinto e Maria Antônia, fidalgos portugueses que atravessaram o Atlântico, trazendo um quadro, de pintura a óleo, da Beata Rita.
Não temos conhecimento do porquê dessa devoção, mas pela atitude, por tudo aquilo que eles enveredaram para trazer a imagem até aqui, faz pensar em algo grandioso na vida deles. Ao chegarem, eles começaram a propagar a devoção a Santa dos Impossíveis, na época beata, que ocorreu em 1627, 180 anos após a sua morte.
A partir de 1721, foi colocada a pedra fundamental para construir a igreja, lembrando que a cidade do Rio de Janeiro foi se formando entre quatro morros, e um deles é justamente o Morro da Conceição, onde está cravada a nossa igreja, no Centro.
Nessa época, há relatos de que a nobreza, os fidalgos, como aqueles que eram os nativos, como também os escravizados, se reuniam todos no mesmo local para celebrar a novena e a festa dessa santa tão querida, cuja imagem, na época, estava sob a guarda da Igreja da Candelária.
É bom recordar que Santa Rita só foi canonizada pelo Papa Leão XIII no dia 24 de maio de 1900, ou seja, 200 anos antes, ela já tinha devotos. É um belo sinal de devoção a uma beata num continente totalmente diferente de seu país de origem, e ainda se tornar padroeira titular de uma paróquia no Brasil, em 1751.
Com a contribuição de donativos de seus devotos, foi possível avançar na construção da igreja e no embelezamento do seu interior, em tempo recorde, como vemos hoje na Avenida Marechal Floriano, esquina com a Rua Miguel Couto. A igreja se torna paróquia, a Freguesia de Santa Rita, tornando-se uma das mais antigas da cidade do Rio de Janeiro, quando o Brasil ainda era colônia. Hoje, a igreja é uma joia do rococó da arte barroca, presente no coração da cidade, e Santa Rita, reconhecida padroeira de todo o Centro Histórico do Rio de Janeiro.
TF – Que função a paróquia tinha no passado em relação às obras de misericórdia?
Padre Wagner Toledo – A Igreja de Santa Rita, por estar situada na região portuária, próxima ao Cais do Valongo – redescoberto nos últimos anos –, onde de maneira clandestina entravam os escravizados no país, teve uma missão peculiar ao longo de muitos anos. Ela tinha sob seus cuidados, como obra de misericórdia corporal, a responsabilidade de sepultar com dignidade as pessoas que, na travessia do Atlântico, faleciam, por não resistir a força opressora dos castigos. Havia uma situação de insalubridade, muitas eram deixadas pelas ruas. Em frente à igreja temos um campo santo conhecido como Cemitério de Santa Rita dos Pretos Novos. Havia ainda a incumbência de celebrar missas num altar dedicado a São Miguel e Almas, e de dar o batismo aos que chegavam escravizados.
TF – Por estar instalada no centro da cidade, área praticamente comercial, como a paróquia consegue ser um espaço de acolhida, proximidade, formação e vivência da fé?
Padre Wagner Toledo – Foi uma grande surpresa quando, há 14 anos, nosso arcebispo, Dom Orani João Tempesta, me comunicou que eu estava sendo transferido para substituir o então pároco, hoje Dom Pedro Cunha Cruz, bispo da Diocese da Campanha (MG).
Foi uma emoção muito grande porque minha devoção era antiga. Ao longo do meu período de seminário, sempre tive no meu quarto uma imagem relativamente grande de Santa Rita e também imagens da Imaculada Conceição e São Jorge.
Quando assumi a paróquia, tinha uma ideia errônea, porque achava que as igrejas do centro da cidade eram tanto como que museus. Mas a vitalidade da Igreja de Santa Rita me encantou. É um verdadeiro pronto-socorro espiritual. Ali, diariamente, temos de seis a sete missas, atendendo a grande população da Região Metropolitana, que sai muito cedo de casa ou tem que retornar tarde, não encontrando mais suas igrejas abertas.
O povo sabe que na Igreja de Santa Rita vai encontrar um sacerdote celebrando missa a cada hora e atendendo confissões. Há os trabalhos de evangelização, desde a Iniciação à Vida Cristã, de crianças, jovens e adultos. Com os vulneráveis, antigamente, dávamos sepultura aos falecidos. Hoje, temos um trabalho social que atinge a 150 famílias cadastradas, com a distribuição de cestas básicas, acompanhada de assessoria jurídica, encaminhamentos hospitalares e orientações para assegurar direitos junto ao governo.
TF – O que hoje é feito para fortalecer a devoção por Santa Rita?
Padre Wagner – Na virada do milênio, tive a graça de ir até a Itália, na cidade de Cássia, para conhecer a Basílica de Santa Rita, que acolhe peregrinos do mundo inteiro, o ano todo. Foi uma emoção ficar diante do seu corpo incorrupto, que está num relicário de ouro, e verificar as maravilhas que acontece por lá, de como as pessoas são tocadas por Deus e têm seus corações e vidas transformadas.
É um local sagrado, onde podemos sentir a presença da espiritualidade de Santa Rita, de sua fé viva, e da beleza de sua entrega plena a Deus. Quem se entrega a Deus não fica confundido e desamparado, pelo contrário, está sempre agraciado pelas bênçãos divinas.
Ao retornar, procurei incentivar a devoção à nossa querida santa no coração do centro da cidade do Rio de Janeiro. No dia 22 de cada mês, durante todo o ano, procuramos promover um dia de devoção, semelhante ao dia da festa, que ocorre no dia 22 de maio, com missas de hora em hora, a missa dos devotos, bênção das rosas e dos objetos.
Acolhemos o povo da cidade e de regiões vizinhas que chegam até a nossa igreja para celebrar Santa Rita. Sempre dentro da dinâmica da nossa liturgia que é entender a vida de Santa Rita no mistério da Páscoa de Cristo, como servidora e seguidora de Cristo, uma verdadeira peregrina de esperança.
TF – Porque a iniciativa de pedir para que a paróquia se tornasse um santuário?
Padre Wagner Toledo – Existe já um apelo natural e popular, um número de pessoas que acorrem diariamente à igreja para rezar, celebrar as graças alcançadas e testemunhar a intervenção miraculosa de Santa Rita.
A Santa Missa que celebramos, que a própria Rádio Catedral transmite diariamente às sete horas da manhã, tem uma grande audiência. O povo acompanha e nos escreve falando da alegria e das graças que alcançou através da oração com Santa Rita. É um conjunto de fatos que faz com que, merecidamente, esse espaço sagrado seja reconhecido como um santuário natural que, a partir de sua igreja no centro do Rio de Janeiro, difundiu a devoção para o país e as Américas.
Carlos Moioli