Santa Dulce dos Pobres

Celebramos no dia 13 de agosto a memória litúrgica de Santa Dulce dos Pobres, o Anjo Bom da Bahia. Uma santa genuinamente brasileira que nasceu, cresceu e morreu aqui. É considerada o Anjo Bom da Bahia, por todo o bem que fez aqui, sobretudo no cuidado com os mais pobres, e em especial pelo testemunho de vida.

Por vezes incompreendida em sua missão, até mesmo por membros de sua congregação religiosa e da hierarquia da Igreja da época. Ela foi ameaçada várias vezes a deixar a congregação ou ser enviada para longe. Mas, mesmo assim ela confrontou e seguia adiante na missão de ajudar os mais pobres. A sua canonização gerou uma grande comoção nacional e mundial.

Santa Dulce, no século, Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, nasceu em 26 de maio de 1914, em um tempo difícil para a Humanidade, pois estava em meio à Primeira Guerra Mundial. Filha de Augusto Lopes Pontes e Dulce Maria de Souza Brito Lopes. Santa Dulce nasceu em uma família bem humilde, por isso mesmo ela tomou a atitude de ter um olhar diferente para os mais pobres, pois, além de ser um mandato de Jesus, ela viveu na pele a pobreza.

Santa Dulce foi batizada com o nome de Maria Rita, ela escolheu o nome de Dulce devido à profissão religiosa. Ela ficou órfã de mãe com apenas 6 anos de idade. Com 16 anos de idade já manifestava dentro de si o desejo de servir os mais pobres. No porão de casa acolhia crianças, adultos e idosos pobres e cuidava deles. Conseguia ajuda de outros membros da família, vizinhos e amigos para suprir a necessidade desses irmãos que precisavam.

Desde pequena era bem religiosa e tinha uma intimidade com Jesus através da oração, e nutria no coração o desejo se consagrar inteiramente a Deus, como religiosa. Durante os momentos de oração, ela pedia um sinal a Deus sobre a sua vocação. Ela pensava que o melhor modo de agradar a Deus era servindo aos mais pobres, isso foi confirmado para ela em suas orações pessoais.

Primeiro Santa Dulce ingressou na Ordem terceira Franciscana, mais tarde conheceu o superior provincial dos Missionários da Imaculada Conceição. Logo que se formou no mestrado que cursava, em 8 de fevereiro de 1933, ingressou nessa congregação, que faz parte da grande família franciscana. Em 15 de agosto de 1934, fez os votos religiosos e adotou o nome de Dulce, em memória de sua mãe.

Em 1935, fundou o primeiro movimento operário cristão em São Salvador, o Sindicato Operário de São Francisco; em 1937, fundou o Clube dos Trabalhadores da Bahia; em 1939, inaugurou o Colégio Santo Antônio, escola pública para trabalhadores e filhos de trabalhadores, no bairro de Massaranduba, em São Salvador. No mesmo ano, iniciou-se a acolhida aos doentes em prédios abandonados da cidade. Em 1949, com a permissão da superiora, pôde acolher 70 enfermos em um abrigo adaptado do galinheiro adjacente à casa da sua congregação.

Ela foi muito criticada por essa atitude, inclusive pela madre superiora do convento. Santa Dulce muitas vezes saía à noite para visitar os doentes e pobres e isso quase causou a sua expulsão do convento. A madre superiora chamou Irmã Dulce e o arcebispo primaz dizendo que se ela não parasse com essas atitudes, teria que deixar a ordem religiosa. Mas, a insistência de Irmã Dulce em continuar com a missão gerou resultados e suas preces foram atendidas por Deus.

Em 1960, foi inaugurado o Asilo Social Suor Dulce, com um estatuto que abarcava todas as suas fundações e enfatizava seu caráter exclusivamente cristão e humanitário. Em julho de 1979, o Cardeal Arcebispo Primaz, Dom Avelar Brandão Vilela, convidou Santa Teresa de Calcutá para abrir uma casa em Salvador, na comunidade de Alagados, e ela teve um encontro com Irmã Dulce. Um ano depois, houve outro encontro importante com o Papa São João Paulo II, quando ele esteve no Brasil. Em 8 de fevereiro de 1983, foi inaugurado o novo Hospital Santo Antônio, considerado pelos baianos como mais um milagre da Irmã Dulce.

Anos mais tarde, por volta do ano de 1990, foi a Irmã Dulce que ficou doente, sofrendo de problemas respiratórios que a levaram à morte. Ela deixou grandes lições para nós e para aqueles que admiravam o seu trabalho e que foram beneficiados por ele. Uma das grandes lições que Irmã Dulce deixou é sempre persistir naquilo que quer e nunca desistir, pois Deus sempre escuta as nossas preces. Um outro legado que ela deixa é cuidar sempre dos mais pobres e servi-los com amor.

Outro fato importante ocorreu em 1991 quando o Papa São João Paulo II quis vir ao Brasil e conhecer as obras de Irmã Dulce. O Cardeal Dom Lucas Moreira Neves contou que o Santo Padre disse várias vezes: “Este é o sofrimento dos inocentes, igual ao de Jesus”. Ela enfrentou todo o seu sofrimento  abandonando-o nos braços do Senhor.

Santa Dulce morreu no dia 13 de março de 1992 em sua casa, no convento Santo Antônio. Uma grande comoção tomou conta da cidade, do país e do mundo. Muitos dos que foram beneficiados por ela foram ao seu velório e sepultamento e já a declaravam santa, devido ao grande amor que tinha por eles.

Sua beatificação aconteceu em 22 de maio de 2011. A celebração reuniu mais de 70 mil fiéis para a celebração, anunciando a primeira beata nascida na Bahia. Santa Dulce passou a ser conhecida como “Bem-Aventurada Dulce dos Pobres”, tendo o dia 13 de agosto como data oficial de sua celebração litúrgica.

No dia 13 de outubro de 2019, em missa presidida pelo Papa Francisco, no Vaticano, Irmã Dulce foi declarada santa, recebendo o título de “Santa Dulce dos Pobres”.

Celebremos com alegria a memória litúrgica de Santa Dulce dos Pobres, pedindo a Deus, que a exemplo de Santa Dulce, tenhamos carinho pelos mais pobres e fragilizados da nossa sociedade, e ainda confiemos sempre em Deus, pedindo que Ele atenda as nossas preces. Amém.

Segue abaixo a oração que podemos fazer pedindo a intercessão de Santa Dulce dos Pobres: “Ó mãe dos pobres, cuidai do povo brasileiro e olhai com mais atenção aos excluídos, assim como fizestes em toda a tua vida. Do mesmo modo, ensina-nos a viver sem indiferença para estes pequeninos. Por Cristo Nosso Senhor. Amém!”

Santa Dulce dos Pobres, rogai por nós!

 

Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

 

 

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