Redentor! Os braços abertos abraçam a cidade aos seus pés!

Lembrança do discurso do Papa João Paulo II aos pés da estátua do Cristo Redentor no morro do Corcovado, por ocasião de sua viagem apostólica ao Brasil, de 30 de junho a 12 de julho de 1980.

Rio de Janeiro, 2 de julho de 1980

“Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

  1. Cristo! De que outro lugar, no Brasil e fora dele, fazer ecoar este nome – o único que nos pode salvar (cf. At 4,12) – e que tem um particular direito de cidadania na história do homem e da Humanidade (“Redemptor Hominis”, n. 10) melhor do que do alto deste imenso penhasco feito altar, entre maravilhas naturais, criadas por Ele, o Verbo de Deus (cf. Jo 1,3), bem no coração do Rio de Janeiro. Aqui a estátua que, há precisamente 50 anos, todo um povo quis erguer no cimo do pedestal natural se fez a um tempo símbolo, apelo e convite.

Redentor! Os braços abertos abraçam a cidade aos seus pés! Feita de luz e cor e, ao mesmo tempo, de sombras e escuridão, a cidade é vida e alegria, mas também uma teia de aflições e sofrimentos, de violência e desamor, de ódio, de mal e de pecado. Radiosa a luz do sol, silhueta luminosa suspensa no ar à noite, o Redentor, em pregação muda, mas eloquente, aqui continua a proclamar que “Deus é luz”(1Jo 1,7), “é amor” (1Jo 1,7). Um amor maior do que o pecado, do que a fraqueza e do que a “caducidade do que foi criado” (cf. Rm 8, 20), mais forte do que a morte (“Redemptor Hominis”, n. 9).

  1. Sim, no cume destes montes não há quem não possa contemplar a sua imagem, em atitude de acolher e abraçar, e imaginá-Lo como é, sempre disposto ao encontro com o homem, desejoso de que o homem venha ao seu encontro. Ora, esta é a única finalidade que a Igreja – e com ela o Papa neste momento – tem diante dos olhos e no coração: que cada homem possa encontrar Cristo, a fim de que Cristo possa percorrer com cada homem os caminhos da vida (“Redemptor Hominis”, n. 13).

Símbolo do amor, apelo à reconciliação e convite à fraternidade, o Cristo Redentor aqui proclama continuamente a força da verdade sobre o homem e sobre o mundo, da verdade contida no mistério da sua Encarnação e Redenção (cf. Ibid, n. 13).

Nesta hora, iluminados pelo olhar de Cristo, os olhos do Papa se dirigem a cada habitante desta metrópole, e a voz do Papa, simples eco e ressonância da voz de Cristo, quereria falar, de coração a coração, com todos e cada um: quereria, como uma breve visita, chegar a cada lar e também junto àqueles que não o possuem; aos locais de encontro e aos locais de trabalho, aonde há alegria, mas também aonde há dor, especialmente aonde se sofre e pena: hospitais, penitenciárias, ruas dos sem-teto, sem-pão e sem-amor…

  1. Com esta breve visita, o Papa com Cristo, gostaria de confortar, infundir esperança e animar a todos, sem esquecer ninguém: crianças, jovens, pais e mães de família, anciãos, doentes, detentos, desalentados e angustiados. Para todos desejaria ser portador de confiança, de amor e de paz. É esse o sentido e a intenção da bênção sobre a cidade e sobre todos os seus habitantes, que darei a seguir, em nome de Cristo Redentor, Redentor do homem na plenitude da verdade.

Antes, porém, para confirmar uma amizade, melhor, para afirmar uma fraternidade – porque Deus cuida paternalmente de todos e quer que os homens constituam todos uma só família inumana – convidaria a rezarmos juntos a oração que Cristo Redentor nos ensinou. Dirijo este convite a todos, onde quer que estejam: na rua, no lar, no automóvel, no local de trabalho ou de encontro, no hospital, no presídio… A toda a cidade convido a rezar comigo:

Pai nosso, que estais no céu, / santificado seja o vosso nome; / venha a nos o vosso reino; / seja feita a vossa vontade / assim na terra como no céu. / O pão nosso de cada dia nos dai hoje; / perdoai-nos as nossas ofensas, / assim como nós perdoamos / a quem nos tem ofendido; / e não nos deixeis cair em tentação; / mas livrai-nos do mal. / Amém!

E que este momento de encontro e de encantamento perdure em nossos corações e em nossa memória, e se torne para todos fonte de paz e de graça: ricos e pobres, fracos e poderosos e, de modo especial, para os “mais pequeninos”, que sofrem no corpo ou na alma. Com o valioso auxílio da Mãe de nossa confiança, Nossa Senhora Aparecida.”

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