O palestrante convidado da reunião de outubro, realizada no dia 22 de outubro, foi Almir Marcelo, médico psiquiatra, auditor do serviço de auditoria do Centro de Perícias Médicas da Marinha do Brasil, que trouxe reflexão sobre os modelos mais frequentes de relações humanas.
O médico explicou que a família é o primeiro padrão de relacionamentos que adquirimos, ao longo da primeira infância, e será referência para os demais, que serão construídos ao longo da nossa vida, existindo uma hierarquia entre eles.
Nesse primeiro modelo, o médico Almir Marcelo salientou que “vivenciamos as relações de obrigação e responsabilidade, nas quais pais e filhos interagem de forma vertical, havendo uma inversão relativa desta relação quando os pais se tornam idosos, perdem a autonomia e passam a depender dos cuidados dos filhos. Importante observar que, nesta fase, a perda de um irmão é mais contundente que a perda dos pais, por ser alguém que é testemunha de nossa história”.
O segundo modelo, continuou o médico Almir Marcelo, “é a relação de pertencimento, na qual encontramos identificação em determinados grupos sociais, como um público num show, grupos que torcem pelo mesmo clube ou pessoas que partilham o mesmo interesse. Essas relações são transitórias, mas podem se estender ao longo do tempo, dependendo do grau de afinidade”.
Segundo o palestrante, “nas relações utilitárias ou funcionais, os vínculos são dinâmicos e temporais, estabelecidos de forma pontual e objetiva, por serem formulados com o objetivo de alcançar algo definido. Podem ocorrer com prestadores de serviços frequentes, como atendentes de um mercado local, ou no ambiente de trabalho, quando compartilhamos de um projeto específico”.
O médico Almir Marcelo acrescentou que o “outro formato de relação é a sincrônica ou compassiva, que acontece, por exemplo, quando encontramos alguém para dar suporte numa situação de sofrimento. Independentemente do tempo que dure, essa é uma relação que pode impactar por tempo indeterminado, por se estabelecer num momento de sofrimento”.
O palestrante observou que essas relações são dinâmicas e transitam de um modelo para outro, conforme as situações vivenciadas. Por exemplo, num determinado momento a relação de proteção e responsabilidade pode ser vivenciada pelo olhar do modelo utilitário. Ela pode acontecer quando um filho procura o pai ou a mãe e pede para comprar algo que não é uma necessidade básica, mas a realização de um desejo pontual, necessitando naquele momento somente de um recurso financeiro.
O médico explicou que, de modo geral, podemos dizer que o sofrimento é uma oportunidade para o crescimento pessoal. Embora o enfrentamento do desconhecido nos traga um sentimento de impotência, é o sofrimento causado pelo medo que pode nos proporcionar este crescimento.
Dr. Almir pontuou que nos indivíduos bipolares e/ou borderline há uma dificuldade de se identificar qual é o driver do comportamento: se é provocado pela doença ou pelo caráter da pessoa. “Há uma necessidade humana de categorizar os comportamentos, com o viés do julgamento que, via de regra, revela mais de quem julga do que de quem é julgado”, elucidou o médico. Assim, conclui que o juízo de valor coloca em risco o equilíbrio da relação.
Ao apresentar a Geometria das Relações, o psiquiatra utilizou a imagem de círculos para caracterizar os modelos mais comuns de interação das pessoas. Os círculos disjuntos simbolizam relações sem interação, nas quais os indivíduos não possuem um ponto comum de interesse. Os círculos tangentes representam aquelas pessoas que encontram algo que as une em alguma atividade ou situação. Geralmente, os relacionamentos abusivos ou tóxicos são representados por círculos sobrepostos, nos quais uma personalidade se sobrepõe a outra, sufocando ou anulando o outro indivíduo. Por fim, os círculos secantes mostram duas pessoas que partilham áreas comuns, mantendo suas individualidades e conduzindo uma relação em harmonia e equilíbrio.
“Algumas pessoas deixam um gostinho de ‘quero mais’ e outras pessoas deixam um gostinho de ‘não aguento mais’!” – pontua o psiquiatra, se referindo à diferença entre um relacionamento saudável e os relacionamentos tóxicos.
Almir explicou que o distanciamento entre o Eu Real e o Eu Imaginário (Ideal) gera a frustração, lembrando que nem sempre estamos preparados para lidar com a frustração em todos os nossos papéis sociais.
Finalizando sua palestra, o médico apresentou perguntas vivenciais para uma reflexão:
- Você poderia dizer que você é seu melhor amigo?
- Você faria amizade com você, se você não fosse você mesmo?
- Você tem gostinho de “quero mais” ou gostinho de “não aguento mais”?
- Quais são realmente as suas prioridades?
- Estabelecer relações saudáveis, com você e/ou com as outras pessoas, hoje é uma prioridade na sua vida?
- Você celebra a sua vida?
- Você somente celebra a sua vida uma vez por ano? Por obrigação?
- Quando você celebra a sua vida? Como você celebra a sua vida?
- Você celebra os relacionamentos que já teve na sua vida?
- Você celebra os relacionamentos que têm hoje?
Ao final do encontro, Almir Marcelo recebeu das mãos de Sônia Nascimento, coordenadora do Grupo Plural de Psicólogos (GPP), o certificado de participação na reunião, que é entregue aos palestrantes convidados.
A reunião do GPP foi encerrada com a tradicional confraternização, comemorando também os aniversariantes do mês de outubro. A Dra. Sônia Nascimento, que nasceu no dia 18 de outubro (Dia de São Lucas e Dia do Médico), recebeu das mãos dos demais integrantes um lindo buquê de flores em comemoração ao seu aniversário.
O Grupo Plural de Psicólogos se reúne na última terça-feira do mês, às 15h, na sede da Mitra, localizada na Rua Benjamin Constant, 23, na Glória, no Rio de Janeiro. Se você é psicólogo ou estudante de Psicologia e deseja fazer parte do GPP, está convidado para participar das reuniões.
Você também pode conferir as fotos e registros desta e de outras reuniões no Instagram do GPP: @psicologosarqrio e também no Facebook.
Luis Paulo Dias, psicólogo